Agência Estado
postado em 19/08/2021 09:37 / atualizado em 19/08/2021 09:37
O Ibovespa parecia se desconectar da pressão sobre o câmbio e do exterior ruim, além da persistência dos receios sobre o político e o fiscal, para interromper sequência negativa que havia consumido mais de 3 mil pontos no agregado das duas sessões anteriores, retomando nesta quarta, ainda que de passagem, o nível de 118 mil pontos. Em dia de vencimento de opções sobre o índice, que costuma envolver a tradicional disputa entre comprados e vendidos, o índice à vista acabou se firmando em queda de 1,07%, a 116.642,62 pontos no fechamento, menor nível desde 1º de abril.
Assim, emendou nesta quarta a terceira perda, entre mínima de 116.488,72 e máxima de 118.738,54 pontos, vindo de abertura aos 117.903,81 pontos. No ano, acumula baixa de 2,00% após a recente correção, que coloca agora as perdas da semana a 3,76% e as do mês a 4,23%, acima das de julho (-3,94%), quando havia interrompido a recuperação de março a junho. Com o vencimento de opções, o giro financeiro ficou bem fortalecido nesta quarta-feira, a R$ 67,1 bilhões.
Antes da aguardada ata do Federal Reserve, o Ibovespa esboçava reação, apesar da falta de sinal único em Nova York e do desempenho negativo do petróleo na sessão - ao final, os índices de NY também mostravam perdas nesta quarta-feira.
"As bolsas em Nova York estão ainda bem perto das máximas históricas, enquanto aqui há descontos em setores como os de commodities e bancos, com o Ibovespa negociado a 8 ou 9 vezes o P/L, frente a padrão histórico em torno de 12 vezes. A situação fiscal continua a pesar aqui, assim como a política, com a briga entre poderes, e certamente essa combinação de ruídos atrapalha, no momento em que o foco global está em quando se iniciará o 'tapering' nos Estados Unidos (a retirada de estímulos monetários pelo Federal Reserve)", diz Ricardo Campos, CEO da Reach Capital.
A ata da reunião de julho do Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve, divulgada no período da tarde, mostrou que o debate sobre a data do início da retirada gradual dos estímulos monetários é contínuo, e seja "muito provável" que o anúncio oficial venha a ocorrer em uma dos próximos três encontros entre os dirigentes, segundo estima a BMO Capital Markets. "Apesar da sinalização bastante 'hawkish', o que acabou azedando o humor do mercado, o documento indicou que a redução não será um gatilho para o aumento dos juros, mas, de qualquer forma, muda bastante o tom do próprio comunicado emitido após a reunião, e vai de encontro com o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
"Alta nos juros nos Estados Unidos pode tirar fluxo de capital de países emergentes rumo aos títulos públicos americanos, o que contribuiria para enfraquecimento das moedas desses países e agravaria o aumento da inflação nestas economias menos desenvolvidas", observa Paloma Brum, analista da Toro Investimentos.
Na máxima desta quarta-feira, no fim da tarde, a moeda americana à vista foi negociada a R$ 5,3774, encerrando o dia em alta de 1,99%, a R$ 5,3749. "A ata do Fed, onde já se começa a discutir a retirada da compra de títulos em 2021, acaba reduzindo de forma geral a expectativa de disponibilidade de dólares, à medida que os estímulos sejam retirados, o que resulta em apreciação da moeda americana", diz Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos.
No front doméstico, em relatório a clientes, a Eurasia rebaixou a perspectiva de longo prazo do Brasil, de neutra para negativa, com a avaliação de que "renovadas preocupações sobre a política fiscal e a persistente inflação estão minando a perspectiva para o crescimento econômico em 2022". A agência de avaliação de risco político diz também que, enfraquecido pela perspectiva econômica desafiadora, os incentivos do presidente Jair Bolsonaro a "deslegitimizar" as eleições de 2022 crescerão, "exacerbando as tensões institucionais". Como consequência, avalia a Eurasia, a "agenda econômica no Congresso também se deteriorará".
Com tantos fatores negativos pesando sobre o humor dos investidores, as perdas acabaram se distribuindo por empresas e setores na B3 ao longo da tarde, sem poupar as ações de commodities (Vale ON -3,36%, na mínima do dia no fechamento; Petrobras ON -1,19%), bancos (Bradesco ON -1,37%, Santander -0,79%) e siderurgia (Usiminas PNA - 4,73%, CSN ON -2,31%). Na ponta negativa do Ibovespa, Ultrapar (-4,97%), à frente de Usiminas (-4,73%) e Klabin (-3,85%). No lado oposto, Cogna (+4,52%), Braskem (+4,21%) e Embraer (+3,69%).
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