Desigualdade

Entenda por que a recuperação do PIB não beneficia igualmente toda a população

Pessoas com menor grau de escolaridade foram as mais atingidas pela pandemia e são as que mais devem demorar para sair da crise

Rosana Hessel
postado em 07/06/2021 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

O economista Pedro Fernando Nery, consultor de economia do Congresso Nacional, alerta que, "de uma forma inédita, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer bastante este ano, em parte, pela mera recuperação ao nível da pré-pandemia”. No entanto, com o PIB, "também haverá o crescimento da extrema pobreza e do desemprego, porque, sem o auxílio emergencial de R$ 600, mais pessoas vão sair à procura de emprego”.

Nery destaca, ainda, que, da forma como é medido, o crescimento do PIB esconde parte das desigualdades existentes no país. “O PIB não é uma média simples da evolução da renda de todo mundo, é uma média ponderada pelo peso da renda de cada um. Se os mais pobres vão mal, o PIB pode não sentir, porque a variação de nada é nada. Se os ricos vão bem, o PIB é mais afetado”, explica.

Um dos aspectos do agravamento da desigualdade apontados pelos analistas é que os mais ricos e com mais instrução são os menos afetados nessa crise, pois conseguem trabalhar em casa. Já os mais pobres e com pouca escolaridade se enquadram nas categorias que precisam se expor mais ao vírus, diariamente, seja no transporte coletivo, seja no comparecimento presencial dos locais de trabalho.

Taxa de desemprego
Taxa de desemprego (foto: CB)

Estudo divulgado no fim de maio pelo Instituto Pólis mostra que grande parte das vítimas fatais de covid-19 em São Paulo, entre março de 2020 e março de 2021, foi composta por profissionais que não concluíram a educação básica e continuaram trabalhando durante a crise sanitária, como pedreiros, empregadas domésticas e motoristas de carros de aplicativo.

Segundo o levantamento, das 30.796 mortes por covid-19 em São Paulo durante o período pesquisado, 23.628 (76,7%) foram de pessoas que não completaram o ciclo de educação básica, ou seja, tinham 11 anos ou menos de estudo.

José Ronaldo de Castro Souza Jr., diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), reconhece a desigualdade entre as diferentes classes sociais no processo de retomada econômica, e destaca que a renda dos mais pobres é a mais afetada pela inflação.

Home office

“Quem está no home office é quem tem mais escolaridade e é trabalhador formal. E, como os estudos do Ipea vem mostrando, o impacto dessa inflação crescente é maior sobre a renda dos mais pobres. A expectativa é de que essa pressão diminua na segunda metade do ano em relação ao patamar atual, mas sem dúvida, a inflação continuará elevada”, destaca.

Segundo ele, a previsão do Ipea é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses, chegue a 5,30% em dezembro. “A tendência da inflação é de desaceleração, mas, no ano, ainda ficará acima do desejável”, lamenta Souza Jr.

O diretor do Ipea destaca, ainda, que o aumento do desemprego em 2020 foi muito grande, mas não apareceu nas estatísticas justamente por conta do auxílio emergencial. “Como o benefício foi superior à renda média de muitos beneficiados, muitos brasileiros acabaram não procurando emprego naquele período e optaram por ficar em casa. Todavia, com a redução do auxílio, o desemprego no primeiro trimestre do ano bateu recorde. Agora, enquanto começa a retomada da economia, a taxa de desemprego tende a aumentar”, alerta.

Algumas estimativas do mercado preveem que o desemprego pode chegar ao pico de 18% nos próximos meses, devendo cair conforme a vacinação permitir a reabertura do setor de serviços, o mais afetado pela pandemia.


76,7%

das pessoas que morreram devido à covid-19 em São Paulo, entre março de 2020 e março de 2021 não completaram o ciclo de educação básica

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