O ministro da Economia, Paulo Guedes, causou polêmica ao afirmar que o brasileiro “enche o prato” e deixa “uma sobra enorme” de comida nas refeições. A declaração foi durante debate promovido pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), no qual o ministro tratava sobre rastreabilidade, sanidade e desperdício de alimentos nas cadeias de produção e distribuição.
“O prato de um (cidadão de) classe média europeu, que já enfrentou duas guerras mundiais, é relativamente pequeno e, aqui, nós fazemos almoço e deixamos uma sobra enorme”, afirmou Guedes.
Para o ministro, essa “cultura” do desperdício alimentar no país também está na produção e transporte dos alimentos e na distribuição nos supermercados. Guedes também citou os restaurantes que, segundo ele, fazem “almoço” além do necessário, o que resulta na “refeição em excesso” do consumidor de classe média.
“Todo alimento não utilizado pode alimentar pessoas fragilizadas, mendigos, desamparados... É muito melhor do que deixar estragar essa comida toda”, disse.
Não é a primeira vez que Paulo Guedes polemiza com suas declarações. Em abril, o ministro chegou a reclamar do aumento da expectativa de vida do brasileiro ao explicar que não há recursos suficientes para aposentadorias. “Todo mundo quer viver 100 anos”, disse, na época.
Para o economista Joilson Cabral, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), com o aumento da pobreza na pandemia, a proposta de Guedes é, além de ilógica, ineficiente. “Não é uma fala verdadeira, do ponto de vista econômico. O ministro está propondo uma espécie de “cata-xepa”, para que os mais pobres lidem com os “restos”, analisa.
De acordo com Cabral, o governo deveria investir em políticas para reduzir o preço dos alimentos. “É preciso um estoque regulador, além da redução de tributos, principalmente sob a cesta básica”, explicou.
Estudo de pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB) apontou que seis em cada 10 lares brasileiros vivem algum grau de insegurança alimentar. Isso representa um total de 125,6 milhões de pessoas. Já em situação de fome, são 19 milhões de pessoas, das quais 6,7 milhões são crianças.
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