CARESTIA

Poder de compra da nova nota de R$ 200 despenca

Somente 20% das 450 milhões de cédulas produzidas pelo Banco Central, entraram em circulação. A mais recente integrante da família do real perdeu valor rapidamente e, hoje, tem poder de compra bem menor do que quando foi lançada, há um ano

Fernanda Fernandes
postado em 07/09/2021 06:00
Criada para suprir papel-moeda nos pagamentos do auxílio emergencial, cédula compra, hoje, produtos que enchem três sacolas de supermercado -  (crédito: reprodução/bc)
Criada para suprir papel-moeda nos pagamentos do auxílio emergencial, cédula compra, hoje, produtos que enchem três sacolas de supermercado - (crédito: reprodução/bc)

Encher o tanque de gasolina, fazer compras de supermercado por 15 dias ou garantir a carne no prato por, pelo menos, dois meses. Esse era o poder de compra do consumidor com apenas uma nota de R$ 200, há um ano, segundo James Carneiro, de 49 anos de idade, morador da Vicente Pires. O cenário, porém, mudou. “Agora, não consigo encher nem meio tanque com esse valor”, desabafa ele, que, como 14,4 milhões de brasileiros, está desempregado. A alimentação também ficou mais restrita. “Antes, com R$ 200 a gente quase enchia o carrinho de supermercado, agora sai com duas ou três sacolinhas em mãos. Uma compra realmente farta, com carrinho cheio, não fica menos do que R$ 800”, disse o pai de família, que faz bicos como pintor.

Os aumentos apontados por James são comprovados no último IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado em agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No ano, o índice acumulou alta de 5,81% e, em 12 meses, de 9,30%. No caso do setor de alimentação e bebidas, a alta foi de 1,02% somente em agosto.

Lançada há um ano, durante a pandemia, para suprir a necessidade de papel moeda nos pagamentos do auxílio emergencial, a nota de R$ 200 passa pouco pelas mãos dos brasileiros. De acordo com o BC, foram produzidas 450 milhões de cédulas de R$ 200, mas menos de 20% foram colocadas em circulação.

“É mais fácil ver um lobo guará do que uma nota de 200”, brinca James Carneiro, referindo-se ao animal típico do cerrado cuja estampa está na cédula. Embora a nota seja difícil de ser encontrada, o BC afirma que a entrada em circulação da cédula, assim como aconteceria com qualquer outra, ocorre de forma gradual e de acordo com a demanda da sociedade. “O ritmo de utilização da cédula de R$ 200 vem evoluindo em linha com o esperado e seguirá em emissão ao longo dos próximos exercícios”, informou o BC.

O poder de compra da cédula, no entanto, despencou. Ontem, a equipe do Correio visitou uma das unidades de uma grande rede de supermercados do DF. A compra, de R$ 201,42 contou com arroz, feijão, óleo, ovos, frango e outros 18 itens que couberam em três sacolas.

Câmbio

O principal fator que tem causado a inflação é a alta do dólar, afirma o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo Souza Júnior. “A taxa de câmbio tem impacto em tudo. Quando essa taxa fica muito alta, aumentam os custos de produção e os preços sobem”, explicou. Como segundo motivo dos altos preços nas prateleiras, Ronaldo aponta a elevação nos preços das commodities, principalmente agrícolas. “A alta das commodities tem afetado diretamente o preço dos alimentos, impulsionada pela demanda internacional muito forte e por eventos climáticos que afetaram a produção”, diz Souza Junior, referindo-se às secas e às geadas.

Quem mais sente a inflação no bolso é o brasileiro de baixa renda. A última Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, divulgada em julho pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), identificou um valor médio de R$ 560,65 da cesta básica em 17 capitais analisadas. O valor equivale a 55,68% do ganho líquido do trabalhador remunerado com um salário mínimo (R$ 1.100).

O índice Abrasmercado, da Associação Brasileira de Supermercados, traz um número ainda maior. Os dados de junho da Associação apontam que houve uma alta de 22,11% na comparação com maio, passando de uma média nacional de R$ 542,27 para R$ 662,17 no valor da cesta com os 35 produtos de largo consumo nos supermercados.

O poder de compra da cesta com um salário mínimo é o menor em 15 anos. Com base na cesta mais cara que, em julho, foi a de Porto Alegre, o Dieese estima que o salário mínimo necessário deveria ser equivalente a R$ 5.518,79, valor que corresponde a 5,02 vezes o piso nacional vigente. O cálculo é feito levando em consideração uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças.

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Carrinho vazio

Lista de itens colocados no carrinho em 06/9/2021:
1 pacote de arroz de 5kg
2 pacotes de feijão de 1kg
1 pote de margarina
1 pacote de macarrão
1 litro de óleo
1 pacote de sal de 1kg
2 litros de leite
1kg de peito de frango
1 bandeja de ovos
1 bandeja de iogurte
1 pacote de pão bisnaga
1 pacote de 5kg de açúcar
1 pacote de biscoito
1 bandeja de queijo
1 bandeja de presunto
1 kit shampoo e condicionador
1 detergente
1 sabão em pó
1 amaciante
1 água sanitária
1 pasta de dente
1 sabonete
1 pacote de papel higiênico

Valor Total: R$ 201,42

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