Política monetária

Presidente do BC afirma que o objetivo é perseguir a meta de inflação

Qualquer flexibilização na meta pode causar perda de credibilidade, avisa Roberto Campos Neto. Por isso, segundo ele, a intenção é levar os juros básicos da economia ao nível que for necessário

Vera Batista
postado em 04/10/2021 19:45
 (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
(crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou a intenção de “perseguir a meta da inflação” — estimada, pelo governo, em 3,75%, índice muito inferior aos 8,51% divulgadas pelo Boletim Focus. “Qualquer flexibilização gera perda de credibilidade e diminui a potência da política monetária”, argumentou. Ele deixou claro, mais uma vez, que, para chegar à meta, “a taxa básica de juros (Selic) vai chegar ao nível necessário”. Segundo Campos Neto, “é importante ancorar esse processo inflacionário. É um imposto muito perverso para a sociedade”, afirmou.

Essa ancoragem, avaliou Campos Neto, tem que ser no curto e no longo prazos. Ou seja, reverter as expectativas dos agentes de mercado de que os fatores econômicos que pressionam os preços não vão atuar permanentemente, e a situação deverá melhorar a partir de 2022. Em evento online do Jornal Valor, Campos Neto explicou que há uma diferença entre o nível de inflação e o grau de repasse. E manteve a tese de que a inflação chega ao seu maior nível em setembro, e em seguida haverá uma recuo, para fechar 2021 em 8,5% ao ano.

“Setembro teve o nível mais alto em 12 meses (10,05%)”, disse. O presidente da autoridade monetária citou, entre os elementos de maior pressão, o preço dos alimentos e a crise hídrica (que eleva o valor da tarifa da energia elétrica ao consumidor). Campos Neto admitiu que, a princípio, o BC foi “conservador” ao avaliar os perigos da estiagem e do uso da usinas térmicas, mais caras e mais poluentes. “A gente assume o conservadorismo”, disse. E destacou que é difícil não haver repasse de preços, quando “existem aumentos represados”. “O preço subiu, começa o repasse”, descreveu. Entretanto, segundo Campos Neto, o cenário inflacionário, que atingiu o mundo inteiro em consequência da pandemia pela covid-19,  “também começa a melhorar”.

O presidente do BC falou, ainda, dos riscos de o país fugir da intenção de manter o equilíbrio fiscal. Mas ressaltou que “houve melhora no perfil da dívida pública”. “Em 2020, a expectativa era de que a dívida bruta ficasse entre 95% e 100% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país). “Quando olhamos, agora, está em 81%. Houve melhora”.

Programas sociais

Em relação ao financiamento do novo programa social Auxílio Brasil, que ficará no lugar do Programa Bolsa Família, e também sobre os pagamentos dos precatórios, uma fatura de pendências judiciais que chega a R$ 89 bilhões, ele reforçou que, “embora o BC não faça política fiscal, é importante virar essa página”. A questão é que os recursos estão atrelados a vários outros fatores, como reformas do Imposto de Renda, tributária e administrativa. “Um depende do outro”, disse.

“Reitero que o povo quer é virar essa página, saber como será o financiamento e ver como vai funcionar, e se estará calibrada (a medida) pelo arcabouço fiscal. A gente está em um ponto que jogar mais dinheiro não vai fazer mais a economia crescer. O efeito pode ser inflação mais forte depois. Eu entendo que o dinheiro tem que caber dentro do arcabouço fiscal. O importante é a narrativa. Simplesmente dizer como é, como vai ficar e porquê”, avaliou o presidente do Banco Central.

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