Enquanto o senador Ciro Nogueira (PP-PI) não esconde a pressa para assumir logo a chefia da Casa Civil, o atual secretário-geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, precisará de mais paciência para ocupar o novo cargo de ministro do Trabalho e Previdência. Isso porque o ministério que o presidente Jair Bolsonaro pretende recriar para o fiel escudeiro, no âmbito da reforma destinada a abrir mais espaço no governo para o Centrão, será montado a partir da estrutura da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia. E o desmembramento, segundo técnicos do governo, deverá ser tão complicado quanto foi a fusão das cinco pastas que integram o ministério: Fazenda; Planejamento; Previdência; Trabalho e Desenvolvimento; e Indústria e Comércio Exterior.
Foram mais de dois anos para a unificação, que ainda não está totalmente azeitada. Não à toa, a tensão na Economia é crescente, especialmente com os rumores de que Bolsonaro também pode restaurar o Ministério do Planejamento, responsável pela elaboração do Orçamento, na contramão das promessas de campanha de enxugar o número de ministérios e não ceder ao toma lá dá cá. Por conta da complexidade do processo burocrático, a nomeação e a posse de Lorenzoni deverá ficar para a próxima semana.
Poder
O futuro ministro do Trabalho e da Previdência vai ter poder sobre um dos maiores orçamentos do governo e sobre órgãos importantes, como o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) — um dos que mais empregam no funcionalismo federal. Lorenzoni poderá preencher, pelo menos, duas centenas de cargos e usá-los como moeda política, caso decida concorrer ao governo do Rio Grande do Sul, em 2022. Nessa hipótese, ele precisará deixar o cargo em abril do próximo ano para respeitar as regras de desincompatibilização. O senador Ciro Nogueira também precisará deixar a Casa Civil se for se candidatar para o governo do Piauí, lembrou o cientista político e consultor Gaudêncio Torquato.
O consultor criticou a reforma ministerial e a iniciativa de ressuscitar o Ministério do Trabalho e Previdência, no momento em que existem 15 milhões de desempregados, “apenas para fazer o teco-teco de Lorenzoni decolar para o governo do RS”. Ele ainda lembrou que o Ministério da Economia não teve uma política clara voltada para a criação de empregos, o que ajudou o desemprego a disparar durante a pandemia.
“Parece piada! Paulo Guedes vai tentar segurar espaços e não quer ver ressuscitados ministérios gastadores! A reforma trabalhista vai ser completada com que instrumentos? Tudo parece coisa improvisada”, disse Torquato. Para ele, a recuperação da atividade econômica é que vai determinar o sucesso da empreitada. “Se houver de novo dinheiro no bolso dos brasileiros, é possível que os teco-tecos decolem”, acrescentou.
Para Christopher Garman, diretor para Américas do Eurasia Group, o desmembramento da Economia "não deverá impactar a influência de Paulo Guedes sobre o que importa". Mas ele reconhece: “Isso faz parte de um processo de Guedes perder poder ao longo do tempo. O que está em jogo é a permanência dele em um eventual segundo mandato”.
Diante da expectativa de um mandato curto de Lorenzoni, a torcida no Ministério da Economia é para que o futuro ministro coloque o atual secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, como secretário-executivo da nova pasta, de modo que o trabalho de unificação não seja perdido. Segundo um integrante do primeiro escalão do governo, é provável que isso aconteça, pois Bianco e Lorenzoni se dão bem.
Na Economia, Bianco está cuidando do desenho do programa de emprego para jovens — que também pode render dividendos políticos para Onyx. A ideia é que o novo ministro capitalize o lançamento desse projeto, que prevê uma bolsa de R$ 600 para novos trabalhadores. O valor inclui o Bônus de Inclusão Produtiva (BIP), que será pago pelo governo, e o de Qualificação (BIQ), que deverá ser custeado pelas empresas.
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