CONJUNTURA

BC confia que reajustes na Selic vão frear inflação, mas desacelerar economia

Por causa do aumento dos juros, a autarquia projeta que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve alcançar 4,7% em 2021, mas cair para 2,1% em 2022

Fernanda Fernandes
postado em 01/10/2021 05:57 / atualizado em 01/10/2021 05:59
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central -  (crédito: RaphaelRibeiro/BCB)
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - (crédito: RaphaelRibeiro/BCB)

O Banco Central (BC) confia que os reajustes na taxa básica de juros, a Selic, irão frear a alta da inflação a curto e médio prazos, mas, como consequência, devem desacelerar a economia. Em relatório trimestral divulgado ontem, a autarquia elevou a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,8% para 8,5% no fim de 2021, bem acima do teto da meta definida pelo governo, de 5,25%. Segundo o BC, a inflação deverá se propagar para 2022, via inércia inflacionária, mas fechará o ano em 3,7%.

No documento, o BC avalia que a inflação acumulada em 12 meses atingirá 10,2% ainda neste trimestre, mas deverá desacelerar em razão do instrumento de controle inflacionário. Por causa do aumento dos juros, a autarquia projeta que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve alcançar 4,7% em 2021, mas cair para 2,1% em 2022.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, admitiu que o ciclo de alta dos juros será mais extenso do que previsto, devido à persistência da inflação. “Essa constância tem contaminado outros índices de inflação, inclusive com os núcleos rodando bem acima das metas. O ajuste (da Selic) é necessário para endereçar isso”, afirmou.

Campos Neto voltou a sinalizar que o BC não colocará limites para o ajuste de juros necessário para conter a inflação. “A coleta de informação nos próximos meses será importante para determinar onde a Selic vai terminar”, afirmou.

A última prévia do IPCA aponta para alta de 1,14% em setembro, acima dos 0,89% registrados em agosto. No ano, o IPCA-15, prévia do indicador oficial, acumula elevação de 7,02% e, em 12 meses, de 10,05%, segundo o IBGE.

De acordo com o BC, a revisão na previsão de inflação foi determinada, entre outros fatores, pela mudança da bandeira tarifária de energia elétrica que passou de vermelha patamar 2, em junho, para a bandeira “escassez hídrica” em setembro.

Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, explica que uma série de fatores inesperados levaram ao aumento na previsão do BC para a inflação. “Tivemos surpresas com escassez hídrica, com o preço do petróleo internacional, que se refletiu nos derivados como gasolina e diesel, e com o impacto de questões climáticas em algumas culturas relevantes do setor agropecuário”, afirmou.

Segundo Abdelmalack, o controle por meio dos juros é importante, mas inevitavelmente interfere no consumo da população e na economia do país. “Influencia o consumo, investimentos em empresas e outros fatores que trazem expectativa de forte desaceleração da atividade econômica em 2022”, completa.

Patrícia Krause, economista-chefe da Coface na América Latina, afirma que a projeção do Banco Central para o PIB de 2021 se mostra mais pessimista que a do mercado. Em contrapartida, as expectativas para o ano que vem são mais otimistas. “Imagino que esse efeito (aumento dos juros) será sentido bem mais forte na economia de 2022 e causará desaceleração. Esses 2,1% para 2022 me parecem muito otimistas, uma vez que as previsões do mercado estão em torno de 1%”, ressaltou.

O relatório do BC explica fatores conjunturais sobre os mais recentes indicadores econômicos, como a queda de 0,1% no PIB no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior, que interrompeu o ritmo de altas iniciado em meados de 2020. Além das questões climáticas e alta em preços administrados como energia elétrica e combustíveis, o documento aponta o agravamento do cenário pelo impacto da variante delta do coronavírus em países asiáticos, e quedas na indústria, como a do setor de produção de veículos, que há meses sofre com a escassez de componentes.

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