PANDEMIA

Copom volta a indicar outro ajuste de 0,75 ponto porcentual da Selic em agosto

Ata já havia anunciado a elevação dos juros para 4,25% ao ano na semana passada

Vera Batista
postado em 22/06/2021 13:13 / atualizado em 22/06/2021 13:14
 (crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)
(crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)

O Comitê de Política Monetária (Copom), considerando o cenário básico da economia brasileira e o risco maior para a inflação, decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 4,25% ao ano. Para a próxima reunião, em agosto, prevê a continuação do processo de normalização monetária com outro de 0,75 ponto percentual. Mas avisa que está de olho nas pressões inflacionárias e se o custo de vida se elevar, pode exigir ajustes mais duros, ou “uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários, a depender da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e de como esses fatores afetam as projeções de inflação”.

De acordo com o Comitê, a decisão de elevar, no momento, os juros “é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.

O BC destacou que, pelas informações até o momento, é “apropriada a normalização da taxa de juros para patamar considerado neutro”, ajuste é necessário para mitigar a disseminação dos atuais choques temporários sobre a inflação. E enfatiza que não há compromisso com as decisões sobre o futuro tomadas agora. Elas poderão ser ajustadas para assegurar o cumprimento da meta de inflação.

Pressão inflacionária

O Copom informou que a persistência da pressão inflacionária foi maior que o esperado, principalmente entre os bens industriais. E também a lentidão da normalização nas condições de oferta, a resiliência da demanda e implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do real. “O Comitê segue atento à evolução desses choques e seus potenciais efeitos secundários, assim como ao comportamento dos preços de serviços conforme os efeitos da vacinação sobre a economia se tornam mais significativos”.

No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de US$ 5,052, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom estão em torno de 5,8% para 2021 e 3,5% para 2022. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 6,25% ao ano, destaca, neste ano, e para 6,50% ao ano, em 2022. “Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,7% para 2021 e 5,1% para 2022. Adota-se uma hipótese neutra para a bandeira tarifária de energia elétrica, que se mantém em “vermelha patamar 1” em dezembro de cada ano-calendário”, reforça a autoridade monetária.

Riscos para a inflação

O cenário básico do Copom para a inflação envolve fatores de risco em duas direções. Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico. Por outro, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país.

“Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, assinala o BC.

Para Rachel Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, se o BC for bem-sucedido na tarefa de controlar a inflação (especialmente no ano que vem, já que a política monetária demora um tempo para fazer efeito na economia real), é um movimento positivo: economia voltando ao normal, crescimento saudável da inflação e do crédito, sem necessidade de impulsos adicionais.

Diante das decisões do Copom, ela destaca que “o investidor deve esperar a intensificação dos impactos vistos na semana passada, especialmente na renda fixa (redução da inclinação da curva de juros — maiores taxas de curto prazo, menores de longo prazo), e no câmbio — reforçando tendência de apreciação do real”.

Segundo André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimento, com todos os fatores de risco da economia, o BC não terá outra opção a não ser elevar a Selic “mais rapidamente para seu patamar neutro”. Mas vai a decisão futura vai depender das alterações da inflação, principalmente dos serviços, e como as expectativas vão se comportar.

No entanto, esses fatores, diz ele, tendem a piorar nas próximas semana, tendo em vista a recente alta da energia elétrica. Segundo Perfeito, a ata do Copom veio “sem grandes novidades”. “Mantemos a leitura que a autoridade monetária irá subir em 100 pontos base na próxima reunião e o que justifica isso são os motivos apresentados no próprio documento”, assinala.

 

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