TRABALHO

Desemprego: redução tímida

IBGE mostra que taxa de desocupação recuou de 14,4% para 14,1% do primeiro para o segundo trimestre. Número de pessoas sem emprego, porém, continua elevado: 14,4 milhões. Além disso, população subocupada bateu recorde, e renda caiu

Raphael Felice
postado em 01/09/2021 00:53

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que 14,4 milhões de brasileiros estavam desocupados no trimestre encerrado em junho último. O número representa 14,1% da população em condições de trabalhar. Mesmo com a pequena melhora em relação ao trimestre anterior, que registrou 14,4% (14,8 milhões de pessoas) no índice, o IBGE considera que a população desocupada continua estável, ou seja, sem apresentar melhora significativa.

Os números mostram, ainda, que a população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas engloba 7,5 milhões de pessoas, recorde da série histórica. A alta nesse dado foi de 7,3% no comparativo com o trimestre entre janeiro e março (511 mil pessoas a mais) e de 34,4% (1,9 milhão de pessoas a mais) diante do mesmo trimestre de 2020.

A taxa composta de subutilização da força de trabalho (percentual de pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas) foi de 28,6%, enquanto a população subutilizada — que tem emprego informal e não consegue ocupar todo o seu tempo — chegou a 32,2 milhões de pessoas.

“A atividade econômica não retomou o que a gente tinha em 2019 e, principalmente, o que tinha em 2014 e 2015. Desde então, houve uma queda vigorosa da economia, que se reflete, principalmente, no emprego e da renda”, comentou William Baghdassarian, professor de Finanças do Ibmec.

Com a dificuldade de conseguir trabalho, milhões de brasileiros desistiram de buscar emprego. A quantidade de pessoas desalentadas foi avaliada em 5,6 milhões pelo IBGE. No trimestre anterior, esse número era de quase 6 milhões de pessoas. Segundo os autores da pesquisa, o número permanece estável.

Após quatro trimestres entre 2020 e 2021 sem aumento significativo, foram criadas 618 mil vagas de carteira assinada no trimestre encerrado em junho. Mesmo assim, o número ainda fica distante do registrado no fim de 2019, no período pré-pandemia, como explica a analista da pesquisa Pnad Contínua, Adriana Beringuy. “É um primeiro resultado importante para o mercado de trabalho, mas a gente precisa aguardar os próximos trimestres para saber se isso vai ser mantido, tendo em vista que essa é uma categoria do emprego para qual a pesquisa não vinha registrando aumento significativo”, disse.

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Alívio ao obter vaga

Quem conseguiu retornar ao mercado de trabalho demonstra alívio e almeja alavancar a carreira profissional, como o caso do analista de requerimentos Leonardo Lobo, 26 anos. Após ter dificuldades para trabalhar em sua área após se formar em Ciência da Computação, ele conseguiu emprego em maio deste ano. “Depois de terminar a faculdade eu já não podia estagiar. Cheguei a trabalhar em outras áreas, como eventos, mas também ficou difícil. Depois de dois anos procurando, eu consegui emprego na minha área, de carteira assinada, e foi um alívio muito grande”, explicou.

Quem está a mais tempo empregado, já demonstra uma confiança um pouco maior. É o caso do irmão de Leonardo, Rodrigo Lobo, 31 anos. Ele havia fechado um negócio na área de bares e restaurantes pouco antes do início da pandemia e começou a procurar emprego. Ficou cerca de seis meses à procura, até conseguir trabalho como analista de sistemas em outra empresa. No início, o sentimento de alívio foi o mesmo do irmão, e ele estava muito satisfeito com a nova fase profissional. Hoje, ele pensa em crescer dentro da empresa.

“Eu acho que a situação está muito difícil e, por isso, só tenho a agradecer por estar empregado. Quando voltei a trabalhar foi um alívio muito grande, até porque, tenho um filho pequeno que preciso sustentar. Estou na empresa há um ano e meio, mais ou menos, e penso em evoluir aqui dentro e atingir um cargo maior”, disse.

Os irmãos conseguiram emprego com carteira assinada, mas essa situação está longe da vivida por milhões de brasileiros. Segundo a pesquisa, a quantidade de trabalhadores por conta própria alcançou 24,8 milhões, recorde da série histórica com altas de 4,2% ante o trimestre anterior e de 14,7% em comparação ao mesmo período de 2020. A analista da Pnad, Adriana Beringuy, explicou, no entanto, que muitas pessoas passaram a trabalhar por conta própria mais por subsistência do que por uma tentativa de empreender. Segundo ela, cerca de 80% dos trabalhadores nessa modalidade são informais. De acordo com a Pnad, a taxa de informalidade do Brasil foi de 40,6% da população ocupada. As maiores taxas foram do Pará e do Maranhão, ambos com 60,5%, e as menores, de Santa Catarina (26,9%) e Distrito Federal (30,7%).

Renda
A Pnad mostrou, ainda, que o rendimento médio mensal no 2º trimestre de 2021 diminuiu. O valor atingido entre abril e junho foi de R$ 2.515, com redução tanto em relação aos três primeiros meses do ano (R$ 2.594) quanto em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 2.693).

A diminuição pode estar ligada principalmente ao aumento de trabalhos informais. “Tem até mais pessoas trabalhando, mas com rendimentos menores. Isso pode estar ligado a este fato, que você tem crescimento da ocupação muito ligado ao trabalho informal, que são informações com menores rendimentos”, afirmou Adriana Beringuy.

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