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Uso indiscriminado de agrotóxicos afeta produção de mel no DF

Vice-presidente da Associação Apícola do Distrito Federal (Apidf), Carlos Alberto Bastos defende maior interação com agricultores para minimizar danos. Produção local, de 34 toneladas, equivale a 10% do consumo

Pedro Ícaro*
postado em 16/07/2021 19:22 / atualizado em 16/07/2021 19:25
 (crédito: Marcelo Ferreira)
(crédito: Marcelo Ferreira)

O Brasil passa por um problema preocupante, que é a morte de abelhas em consequência do uso de agrotóxicos. Alguns produtos, inclusive, embora proibidos em outros países, são de uso livre no Brasil. Por isso, a Associação Apícola do Distrito Federal (APIDF), trabalha junto ao Senado para criar uma relação entre agricultores e apicultores. As informações foram dadas hoje (16/7) pelo vice-presidente da entidade, Carlos Alberto Bastos, em entrevista ao CB Agro, programa realizado em parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília.

“Não tem como parar de usar  agrotóxicos, não tem outra maneira de produzir. Nós, apicultores, temos que nos adequar a isso, mas precisamos que os agricultores nos avisem quando forem aplicar veneno. Existem agrotóxicos mais agressivos, e precisamos mudar para que outros menos danosos. Queremos criar uma lei para que exista um contato entre agricultor e apicultor para que a gente saiba quando ele está aplicando esse tipo de produto na lavoura para nos distanciarmos dela”, disse Bastos.

Bioma do cerrado é favorável

O bioma cerrado, o qual Brasília integra, é bastante favorável para produção de mel, mesmo com o clima seco e a baixa umidade, que influencia diretamente na qualidade do produto. A capital federal produz cerca de 34 toneladas de mel todos os anos, porém isso significa apenas 10% do consumo do produto em Brasília.

“O cerrado não é igual a outros biomas que tem muitas floradas, temos poucos apicultores e eles não conseguem produzir mais do que produzem. Mas a associação, todo ano, faz cursos para novos apicultores, e estamos crescendo, melhorando a nossa produção”, explicou o vice-presidente da associação.

O mel tem uma legislação que regulariza a sua comercialização. Ele tem o mesmo tratamento que o leite, ou seja, quase todas as regras do leite são válidas para o produto das abelhas. Como o leite, o mel pode ser comercializado cru ou pasteurizado, explica Carlos Alberto Bastos.

Produto da associação é fiscalizado

“Quando você vai vender para fora de Brasília, o leite tem que ser pasteurizado e o mel também. Dentro do DF, o mel pode ser cru, ou seja, sem passar pelo processo de pasteurização, sem nenhuma mudança na característica dele para ser envasado. O mel cru tem uma quantidade de propriedades a mais, porque ele não foi pasteurizado, e a pasteurização mata coisas boas e coisas ruins. No nosso caso, envasamos o produto apenas com a análise química para verificar se é mel mesmo. Somos fiscalizados pelo Dipova, que é o órgão que fiscaliza alimentos dentro do DF. Todo o mel da APIDF é fiscalizado e tem o selo do Dipova”, explicou.

Os produtos da associação podem ser encontrados nas feiras e os vendedores estão identificados com o uniforme da organização, o que gera mais credibilidade para o apicultor, segundo Carlos Alberto Bastos.

Ele alerta que, em alguns lugares, pessoas inescrupulosas vendem mel adulterado ou fraudado, apenas com essência e açúcar.

“Hoje tem produtos que dizem ter mel e tem essência de mel. Geralmente, vêm com a imagem de uma abelha, ou de um favo de mel, e, quando se lê o rótulo, é essência de mel. É um produto químico, não tem nada a ver com o mel. Isso não é falsificação, a lei permite. O mel falsificado o vendedor diz que é mel, e não é mel. Uma das coisas que ajuda a entender é que o mel é vendido por quilo, e não por litro. É uma lei que determina que eu coloque no rotulo kg de mel e não ml. Então, quando você vê um mel dentro de uma garrafa pode desconfiar que tem algo errado”, disse Bastos.

É possível criar abelhas em casa

Muitas pessoas se questionam, mas é possível criar abelha em casa ou até em apartamento. Atualmente, no Brasil existem dois tipos de abelhas, as com ferrão, chamadas de abelha europeia ou apis melífera, e a sem ferrão, chamadas de abelhas nativas. A abelha europeia é africanizada, ou seja, teve cruzamento com uma espécie africana que gerou a que tem no Brasil hoje, mais defensiva. Já as chamadas abelhas nativas, são sensíveis e precisam de cuidados a mais.

“Meliponicultor é aquele que mexe com as abelhas nativas, sem ferrão, este é um preservacionista, preserva as abelhas nativas, ele é um guardião delas. Estamos cada dia mais sem o habitat natural dessas abelhas e, como elas não têm defesa, algumas pessoas, as vezes, desmatam e nem sabem que estão matando as abelhas. Já a apis não, quando alguém chega perto, ela já avisa. Então, cada vez mais essas abelhas estão precisando ser preservadas, e o meliponicultor faz isso, ele consegue criar essas abelhas em casa, apartamento, elas se dão muito bem. Brasilia, no geral, para as abelhas é muito bom, tem muito verde, tem muitas flores, e não precisa de manejo com essas abelhas, elas estão soltas, elas vão para a natureza, recolhe o mel, volta. Se a pessoa quiser consumir, é só colocar uma melgueira onde o excesso de mel vai ser depositado para que ele consuma só o excesso, o que é delas nós não usamos”, disse.

*Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo 

 

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