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Empreendedorismo do futuro: sinais no presente podem indicar qual caminho seguir para ter um negócio de sucesso

Sustentabilidade, uso da tecnologia e inovação têm que andar juntos para um futuro promissor

Thays Martins
postado em 31/08/2021 08:00 / atualizado em 21/09/2021 18:09
 (crédito: FADEL SENNA/AFP )
(crédito: FADEL SENNA/AFP )

Há dois anos, nós, pessoas comuns, não imaginávamos que o mundo enfrentaria uma pandemia. Porém, cientistas, que estudam o assunto, já alertavam para essa possibilidade e da necessidade do planeta se preparar para uma emergência sanitária. A preparação poderia ter evitado a crise que vivemos hoje. Da mesma forma, quando empreendedores se preparam para o futuro, as chances de sucesso são muito maiores. De acordo com especialistas, o que vai definir se sua empresa triunfará nos próximos anos é olhar para o presente e se planejar.

Porém, apesar de todo estudo, é preciso lembrar que tudo pode mudar de uma hora para outra. Então é preciso sempre se adaptar. “Falar de futuro é um exercício de aposta. Este mundo tem estado tão maluco que a gente não consegue ter tanta clareza, mas alguns elementos do presente apontam para o futuro”, explica a professora Luciana Guilherme, uma das coordenadoras do Núcleo de Empreendedorismo da ESPM Rio.

Por isso, é importante antes de sequer iniciar a empreender fazer uma boa pesquisa de mercado e estudar sobre a empreitada que pretende enfrentar. De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mais de 70% das empresas brasileiras fecham as portas com menos de 10 anos de atividade. Segundo Luciana, muitas empresas quebram porque os empreendedores por trás do negócio não procuram estudar e se aprimorar.

“Muitos apostam em ideias que não foram testadas. Tem muito achismo. Eu tenho que fazer o mínimo de teste”, diz. “É preciso ampliar os conhecimentos. Estar sempre estudando, se qualificando e buscar instituições que possam ser fontes de fomento. É um processo contínuo. A base de tudo para sermos bem sucedidos é o conhecimento. Se eu não tiver, eu vou dando os passos aos poucos”, completa.

O grande problema com isso, é que muitas vezes o empreendedor oferece uma solução para um problema que não existe. “A maior parte das empresas quebra porque não tem mercado”, afirma Marcelo Nakagawa, professor de Inovação e Empreendedorismo do Insper. Nesse contexto, o empreendedorismo aparece como um grande solucionador de problemas. Por isso, o empreendedor precisa sempre olhar para soluções que ele pode oferecer para questões reais.

“As necessidades, os problemas que a sociedade enfrenta, que pauta os caminhos e possíveis soluções que serão oferecidas” (Luciana Guilherme)

“As pessoas precisam testar. Não é só ter uma grande ideia, é concretiza-la”, completa. Alex Ferraresi, coordenador da pós-graduação em Gestão de Cooperativas da PUC-PR, destaca que essas qualificações são um caminho para que o empreendedor possa se desenvolver.

"Ninguém vai ensinar ninguém a empreender, mas eu acredito que você pode dar condições para ele desenvolver o talento” (Alex Ferraresi)

 Alex Ferraresi, coordenador da pós-graduação em Gestão de Cooperativas da PUC-PR
Alex Ferraresi, coordenador da pós-graduação em Gestão de Cooperativas da PUC-PR (foto: Arquivo pessoal)

Previsões para o futuro

A pandemia pode ter impulsionado o empreendedorismo, mas a tendência é que as novas relações de trabalho façam com que esse processo continue em alta. “O empreendedorismo de subsistência deve continuar principalmente por conta do aumento da terceirização, trabalho intermitente e uma maior pejotização”, explica Marcelo Nakagawa.

Além disso, Alex explica que muitos desses empreendedores vão acabar voltando para o mercado tradicional, mas muitos outros vão se descobrir no ramo. “Com a economia voltando a trabalhar e a taxa de desemprego diminuindo, a taxa de crescimento de empreendimentos caiu um pouco, mas se manterá constante. Porque tem gente que empreende por necessidade, mas não gosta. Por outro lado, a gente tem uma experimentação e isso pode incentivar aqueles que têm vocação”, explica.

Para saber o que pode ser tendência, Marcelo destaca que é sempre importante romper a bolha e olhar para fora. "Muitas vezes o empreendedor estuda pouco tendências internacionais. Tem várias coisas que estão sendo resolvidas lá fora. A gente precisa ter um empreendedor mais globalizado, estudar o que está sendo pensando em outros países, porque a gente faz muito do mesmo”, ressalta.

Luciana ainda destaca que não adianta fazer algo que a pessoa não se identifique. “É um exercício de dedicação e de leitura de cenário. Essa solução tem a ver com a minha história, com os meus recursos, com a minha habilidade. Essa atividade tem que se relacionar com algo que está alinhado ao seu propósito”, explica. “É preciso ter familiaridade com aquilo que ele pretende trabalhar”, completa Alex Ferraresi.

 

Negócios digitais

O uso da internet para fazer tudo já está cada vez mais enraizado na cultura do país. Apesar do universo digital ainda não estar presente na vida de todos, afinal 40% dos brasileiros não têm acesso a rede mundial de computadores, a tendência é de crescimento. De acordo com o relatório da Mastercard SpendingPulse, o e-commerce cresceu 75% em meio à pandemia. Além disso, 70% das pessoas pretendem continuar usando sites e aplicativos após a pandemia para fazer compras, de acordo com o estudo Novos hábitos Digitais em Tempos de covid-19, feito pela Sociedade Brasileira de varejo e Consumo.

“Esse canal vai continuar presente, porque teve uma mudança de padrão de consumo. O consumidor que era desconfiado de comprar na internet aceitou se submeter e as pessoas que passaram a consumir não vão parar”, explica Luciana. Esta também é a opinião do professor Alex Ferraresi. “No varejo isso está mudando significativamente. Antes o brasileiro tinha preconceito em comprar sem ter o contato físico com o produto”, relembra.

Por isso, esta é a hora de pensar em formas de se adaptar ao mercado digital e encontrar caminhos para usar o canal como forma de empreender. “As empresas que estão no mercado precisam buscar se adaptar e a popularização da internet e o acesso a internet. Isso tudo tem influência muito grande nesse comportamento para consumir, para se relacionar, fazer negócios. Somos muitos dependentes da tecnologia e ela vai ser cada vez mais usada pelas empresas “ , afirma Alex.

A professora Luciana ainda explica que a pandemia acelerou este processo nas pequenas empresas, mas as grandes já vinham se preparando há muito tempo para usar este meio. “Ela obrigou adaptações e ajustes muito mais rápidos do que se a gente não tivesse vivido a pandemia. Ela pegou os pequenos negócios despreparados, os grandes não precisaram mudar nada. A Amazon cresceu durante a pandemia”, exemplifica. Além disso, ela destaca que o desafio agora é conseguir ganhar dinheiro usando a internet. “Todo mundo pode criar um canal no youtube, mas como você se destaca? Como monetizar e não ser só uma oferta de conteúdo gratuito? É preciso estudar e ter estratégias.”

Inovação em pauta

Com cada vez um mercado mais competitivo, principalmente pela grande oferta na internet, os empreendedores terão que cada vez mais buscar a inovação para sobreviver. Nisso, entra o olhar atento às demandas da sociedade e em como é possível trazer soluções para estas questões, o que está no DNA das startups. A MetaMaker, por exemplo, surgiu de um projeto de iniciação científica na graduação de engenharia elétrica na Universidade de Brasília (UnB).

Rodrigo Furtado e Matheus Velloso usam a criatividade para ensinar crianças no processo da inovação
Rodrigo Furtado e Matheus Velloso usam a criatividade para ensinar crianças no processo da inovação (foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

A startup tem como intuito ajudar crianças e jovens a se expressarem como cientistas, inventores e pequenos inovadores por meio de produtos acessíveis e inclusivos. A necessidade de um projeto como esse foi percebida em uma experiência na Estrutural. "Percebi que as instalações elétricas do centro de convivência eram incompletas e ofereciam riscos à comunidade. E, durante essa experiência surgiu o anseio de educar a comunidade sobre os riscos da eletricidade", lembra.

Durante a pandemia o espaço onde são realizadas as atividades teve que ser fechado, mas mais uma vez alternativas tiveram que ser pensadas. "Por termos um ambiente mais fechado, decidimos apenas realizar as atividades presenciais com as crianças em locais e em escolas parceiras que contemplem espaços mais abertos e espaços ao ar livre. Nesse momento, o nosso espaço está funcionando apenas para atender as demandas da nossa Loja Online. Disponibilizamos diversos kits mão-na-massa para que as crianças e as famílias possam aprender de forma criativa e divertida em casa também", explica Rodrigo Furtado.

Além disso, ele acha que esse período que vivemos mudou a forma como enxergamos o mundo e como os pais veem seus filhos. "Acreditamos que para imaginar um mundo diferente daquele em que vivemos agora, nós precisamos assumir a responsabilidade de que os futuros líderes, cientistas, empreendedores e artistas virão de dentro de nossas famílias. E que os problemas críticos do mundo podem e serão resolvidos por pessoas.”
Assim como a MetaMaker, o professor Marcelo Nakagawa aposta que as startups vão ter cada vez mais visibilidade em um futuro próximo. “O número delas é sempre menor, mas criar uma startup será cada vez mais comum”, destaca. Nesse processo, vai contribuir o Marco Legal das Startups. Sancionada em junho, a lei desburocratiza o registro de novas startups, com isenção de taxas, e facilita a captação de investimentos.

Olhar para o meio ambiente

Com cada vez mais a questão da sustentabilidade em pauta, Luciana acredita que negócios sociais ganharão cada vez mais espaço. “Na área do meio ambiente tem surgido muita coisa que gera um bom impacto ambiental, porque estamos vivendo um colapso ambiental. É cada vez mais lixo e extraindo recursos da natureza, então tem surgido novos empreendimentos no sentido de buscar soluções”, destaca Luciana.

E não é para menos. O último relatório do clima, feito pela Organização das Nações Unidas, trouxe dados alarmantes de como a ação humana tem impactado o meio ambiente. E até mesmo a pandemia influenciou nos hábitos de consumo. Cada vez mais, as pessoas estão se importando com a procedência daquilo que elas estão comprando. De acordo com um estudo realizado pela consultoria Mandalah a pandemia impulsionou a busca por um consumo mais minimalismo, sustentável e que privilegia o bem-estar.

Luciana explica que isso é bem visível quando se observa empresas que não respeitam as normas sanitárias. “Se eu olho uma empresa que não respeita, mesmo que eu adore, eu vou deixar de comprar lá e procurar outro. É ter essa compreensão do papel na sociedade”, ressalta. Por isso, mesmo serviços mais individualizados e que criam conexão com o cliente podem se sair bem nessa nova lógica. Este é o caso da Temperos da Terra. A loja online surgiu durante a pandemia e com um diferencial. Um serviço de assinatura de temperos. A Tempebox é um box mensal que tenta atender as necessidades de cada cliente. “O serviço veio como uma forma de fidelizar os clientes. A ideia principal era ter nossos produtos todo mês com um custo benefício melhor e no conforto de casa. A Tempebox é enviada em uma caixa personalizada e cheia de mimos, mostrando o quão importante para nós é aquele cliente”, explica Bruna Alves de Mesquita, de 24 anos.

Bruna Alves de Mesquita fez dos temperos naturais um negócio de sucesso na pandemia
Bruna Alves de Mesquita fez dos temperos naturais um negócio de sucesso na pandemia (foto: arquivo pessoal )

Por ser totalmente digital, a empreendedora ainda tem investido em estudar para entender essa lógica digital e usa as redes sociais para produzir conteúdos de interesses dos clientes. “Sempre mostramos aos nossos clientes todos os cuidados para que o produto chegue nas suas residências de forma segura e fazemos questão de não terceirizar a entrega, queremos sempre esse contato com o nosso público do qual conseguimos adquirir tanta confiança”, destaca Bruna. Os posts na rede incluem explicações sobre os benefícios dos temperos para a saúde e dicas de como utilizá-los. Até ajuda solidária, a loja se propõe a fazer. “Nada mais justo do que usarmos todo o sucesso, visibilidade e crescimento da temperos, para ajudar ao próximo.”

 

 
 
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