REFORMAS

Taxação sobre os dividendos fica em 15% do valor recebido

Câmara reduz tributo sobre valores distribuídos pelas empresas a acionistas e conclui a votação do projeto de mudanças no Imposto de Renda. Texto, que vai agora ao Senado, isenta do IR cerca de 16 milhões de pessoas, segundo estimativas oficiais

Fernanda Fernandes  
postado em 03/09/2021 06:00 / atualizado em 03/09/2021 11:50
Deputados aprovaram texto-base na noite de quarta-feira e votaram ontem os destaques ao projeto -  (crédito: Cleia Viana/Camara dos Deputados)
Deputados aprovaram texto-base na noite de quarta-feira e votaram ontem os destaques ao projeto - (crédito: Cleia Viana/Camara dos Deputados)

Após dois dias de debates, a Câmara dos Deputados aprovou, com modificações, o Projeto de Lei (PL) 2.337/2021 que altera as regras do Imposto de Renda para pessoas físicas e jurídicas. O texto-base, votado na quarta-feira, criava uma alíquota de 20% sobre dividendos distribuídos pelas empresas a acionistas, mas um destaque apresentado pelo Republicanos, aprovado ontem por 319 votos a 140, reduziu a taxação para 15%.

O projeto seguirá agora para o Senado. A implementação do tributo sobre dividendos foi um dos itens que mais provocaram debate na Casa. O relator, Celso Sabino (PSDB-PA) defendeu a manutenção da alíquota de 20%, proposta pelo governo. De acordo com o parlamentar, a alíquota maior seria compensada por outros dispositivos do texto que reduzem a tributação pelo IR.

Os partidos que costumam estar alinhados às propostas do governo — como Novo, PSD, PSDB e DEM, desta vez mostraram resistência à proposta. O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), que esteve entre os parlamentares que votaram contra o projeto, defendeu a redução da alíquota sobre os dividendos. “Da forma em que está aplicada, teremos uma queda na produtividade, com sufocamento do Estado”, disse.

O projeto reduz a alíquota de IR das Empresas, mas, para advogados tributaristas, com a taxação sobre dividendos, a carga vai aumentar. “Na prática, as empresas que eram tributadas em 34% sobre o lucro, com 25% do IRPJ e 9% de Contribuição sobre o Lucro Liquido (CSLL), passarão a pagar 41%, sendo 18% de IRPJ, 8% da CSLL e os 15% de Imposto de Renda na fonte sobre dividendos, que eram isentos”, disse Paulo Octtávio Calháo, tributarista da Ogawa, Lazzerotti e Baraldi Advogados.

Pelo texto, o novo imposto sobre dividendos deixará de fora fundos de investimento em ações. Valores distribuídos por pequenas e microempresas também ficaram livres da taxação. Antes da votação dos destaques, realizada ontem, os deputados haviam rejeitado outras três propostas com modificações à tributação de lucros e dividendos. A primeira delas, do Novo, criava uma regra de transição para a incidência do IR sobre os dividendos. A segunda, do PT, instituía três alíquotas para a tributação (20%, 25% e 35%), com base no valor distribuído. E a terceira, do Psol, previa alíquota igual a das pessoas físicas tributadas pelo IR.

Isenção maior

Além de criar taxação sobre dividendos, o projeto muda a tributação do IR das pessoas físicas, nesse caso, no sentido de reduzir o apetite do Fisco. A faixa de isenção para pessoas físicas sobe de R$ 1.903,98 para R$ 2.500 mensais, uma correção de 31,3% que deverá tornar cerca de 16 milhões de brasileiros isentos. As demais faixas de renda terão reajuste entre 13,2% e 13,6%, com aumento na dedução de 16% a 31%. As deduções referentes a dependentes e educação continuam no mesmo valor.

Se for aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, as mudanças valerão a partir de 2022. Segundo Sabino, a reforma é favorável a quase todos os contribuintes, exceto os super-ricos. “A ampla maioria vai pagar menos, mas o indivíduo que receba R$ 70 milhões de dividendos, por exemplo, vai pagar mais imposto”, comentou.

Teles criticam proposta

As empresas de telecomunicações criticaram o teor da reforma tributária que os deputados aprovaram na Câmara. Em nota, a Conexis Brasil Digital, que reúne as maiores operadoras do país, afirmou que o texto vai resultar em aumento da carga sobre a conectividade e comprometer investimentos bilionários que serão necessários para implantar a tecnologia 5G no Brasil. “O setor, que contribui significativamente na arrecadação de tributos, geração de renda e emprego, acesso à internet e educação, deveria ser desonerado para o país poder avançar na economia do 5G”, diz a nota.

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Mercado reage mal, e Bolsa cai 2,28%

Os investidores reagiram mal à aprovação do projeto de mudanças no Imposto de Renda e a Bolsa de Valores de São Paulo fechou ontem em forte queda, de 2,28%, com o Ibovespa, principal indicador dos negócios, fechando aos 116.77 pontos. Segundo analistas, a desvalorização dos ativos, consequência de um forte movimento de vendas, refletiu também os indicadores econômicos ruins divulgados nos últimos dias, como a queda do PIB no segundo trimestre a retração do setor industrial em julho.

As ações de bancos estiveram entre as maiores baixas do dia, refletindo itens do projeto, como a taxação de dividendos, embora em nível mais baixo que o proposto inicialmente, e o fim dos juros sobre capital próprio, mecanismo de distribuição de lucros que gera deduções tributárias para as empresas. Entre as maiores instituições, destaque para queda de 5,23% na Unit do Santander, de 4,14% para BB ON e de 3,81% em Bradesco ON.

A decepção do mercado com a aprovação do relatório do deputado Celso Sabino (PSDB-PA) se somou à derrubada de minirreforma trabalhista no Senado, na noite de quarta-feira, com a qual o governo pretendia estimular a geração de empregos, e a aprovação de mudança em planos de saúde de estatais, que pode dificultar privatizações como a dos Correios. Para analistas, o episódio reforçou a percepção de desarticulação do governo, que está perdendo cada vez mais influência sobre o Congresso.

Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, o risco fiscal sentido pelo mercado, que afeta condições financeiras e previsões para a atividade produtiva, resulta de um conjunto de fatores, como a questão dos precatórios, a falta de fontes de financiamento do novo Bolsa Família e a reforma do IR.

Já o dólar reverteu a queda ante o real fechou estável, com perda marginal de 0,03%, a R$ 5,183. De acordo com analistas, a deterioração dos ativos domésticos impediu que o real se beneficiasse de forma mais abrangente da onda global de enfraquecimento da moeda norte-americana, na véspera da divulgação do relatório de emprego (payroll) de agosto nos Estados Unidos.

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