Em um novo e detalhado relatório técnico, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) alertou, pela primeira vez, para a “perda do controle hidráulico” no Brasil, o que indica uma séria preocupação com o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas no país. O risco, aponta o ONS, é de usinas serem paralisadas, impondo sérias restrições ao fornecimento de energia. De acordo com o relatório, oito barragens da Bacia do Rio Paraná, que concentra a maior parte da geração de energia hidrelétrica no país, chegarão ao fim do período seco, em novembro, praticamente sem água.
O documento do ONS foi encaminhado ao Ministério de Minas e Energia e à Agência Nacional de Águas (ANA). O ONS quer a limitação do uso da água para outros fins, como irrigação e navegação, para guardar água nos reservatórios e evitar problemas de abastecimento de energia. As oito usinas em situação crítica são Furnas, Nova Ponte, Itumbiara, Emborcação, São Simão, Mascarenhas de Moraes, Água Vermelha e Marimbondo. As três últimas podem terminar o período seco com menos de 2% da capacidade. O quadro torna real a possibilidade de blecautes se nada for feito.
O conjunto de reservatórios das usinas na bacia do Rio Paraná, que engloba as bacias dos rios Paranaíba, Grande, Tietê e Paranapanema, “corresponde a 76% da capacidade máxima de armazenamento do Subsistema Sudeste/Centro-Oeste e um pouco mais da metade (53%) da capacidade de armazenamento de todo o SIN (Sistema Interligado Nacional)”, indica o ONS. “Em novembro, haverá praticamente esgotamento de todos os recursos, sendo necessário o uso da reserva operativa a fim de evitar déficit de potência”, reforça o Operador.
Planejamento
Apesar do quadro grave traçado pelo ONS, especialistas do setor indicam que, em 2021, a possibilidade de falta de luz ou apagões eventuais seria reduzida, porque já foram acionadas as usinas termelétricas para complementar a carga do sistema. O que deve acontecer, com certeza, é um aumento do valor das faturas de energia elétrica. Mas em 2022, se o Brasil voltar a crescer, o problema pode se agravar. “O risco de crise hídrica não é novidade. Há mais de cinco anos, os reservatórios vêm se esvaziando. Faltou, na verdade, planejamento, porque o consumo brasileiro cresce diferentemente dos países desenvolvidos”, afirmou Roberto Pereira d’Araújo, da RCM Consultoria.
Ele disse que não se investiu nem em hidrelétricas nem nas energias chamadas intermitentes. “As energias eólica e solar poderiam ser usadas nos períodos de sol e de vento e impedir que os reservatórios de água se esvaziassem”, disse d´Araújo. Alexei Vivan, diretor-presidente da Associação Brasileiras de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), assinalou que, embora em média os reservatórios estejam com 29% a 32% de suas capacidades, “não há risco de racionamento”.
“Em 2021, a situação é delicada. Vai exigir medidas por parte das agências regulatórias. É claro que o risco de instabilidade do sistema, nos horários de pico, aumenta diante da estiagem. Mas isso não será frequente, se o consumidor fizer um uso eficiente da energia. Por outro lado, a geração baixa e o consumo alto podem, em 2022, se houver retomada da atividade econômica, exigir que os planejamentos sejam repensados”, disse.
Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), ressalta que, “até o momento, com base nas informações disponíveis, não há risco de apagões ou de racionamento”.
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