CONJUNTURA

Mesmo com inflação e desemprego, varejo volta a crescer

Após tropeço em junho, vendas crescem 1,2% em julho e alcançam o maior patamar da série do IBGE. Apesar do resultado positivo, pesquisa mostra queda em alguns setores como combustíveis, móveis e eletrodomésticos

Fernanda Fernandes
postado em 11/09/2021 06:00 / atualizado em 11/09/2021 07:11
O segmento de combustíveis foi um dos que registraram queda, refletindo, entre outros fatores, a alta dos preços, que afastou o consumidor -  (crédito: Minervino Júnior/CB)
O segmento de combustíveis foi um dos que registraram queda, refletindo, entre outros fatores, a alta dos preços, que afastou o consumidor - (crédito: Minervino Júnior/CB)

O comércio varejista voltou a crescer em julho, apesar da inflação e do desemprego. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas subiram 1,2%, na comparação com junho, quando houve queda de 1,7%. Antes disso, o comércio havia registrado duas altas consecutivas, em abril e em maio. Na comparação com julho de 2020 — uma base muito fraca, já que, na época, as medidas restritivas contra a pandemia estavam bastante rígidas —, houve crescimento de 5,7%. O acumulado no ano chegou a 6,6% e, nos últimos 12 meses, permaneceu em 5,9%.

O IBGE apontou que, em julho, houve alta em cinco dos oito setores pesquisados, entre eles o setor de artigos de uso pessoal e doméstico (19,1%), que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos, brinquedos, entre outras; e vestuário (2,8%). Em contrapartida, a pesquisa também mostra que o brasileiro consumiu menos livros, jornais, revistas e artigos de papelaria (-5,2%), móveis e eletrodomésticos (-1,4%) e combustíveis e lubrificantes (-0,3%).

Expectativa

O resultado da PMC de julho veio acima da expectativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que projetava alta de 0,7% no indicador. “Com a revisão dos dados do mês anterior, o setor engatou o quarto crescimento mensal consecutivo, alcançando agora o maior patamar da série histórica da pesquisa”, informou a Confederação, em nota.

O economista sênior da CNC, Fábio Bentes, explicou que, em julho, a circulação de pessoas ainda estava 12% abaixo do período pré-pandemia, em fevereiro de 2020. Mas, em alguns setores, o comércio já superou os números registrados antes da crise sanitária. “Em artigos pessoais, por exemplo, o faturamento do setor já está 34% acima de fevereiro de 2020. Isso é observado nos segmentos muito ligados ao consumo doméstico, assim como nos materiais de construção que, apesar da queda em julho, teve crescimento de 15,36% em relação a antes da pandemia”, afirmou o economista. Outro setor que caiu em julho, mas está bem na comparação com a pré-pandemia, é o de móveis e eletrodomésticos. “O faturamento já está 3% acima do registrado em fevereiro de 2020”, disse Bentes.

Apesar da alta de 2,8% em julho, o setor de vestuário é um dos que ainda não se recuperaram da crise e está 5,8% abaixo do observado no início de 2020. “O setor ainda não conseguiu colocar o nariz para fora e respirar, por ser muito afetado pela circulação de pessoas. É difícil substituir a venda presencial pela on-line neste setor”, explicou Fabio Bentes. Mas, ao que tudo indica, a recuperação é questão de tempo. Isso porque, na comparação com julho de 2020, o aumento no segmento de roupas foi de 42%. “A atividade respondeu pelo segundo maior impacto positivo na formação da taxa global do varejo”, diz nota técnica do IBGE.

O setor de combustíveis e lubrificantes, embora tenha avançado no acumulado em 12 meses, ainda registrou queda de 0,6% em julho, o que reflete, entre outros fatores, a alta inflação. Na comparação com julho do ano passado, houve alta de 6,4%. “Os combustíveis vêm sofrendo bastante com os aumentos na faixa de mais de 30%, além da mudança de hábito do consumidor, com a queda na circulação que, apesar de ter aumentado, ainda não voltou ao normal”, explicou Bentes. Segundo o economista, parte do problema deve ser resolvido à medida que a circulação de consumidores voltar ao normal.

Veículos

A pesquisa do IBGE também traz dados do comércio varejista ampliado, que inclui o setor de veículos, motos, partes e peças, e do segmento de material de construção. Em julho, o setor de veículos teve variação positiva de 18% e, em um ano, aumentou 25,9%. O percentual, porém, é menor do que os registrados em junho (32,9%) e maio (72,4%) deste ano, o que reflete a escassez de componentes na indústria automotiva. Os materiais de construção, que vinham de uma alta de 25,7% em maio, caíram para 5,4% em junho e, em julho, registraram taxa negativa de 4,7%.

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