REFORMA TRIBUTÁRIA

Regime de urgência para o IR

Sob críticas da oposição, Câmara aprova requerimento para que proposta de mudanças no Imposto de Renda seja analisada diretamente no plenário, sem passar por debate em comissão especial. Assunto foi colocado na pauta da sessão de hoje

Israel Medeiros
postado em 05/08/2021 00:10
 (crédito: Najara Araújo/Câmara dos Deputados)
(crédito: Najara Araújo/Câmara dos Deputados)

A Câmara dos Deputados aprovFou ontem, por 278 votos a favor e 158 contrários, o requerimento de urgência de tramitação para o projeto que muda a tributação do Imposto de Renda. Parte da reforma tributária proposta pelo governo, o projeto taxa os dividendos em 20%, reduz a alíquota das empresas e altera a tributação sobre investimentos, entre outros pontos.

Em regime de urgência, o tema será votado diretamente no plenário da Casa, sem passar por debate em comissão especial e já entrou na pauta da sessão deliberativa desta quinta-feira, como último item, após 25 outros projetos e requerimentos. Isso não quer dizer, no entanto, que o projeto será votado hoje. Tudo dependerá do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) e de haver ou não acordo para aprovar a proposta.

O PL 2.337/2021 tem como relator o deputado Celso Sabino (PSDB-PA), que já fez diversas modificações no texto entregue pelo governo. Ele apresentou uma primeira versão do relatório em 13 de julho, na qual reduziu a alíquota do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ) e manteve a taxação dos dividendos em 20%.

Na terça-feira, Sabino apresentou um novo parecer. Entre outras mudanças, excluiu dividendos distribuídos por empresas que constam do Simples Nacional da tributação. Ficarão isentas aquelas que têm faturamento anual de até R$ 4,8 milhões. O relatório manteve o fim da dedução, pelas empresas, do pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) e a isenção de tributação de fundos de pensão e fundos imobiliários. E definiu uma alíquota menor, de 5,88%, para lucros e dividendos recebidos via fundos de investimento.

Controvérsia
A pressa do Ministério da Economia e da cúpula da Câmara para aprovar a reforma é alvo de críticas. Para o deputado Afonso Florence (PT-BA), a urgência não deveria ser aprovada sem um relatório definitivo do deputado Celso Sabino. “Tenho que reconhecer que o deputado tem dialogado conosco da oposição, mas essa celeridade não é necessária”, disse. “Após dois anos de debate, o governo, até então inerte, enviou um projeto que agora não passa por uma comissão especial, pelas comissões regulares. E o projeto do governo é muito ruim, é regressivo”, disparou.

“O relator está negociando conosco. Queremos aprovar a tributação sobre lucros e dividendos; extinguir Juros sobre Capital Próprio. Queremos fazer a revisão da tabela do Imposto de Renda, mas não queremos, por exemplo, tributar o programa de auxílio ao trabalhador, o vale-transporte”, acrescentou.

Já a deputada Talíria Petrone (PSol-RJ) disse haver problemas graves na matéria, pois o texto não avança na progressividade da carga tributária (tributar mais os mais ricos e menos os mais pobres). Ela também argumentou que não há garantias de que estados e municípios não perderão arrecadação.

“Não podemos ser a favor desse requerimento de urgência. Ao mesmo tempo afirmamos que queremos dar prioridade à pauta da reforma tributária e avançar num texto que, de fato, incida sobre a desigualdade que há no país entre ricos e pobres”, pontuou.

O Novo, partido defensor da reforma tributária, orientou contra o projeto por entender que o debate precisa ser aprofundado. O deputado Alexis Fonteyne (Novo-SP) afirmou que a legenda gostaria que o texto tivesse passado por uma comissão especial.

“Entendemos a importância desse projeto, de diminuir Imposto de Renda e começar a tributar a distribuição de lucros e dividendos. O país hoje está completamente fora dos padrões mundiais. Mas a bancada, após muita discussão interna, preferiu orientar não na discussão da urgência.”


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Petrobras: lucro de R$ 42,8 bi

Em meio a um cenário de queixas crescentes dos consumidores sobre os altos preços dos combustíveis, a Petrobras divulgou o balanço do segundo trimestre de 2021 e informou um lucro líquido de R$ 42,855 bilhões. A empresa reverteu o prejuízo de R$ 2,71 bilhões registrado no mesmo período do ano passado e superou em 3.572,2% o resultado dos três primeiros meses do ano, quando o lucro líquido foi de R$ 1,167 bilhão. O número veio bem acima do esperado pelo mercado. A maioria dos analistas estimava um lucro bem inferior, de R$ 30,67 bilhões.

Em um comentário após a divulgação do balanço, o presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna, destacou que a empresa segue diretrizes técnicas, e não políticas. “Continuamos trabalhando duro, amparados em decisões absolutamente técnicas; evoluindo e tornando-nos mais fortes para melhor investir, suprir um mercado cada vez mais exigente e gerar prosperidade para nossos acionistas e para a sociedade”, disse. A afirmação é um contraponto a declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro, que levantou a possibilidade de a companhia subsidiar os preços do gás de cozinha.

De acordo com o balanço, o lucro de R$ 42,855 bilhões refletiu as maiores margens na comercialização de derivados de petróleo e volumes mais elevados de vendas de combustíveis no mercado interno. Também ajudaram as exportações, impulsionadas pelas altas cotações do petróleo no mercado externo. Além disso, a empresa teve ganhos cambiais pela valorização do real frente ao dólar — que reduziram a dívida; e em participações em investimentos, principalmente pela reversão de impairment (deterioração) da BR Distribuidora.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ficou em R$ 61,93 bilhões, avanço de 147,9% na comparação anual. Na comparação trimestral, a alta foi de 26,5%. A receita líquida no segundo trimestre de 2021 foi de R$ 110,7 bilhões — número 117,5% superior na comparação anual e 28,5% acima no confronto com os primeiros três meses de 2021.

A receita com exportações alcançou R$ 33,6 bilhões no segundo trimestre, valor, 47,2% maior que a dos primeiros três meses do ano. As despesas aumentaram 10,5%, devido ao aumento dos gastos logísticos atrelados às exportações, em razão dos maiores volumes exportados, com destaque para o petróleo. No entanto, as despesas gerais e administrativas diminuíram 8,4%, pela maior recuperação de gastos junto aos parceiros e menores despesas com serviços de terceiros.

As outras despesas operacionais foram no montante de R$ 478 milhões no segundo trimestre, 68,8% menores que nos primeiros três meses de 2021, devido ao ganho complementar com a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins de R$ 2,5 bilhões, e maior resultado com operações de parcerias de exploração e produção.

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