CONJUNTURA

Dívida das famílias é recorde

Endividamento total dos brasileiros chega a 58% da massa salarial em março. Segundo o Banco Central, não há motivo para preocupação, mas analista adverte que, com o processo de aumento das taxas de juros, o quadro tende a piorar

Rosana Hessel
postado em 28/06/2021 23:31
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

O endividamento total das famílias brasileiras bateu novo recorde, chegando a 58% da massa salarial em março, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central. Em fevereiro, a taxa estava em 57,5%. Descontando os financiamentos imobiliários, o percentual passa para 35,7%, acima dos 35,4% contabilizados um mês antes. Os dados do BC mostram que o comprometimento da renda ficou estável em 30,5%, na comparação com fevereiro. Os cálculos foram feitos com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), por isso, foram divulgados com defasagem.

“O endividamento permanece na trajetória de crescimento com base nos rendimentos referentes a março. Esse aumento é consistente e causado pelo crescimento do crédito para as pessoas físicas”, afirmou o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha.

Ele destacou que, em maio, de acordo com os dados mais recentes do BC, houve queda no agregado das taxas de juros, mas alertou para a volta de crescimento dos custos dos empréstimos nos próximos meses devido à continuidade das altas na taxa básica da economia (Selic), que foi sinalizada na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom).

Rocha buscou minimizar o nível elevado de endividamento das famílias. Segundo ele, isso não quer dizer que quase 60% da renda anual de todas as famílias esteja comprometida. “O crédito total está crescendo, mas, considerando todos os fatores, ainda não se tem uma maior preocupação com esse indicador individualmente”, disse.

Em março, a massa salarial das famílias encolheu R$ 15,2 bilhões na comparação com o mesmo mês de 2020, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Isso faz parte das idas e vindas de uma recuperação econômica que tem um sentido claro, mas nem todos os fatores econômicos caminham nesse mesmo sentido. Isso não é uma tendência. Espera-se melhoria nesse número”, acrescentou.

Na avaliação do economista Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a nova taxa recorde de endividamento não pode ser desconsiderada. “A taxa de endividamento é extremamente elevada. E o quadro para a frente é de muita dificuldade para as famílias, com desemprego crescendo e queda na renda por conta da inflação mais forte”, alertou.

O economista reconheceu que a inadimplência é baixa, principalmente, porque os bancos estão negociando o quanto podem com os clientes, esticando prazos. “Muitos empréstimos foram renegociados ou pausados para evitar aumento da inadimplência. Mas, em algum momento, pessoas ou empresas vão ter que começar a pagar a dívida. A inadimplência, hoje, é baixa, mas tende a subir.”

 

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