O futebol brasileiro sempre arrancou sorriso do torcedor com dribles, chapéus, canetas, gols e jogadores abusados. A exibição de ontem da Seleção na vitória por 4 x 1 contra o Uruguai lembrou a tradicional Festa do Boi de Paritins, no Amazonas. Caprichoso e garantido, o Brasil divertiu como nos bons tempos da Era Tite. Aquele do início do trabalho nas Eliminatórias rumo à Copa de 2018. Mais do que a décima vitória na caminhada rumo ao Catar, houve espetáculo na Arena da Amazônia no reencontro da plateia com o ídolo Neymar e candidatos a xodós como Raphinha.
O gaúcho de Porto Alegre foi a descoberta desta Data Fifa. Deu duas assistências na virada contra a Venezuela, em Caracas, entrou bem no empate com a Colômbia e brilhou no clássico contra o Uruguai. Iniciou o lance do primeiro gol ao acionar Fred. O volante serviu Neymar e o camisa 10 teve frieza para abrir o placar.
Cada vez mais perto de igular a marca de Pelé, Neymar chegou a 70 gols em jogos oficiais pela Seleção. Está a sete do Rei. Tem tudo para alcançá-lo em 2022. Há mais sete jogos pelas Eliminatórias, dois deles em novembro e cinco no ano que vem. Isso sem contar os amistosos antes do Mundial.
Mas o capítulo à parte do jogo não é Neymar. O camisa 10 foi apenas o prefácio do triunfo contra o Uruguai. Raphinha, sim, assumiu o papel de protagonista. No lance do segundo gol, acompanhou de longe um drible de ponta-esquerda do meia Lucas Paquetá na canhota, tentou servir Neymar dentro da área, mas a bola procurou o gaúcho de Porto Alegre. Raphinha entrou em velocidade e estufou a rede celeste.
O Brasil sufocou o Uruguai até o apito final do primeiro tempo. Recuperou o gás no intervalo e deu sequência ao show na segunda etapa. Neymar acionou Raphinha em profundidade e o atacante não desperdiçou a oportunidade. Depois de uma finalização quase perfeita, viu a bola bater na trave antes de entrar.
Fã do conterrâneo Ronaldinho Gaúcho, Raphinha encerra a Data Fifa de outubro com dois gols e duas assistências. Está na Seleção porque o técnico argentino Marcelo Bielsa pediu ao Leeds United o pagamento de 25 milhões de euros para tirá-lo do Rennes da França. O atacante gaúcho chamou mais atenção de Tite na Premier League do que na Ligue 1 e começa a tomar conta de um pedaço do campo que anda amaldiçoado: a ponta direita.
Na Era Tite, passaram por ali Willian, Philippe Coutinho, Douglas Costa, David Neres, Everton Cebolinha, Richarlison, Gabriel Jesus e Everton Ribeiro, mas ninguém se apodera daquela fatia do gramado. Raphinha saiu cansado para dar lugar a Éverton Ribeiro. Mereceu os aplausos da carinhosa torcida amazonense. É cedo para dizer que Raphinha chegou para ficar, mas não faltou personalidade ao jogador revelado pelo Avaí com passagem por Vitória de Guimarães, Sporting e Rennes antes de chegar ao Leeds.
A noite em que o Brasil se reencontrou com a essência de um jogo artístico, usando pontas, dribleas e lances de efeito de forma objetiva, em busca do gol, só foi rapidamente ofuscado por um belo gol de falta de Luis Suárez pegando o goleiro Ederson no contrapé. Gol insuficiente para quebrar um tabu. Gabriel Barbosa ampliou o placar de cabeça após assistência de Neymar e ampliou uma freguesia. O técnico Óscar Washington Tabárez comanda o Uruguai desde 2016. Somando as duas passagens pelo cargo, ele jamais venceu o Brasil. São oito derrotas e dois empates.
Com o triunfo, o Brasil chegou aos 31 pontos, seis à frente da arquirrival Argentina, e está virtualmente classificado para a Copa. Em novembro, os comandantos de Tite terão pela frente a Colômbia, na Neo Química Arena, e a Argentina, fora de casa.
“Não tem como explicar a felicidade que estou sentindo. Não poderia ser mais marcante. Estou realizando um sonho de representar toda uma nação. Ajudar com gol é gratificante”
Raphinha, atacante
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Américas mutilam o PSG
Os desfalques em massa causados pelas convocações das seleções não é mais um problema restrito somente aos clubes brasileiros. Nas últimas semanas, os técnicos Renato Gaúcho, do Flamengo, Cuca, do Atlético-MG, e Abel Ferreira, do Palmeiras, sofreram para escalar os times com as diversas baixas provocadas pela rodada tripla das Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo de 2022. Na Europa, Maurício Pochettino, do Paris Saint-Germain, viverá na pele o drama. O time francês foi mutilado pela data Fifa e jogará, hoje, às 16h, contra o Angers, sem seis atletas.
Assim como no Brasil, as convocações privaram o PSG de utilizar suas principais estrelas: Neymar e Lionel Messi são os desfalques de peso causados pelas seleções da América do Sul. Além dos astros, a Argentina ainda chamou Ángel Di Maria, Leandro Paredes, enquanto o Brasil convocou os serviços de Marquinhos. Além deles, o costarriquenho Keylor Navas vai perder a rodada do Campeonato Francês pelos compromissos de seu país as Eliminatórias da América Central.
Ao contrário do Brasil, onde as baixas provocadas pelo choque entre o calendário das competições nacional e os compromissos da Seleção são frequentes, na Europa a prática não é comum. Por lá, os campeonatos de elite são paralisados no período reservado para as datas Fifa na temporada. E assim foi nesta última janela de jogos internacionais de Liga das Nações e Eliminatórias da Europa. Porém, no caso envolvendo os países da América do Sul, a pandemia acabou provocando os desfalques no time francês.
Com diversas partidas adiadas durante o auge da pandemia de covid-19, no ano passado, a Conmebol precisou correr atrás do tempo perdido para definir os representantes do continente na Copa do Mundo do Qatar. Para isso, com autorização da Fifa, a entidade passou a realizar três rodadas por vez, ao contrário dos tradicionais dois jogos internacionais previstos em cada janela. Com isso, o período em que os jogadores convocados ficam com suas seleções subiu em três dias.
Em coletiva, Pochettino riu quando perguntado como poderia “se blindar” contra os desfalques causados por seleções. "Não podemos fazer nada. Nada mesmo. Os clubes, de certa forma, estão indefesos neste tipo de situação. É necessário fazer referência às federações nacionais, porque é do seu interesse e dos clubes. É claro que isso é algo a revisar no futuro. Porque não há equilíbrio, nem do ponto de vista econômico, nem do ponto de vista esportivo. Existe um desequilíbrio que deve ser revisto", disse.
Se o PSG teve maior estrago em quantidade, os times nacionais precisaram lidar por mais tempo com a ausência dos principais jogadores. Envolvidos na briga pelo título da Série A do Campeonato Brasileiro na época dos chamados, o Flamengo teve quatro desfalques (Isla, Arrascaeta, Everton Ribeiro e Gabigol) e o Atlético-MG, três (Guilherme Arana, Junior Alonso e Alan Franco), mesmo número de baixas do Palmeiras (Weverton, Gustavo Gómez e Piquerez). Com o panorama, foram necessários remendos nas equipes titulares em três rodadas.
Além dos jogadores de Brasil, Argentina e Costa Rica, o Paris Saint-Germain teve outros onze jogadores convocados por seleções europeias e africanas: Kimpembe e Mbappé estiveram com a França; Donnarumma e Verrati defenderam a Itália; Nuno Mendes e Danilo defenderam Portugal; Diallo e Gueye foram chamados por Senegal; Kehrer esteve com a Alemanha; Wijnaldum com a Holanda; e Hakimi com Marrocos. Todos, porém, voltaram na quarta-feira e estão à disposição de Pochettino.
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desfalques
terá o time francês, hoje, contra o Angers: Neymar, Messi, Di Maria, Paredes, Marquinhos e Navas não jogam