O mercado reagiu mal ao aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) anunciado na noite de quinta-feira. As apostas dos analistas eram de que, mesmo com a vocação do governo para engendrar uma crise política atrás da outra, pelo menos a carga tributária seria mantida. Mas, com a elevação do tributo, que quebra uma promessa várias vezes reiteradas pelo presidente Jair Bolsonaro, a insegurança tomou conta dos investidores. O Ibovespa, índice que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) recuou 2,07%, ontem, aos 111.440 pontos. Nessa semana o indicador acumulou perda de 2,49%.
A bolsa acabou devolvendo todos os ganhos que havia conseguido recuperar depois da carta de desculpas do presidente pelo inflamado discurso do 7 de Setembro. No mercado de câmbio, o dólar norte-americano subiu 0,32%, fechando a R$ 5,282 para venda. Todo esse movimento de desconfiança interno foi ajudado pela complicada conjuntura lá fora, com os dados fracos das vendas no varejo na China, que têm impacto na economia global, e com os números da inflação nos Estados Unidos, que sugerem a possibilidade de aumento de juros por lá. Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 0,48%, e a bolsa tecnológica Nasdaq cedeu 0,91%.
A alta do IOF, porém, foi o que mais desanimou o mercado brasileiro. “Há uma preocupação muito grande com os rumos do ajuste fiscal e da responsabilidade com os gastos públicos”, disse o economista Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest. “A questão é como esse aumento de impostos será tratado, o que vai acontecer no Congresso. Mesmo que a desculpa seja nobre (aumentar o valor do Auxílio Brasil), o desgaste foi grande”, assinalou. “Na prática, para o cidadão comum, quem pagava uma fatura de R$ 1 mil e bancava IOF de R$ 25, agora vai pagar R$ 36 de imposto”, calculou Bergo.
O governo espera arrecadar R$ 2,14 bilhões a mais e garantir o pagamento do novo benefício a partir de novembro, em valor estimado de R$ 300 mensais. Para Marcos Ross Fernandes, economista-chefe do Haitong Banco de Investimentos, “a instabilidade política e institucional continua testando os limites”. E não se vê nada que indique que isso vá mudar tão cedo. “Pelo contrário, essa instabilidade tende a piorar com a aproximação das eleições presidenciais e com redução da taxa de aprovação de Jair Bolsonaro”, reforçou.
“Além disso, as perspectivas fiscais permanecem incertas, pois a recomposição do programa de transferência de renda Bolsa Família, de R$ 35 bilhões para cerca de R$ 52 bilhões, e os pagamentos de precatórios, R$ 90 bilhões, ainda não encontraram uma solução consensual. Também a proposta de reformulação do Imposto de Renda não encontrou um meio-termo entre os atores envolvidos e tem um impacto fiscal desconhecido. Ou seja, existem muitos pontos de renúncia fiscal sem contrapartida clara de geração de receita”, lembrou Fernandes.
Setores que lidam com a economia real também reagiram. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), criou o movimento “Basta de Impostos” contra a elevação do IOF. “O decreto, apesar de ter a nobre intenção de custear o programa Auxílio Brasil, impacta negativamente o setor de comércio e serviços, maior gerador de empregos do país, já tão acometido pela pandemia e pelas restrições de funcionamento impostas pela crise sanitária”, explicou.
A confederação lembra que, além de caminhar na contramão das necessidades das empresas, o decreto de Bolsonaro aumenta ainda mais a já elevada carga tributária do Brasil. “A CNDL entende que não é justo pensar em aumento de impostos sem que antes seja discutida a reforma administrativa e, consequentemente, o debate sobre o tamanho do Estado brasileiro. As empresas do setor de comércio e serviços não podem, mais uma vez, pagar a conta de um sistema de arrecadação ao mesmo tempo voraz e ineficiente”, enfatizou.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.