CRÉDITO

Cresce número de concessões de crédito e de endividados no Brasil

Estatísticas do Banco Central apontam que operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançaram R$ 4,3 trilhões e refletiram em aumento de 2,3% no quadro de inadimplência

Fernanda Fernandes
postado em 27/08/2021 21:28 / atualizado em 27/08/2021 21:28
 (crédito: Arquivo/Kiengcan Photos)
(crédito: Arquivo/Kiengcan Photos)

As concessões de crédito no país e o endividamento aumentaram, segundo as estatísticas monetárias e de crédito mais recentes, divulgadas, nesta sexta-feira (27/8), pelo Banco Central (BC). Os dados, referentes ao mês de julho, apontam elevação mensal de 1,2% nas concessões de crédito a famílias e pessoas jurídicas, com R$ 418,4 bilhões em empréstimos registrados. Com a nova alta, o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 4,3 trilhões e refletiu em mais um aumento de 2,3% no quadro de inadimplência.

De acordo com o demonstrativo do BC, a inadimplência das famílias brasileiras com o sistema financeiro manteve o recorde de 59,2%, alcançado em maio deste ano. O chefe de departamento de Estatísticas do banco, Fernando Rocha, afirmou que o crédito familiar tem crescido de forma mais acelerada do que o concedido a pessoas jurídicas, e explicou o cálculo do endividamento. "O comportamento de renda tem variado por volta de 30,5% e permanece estável. Esse comportamento é medido pelo total da dívida dividida pela renda total acumulada nos últimos 12 meses. Já o serviço da dívida é calculado pelo valor que se paga de amortização mês a mês, dividido pela estimativa da renda mensal", disse, durante a coletiva de imprensa realizada pelo BC na tarde desta sexta (27/8).

Em nota técnica, o banco afirma que o crescimento da carteira total de crédito se manteve estável (passando de 16,3% em junho para 16,2% em julho). Já a carteira de crédito para pessoas jurídicas apresentou desaceleração de 14,8% para 13,6%, no período. As operações de crédito destinadas às famílias, conforme afirmado por Rocha, seguiram em aceleração, de 17,5% para 18,2%.

Ainda na análise do Banco Central, as concessões na carteira de outros créditos direcionados a pessoas jurídicas atingiram o patamar de R$18,2 bilhões, onde se inserem as operações do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronamp). Segundo Fernando Rocha, o crédito para pessoas jurídicas reduziu 1,6% no crédito livre, mas no crédito direcionado registrou uma elevação alta, de 88,5% no mês de julho. “As concessões de crédito do Pronampe foram concentradas e isso acabou refletindo nos indicadores”, afirmou.

Vale ressaltar, contudo, que a alta variação mensal no crédito direcionado não tem o impacto que aparenta. Isso porque a parte direcionada do crédito às empresas, que foi de R$677 bilhões em julho, é pequena se comparada à parte de crédito livre, que somou R$1,2 trilhão.

Na avaliação de Nicola Tingas, economista chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), as estatísticas mais recentes mostram um cenário favorável de retomada econômica do país, influenciado, principalmente, pela aceleração da campanha nacional de vacinação contra a Covid-19. Apesar disso, na observação particular dos números, o economista alerta para a desaceleração em algumas carteiras, o que poderá mudar em breve, com o avanço das atividades econômicas no país. “O consumidor pessoa física já está recriando o ímpeto de consumo e colocando o financiamento do seu orçamento em modalidades mais longas, como o crédito consignado. E quando não tem essa alternativa, demanda recursos de curto prazo, pulsantes e de crédito mais caro”, explica o especialista.

Já no caso da pessoa jurídica, Tingas afirma que é possível perceber que, mesmo com a crescente utilização de recursos do Pronampe, há desaceleração de produtos de financiamento habitual das empresas. “Esses produtos vêm sendo substituídos pela maior geração de caixa em função da maior mobilização da sociedade, que gera mais caixa para as empresas que, em vez de tomar crédito, preferem utilizar esse caixa para capital de giro ou antecipação de recebíveis”, ressalta.

O chefe de estatísticas do BC, Fernando Rocha, também compreende a desaceleração da tomada de créditos por parte das empresas como uma retomada pós-pandemia. “A gente busca compreensão dessa desaceleração e quando se comparam (os números), a gente tem que lembrar que houve um crescimento muito forte por causa da demanda para combater os efeitos da Covid-19”, afirmou o chefe de estatísticas do BC.

Juros em alta

Acompanhando o aumento das concessões de crédito, os juros aplicados nos empréstimos também tiveram elevação. Segundo o BC, a taxa média de juros das novas contratações de crédito registrou, em julho, aumento de 0,4% no mês e de 1,3% em doze meses, registrando 20,4% ao ano.

Para Tinga, a alta demanda por crédito e pagamento desse saldo, na medida em que a inflação avança, será um desafio para as famílias endividadas. “Os juros pelo Banco Central virão fortes e isso certamente pesará, junto a outros custos, no orçamento das famílias. Hoje, os atrasos já são observados e poderão se ampliar”, alerta.

As taxas de juros voltadas para a família chamam a atenção. Enquanto no crédito livre para pessoas jurídicas a taxa média de juros é de 15,4% ao ano, para as famílias, a taxa média situou-se em 39,8%.

Os dados mais recentes da Serasa sobre inadimplência, de maio, demonstram um número um pouco maior do que o apontado pelo BC. Segundo a empresa, existem 62,5 milhões de brasileiros endividados e com o nome restrito. A Serasa afirma que houve diminuição de 3% nesse total, no mês de junho, mas os dados oficiais só serão divulgados na próxima semana.

Para o especialista em concessão de crédito e prevenção à fraudes, Renato Magalhães, o preocupante quadro de endividamento no país, que já vem de anos, além de ser um problema de economia doméstica, também é um problema cultural no Brasil. “Há alguns anos, as pessoas prezavam muito em ter o nome limpo, mas de uns anos para cá isso parece ter se perdido um pouco. Além disso, antigamente não tinham tantas opções de consumo como se tem hoje em dia, o que acaba aumentando a possibilidade de envividamento”, explica o diretor comercial da B2e Group.

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