Conjuntura

IGP-M recua, mas resiste

Índice sofre desaceleração em agosto, por conta da variação nos preços do minério de ferro. Analistas observam com atenção o comportamento da energia elétrica, que afeta muito o custo de vida. Crise hídrica influi no valor de alimentos

Fernanda Fernandes
postado em 31/08/2021 00:35

O Índice Geral de Preços – Mercado ( IGP-M) recuou 0,12% em agosto, na comparação com o mês anterior. Segundo dados divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o índice apontou uma variação mensal de 0,66% este mês, contra 0,78% no período passado.

Apesar da queda, o IGP-M acumula percentual de 16,75% no ano e de 31,12% em 12 meses. O valor é mais do que o dobro do registrado no mesmo período do ano passado, quando o acumulado era de 13,02%. O IGP-M é a soma de três outros índices: Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Todos apresentaram desaceleração em agosto.

André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV, explica o fenômeno. “Apenas reduziu um pouco de intensidade, pois não foi uma ação majoritária, foi uma ação de itens que têm peso”, afirma. Segundo o coordenador, cada índice que compõe o IGP-M teve um motivo pontual para o recuo em agosto.

“Quase 14% do peso do IPA é em razão do minério de ferro, que caiu em média 15%, em agosto. No INCC, a ajuda veio do item mão de obra, pois não houve nenhum acordo coletivo, ao contrário do que tivemos em julho. E no IPC, houve a desaceleração na comparação com julho, por conta do reajuste da bandeira que pesou 5,5% no mês passado e em agosto, 3,5%”, explica o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV).

Embora o novo aumento na energia elétrica, previsto para setembro, deva puxar a variação do IGP-M para cima novamente, André Braz afirma que a tendência é que a desaceleração se mantenha. “Vai continuar desacelerando. É a terceira desaceleração em 12 meses. Não é que a inflação esteja amiga, mas é que não estamos vivendo aquela desvalorização cambial tão forte como no ano passado”, explica o especialista.

Para Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, embora o IGP-M tenha recuado em agosto por questões pontuais, o índice anda lado a lado com a inflação, que tende a aumentar com o avanço da campanha de vacinação e a retomada total das atividades econômicas no país. “Com a população voltando a circular na rua e a economia se recuperando, aumenta-se o consumo, e acaba gerando mais inflação. Além disso, a crise hídrica e o alto preços dos combustíveis também estão impactando os índices”, afirma Quartaroli.

Segundo André Braz, se não fosse pela crise hídrica, a desaceleração registrada em agosto teria sido ainda mais forte. “Muitos itens afetados pelas geadas e pela crise hídrica aumentaram de preço como café, milho e cana. Essas culturas afetadas pela crise hídrica seguem em aceleração, mas o peso do minério é tão grande que abafou esse comprovante e permitiu que o índice desacelerasse”, explicou.

Mercado imobiliário
Conhecido como o índice dos contratos, o IGP-M é um dos índices mais utilizados para reajuste de tarifas públicas (energia e telefonia), em contratos de aluguéis e em contratos de prestação de serviços, embora não exista nenhuma orientação da FGV sobre essa utilização, explica André Braz. “Isso é completamente contra o que a gente prega. Esse índice foi desenvolvido para outra finalidade, para ser deflator do Produto Interno Bruto (PIB) e não para ser utilizado pelo mercado imobiliário”, alerta.

“O imóvel é um ativo financeiro, e uma parte dessa rentabilidade é o valor do aluguel, que é quanto o dono recupera do investimento que ele fez. IPCA ou IGP-M, nenhum fala a língua do mercado imobiliário”, ressalta. “Para o inquilino, o reajuste pelo IPCA é uma maravilha, é o mais próximo indexado ao salário. Mas para o proprietário não é, porque não reflete a valorização do imovel”, aponta.

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Mais vermelho na conta de luz

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulga nesta terça-feira (31) qual será o aumento da bandeira vermelha patamar 2, taxa extra cobrada nas faturas. Atualmente, a tarifa, que está em vigor desde junho, está com acréscimo de R$ 9,49 na conta mensal. Especialistas estimam que o valor subirá para R$ 14 ou R$ 15. Na última sexta-feira, a Aneel confirmou a extensão do aumento tarifário para o mês de setembro.

Para o professor associado do instituto de energia e ambiente da USP Célio Bermann, além da crise hídrica, fatores circustanciais e históricos tornam o cenário mais difícil. “As mudanças climáticas refletem diretamente nos níveis de água das hidrelétricas. No Brasil, essa defasagem é fruto das queimadas na Amazônia e no Pantanal nos últimos dois anos. Além disso, a primeira vez que houve uma crise energética foi em 2001. Desde então, não houve nenhuma ação efetiva de conscientização da população. Agora, não podemos esperar que as pessoas mudem de hábitos e para diminuir, de fato, a conta nos próximos meses”, aponta.

Hugo Lott, especialista em energia da GRID Energia, explica que as bandeiras são formas de antecipar uma conta que pode ser mais cara no futuro e sinalizar sobre a situação energética para o consumidor. “É muito importante deixar claro que esse reajuste é uma antecipação de receita. Sem água, a gente tem que ligar mais termelétricas, deixando as contas mais caras", afirma.

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