A inflação não é um problema só brasileiro. Nos Estados Unidos, a alta dos preços tem mostrado mais força do que o esperado pelo mercado, embalada pela recuperação da atividade econômica que está sendo turbinada pelos estímulos fiscais do governo do presidente norte-americano, Joe Biden. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA registrou alta de 0,6% em maio em relação a abril, conforme os dados divulgados ontem pelo centro de estatísticas da maior economia do planeta, o Bureau of Labor Statistics. No acumulado em 12 meses, a inflação subiu 5%, a maior alta desde agosto de 2008.
O resultado ficou acima das previsões do mercado, de 0,4%, na comparação com abril, e de 4,7% no acumulado em 12 meses até maio. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, registrou elevação de 0,7% na comparação com abril e de 3,8% no acumulado em 12 meses. É o maior crescimento para o período desde junho de 1992.
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), lembrou que a inflação é global. “Está todo mundo sofrendo com a alta dos preços das commodities, que é resultado do reaquecimento da economia global, principalmente com Estados Unidos e China crescendo mais rápido após a crise de 2020. Isso tem afetado os preços não apenas ao consumidor, mas também ao produtor. Logo, a inflação não é uma jabuticaba brasileira”, explicou Braz.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na quarta-feira (9), alta de 0,83% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio na comparação com abril, o maior percentual para o mês desde 1996, quando subiu 1,22%. Como o dado superou as estimativas, Braz elevou de 5,8% para 6,3% a previsão para o IPCA em 12 meses no fim de dezembro.
A inflação mais alta nos Estados Unidos pode pressionar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a antecipar mudanças na política monetária e subir juros. Isso poderá afetar as bolsas e os mercados emergentes, incluindo o Brasil, que perderiam o fluxo do excesso de liquidez.
Para o head de estratégia do Bradesco BBI, André Carvalho, a partir de julho, o Fed vai começar a discutir o momento ideal para começar o tapering (enxugamento da liquidez no mercado), o que, para ele, deverá acontecer no fim do ano. “No nosso cenário base, em 2022, o Fed já começa a aumentar os juros”, disse.
Apesar dos dados ruins do CPI, as bolsas norte-americanas operaram em alta, porque o mercado tentou minimizar o resultado. De acordo com Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, os pedidos de seguro-desemprego ficaram próximos das estimativas do mercado e ajudaram a evitar uma queda.
“Enquanto o mercado de trabalho não reagir, o discurso do Fed de que a inflação é temporária cola”, comentou Leal. “O mercado ainda está comprando a ideia do Fomc sobre a alta temporária de preços”, reforçou José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Conforme informações do Departamento do Trabalho americano, o número de pedidos de seguro-desemprego somou 376 mil na semana passada.
Saiba Mais
Prévia do IGP-M sobe 1,24%
O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) subiu 1,24% na primeira prévia de junho, em relação ao mesmo período de maio, quando o indicador tinha avançado 2,68%, conforme dados divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Com esse resultado, a taxa em 12 meses do índice, que é utilizado na correção dos contratos de aluguel, passou de 35,18% para 36,61%. A desaceleração do mês foi puxada pela queda na alta dos preços do minério de ferro, que passou de 11,60% para 1,90%, no período. A commodity respondeu por 45% do resultado do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) em maio.
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