ALIMENTOS

Dieta saudável é 60% mais cara

Segundo representante da FAO no Brasil, preço elevado impede acesso de 40% das pessoas no mundo a comida com bons teores de nutrientes. Para ele, é preciso redefinir os sistemas produtivos e de logística para reduzir o custo da alimentação

Bernardo Lima*
postado em 15/10/2021 23:58 / atualizado em 16/10/2021 02:32
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Embora muito se fale na necessidade de uma alimentação saudável, cerca de 40% da população do mundo não tem condições de consumir produtos que façam bem à saúde. E a principal razão é o preço. Segundo o representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, Rafael Zavala, o custo médio de uma alimentação saudável é cinco vezes maior do que o de uma dieta com baixo índice nutricional. “Isso é inaceitável”, disse ele, em entrevista ao programa CB.Agro — parceria entre o Correio e a TV Brasília.

“Uma dieta saudável é cinco vezes mais cara que uma dieta apenas caloricamente suficientemente, e custa 60% mais do que uma com nutrientes adequados, mas não equilibrada. Isso não pode continuar, temos que nos esforçar para diminuir o consumo de água e gerar uma melhor qualidade da produção”, afirmou Zavala. Essa diferença de preços limita o acesso de quase metade da população mundial a uma alimentação adequada. “Isso é uma vergonha!”

Zavala explicou que não é simples contornar esse problema, cuja solução exige iniciativas em várias áreas. “Temos que ter sistemas alimentares em equilíbrio, reduzindo o custo de transportes e a geração de gases do efeito estufa. À medida que pudermos gerar sistemas alimentares curtos, será possível atingir uma dieta menos custosa. Não é fácil, porque isso também depende de situações climáticas e demográficas, mas é possível”, disse.

Fome
De acordo com o representante da FAO, o número de pessoas que passam fome no mundo aumentou em 100 milhões de pessoas por causa da pandemia da covid-19. “Por um lado, estamos em um planeta que produz alimentos em quantidade suficiente para que ninguém passe fome. Ao mesmo tempo, 2 bilhões de pessoas estão em uma situação de insegurança alimentar moderada ou severa, e 800 milhões passando fome. Eram 700 milhões, mas, com a pandemia, esse número aumentou em 100 milhões” declarou.

Das 800 milhões de pessoas em situação de fome, 20 milhões são brasileiras. “O Brasil é um celeiro de alimentação para o mundo. Então não podemos suportar essa situação, em que muitos países que são grandes produtores de alimentos têm tantas pessoas passando fome” afirmou.

Zavala detalhou que a pandemia mudou a forma de consumir alimentos, já que as pessoas foram obrigadas a optar por produtos mais baratos “A quantidade de salsichas consumidas, hoje, é muito mais alta, enquanto o consumo de carnes e peixes tem diminuído”, relatou.

Entre os três maiores exportadores de alimentos no mundo, o Brasil tem papel fundamental no abastecimento do planeta com produtos como carnes e grãos. “O Brasil está entre os três maiores exportadores de alimentos. Não somente com milho, soja, mas também com proteína animal, produzindo frango para 60% dos países árabes, por exemplo.”

Zavala disse que o país assumiu compromissos para garantir a segurança alimentar no mundo. “Na Cúpula Mundial dos Sistemas Alimentares, a ministra Tereza Cristina assumiu quatro compromissos: produzir mais com menos superfície, ou seja, desmatamento zero; fortalecer os sistemas de alimentação escolar; desenvolver a pecuária sustentável; e diminuir os desperdícios de alimentos no país”, relatou.

*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo


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Inflação das famílias pobres é maior

Os mais pobres foram os mais afetados pela inflação, em setembro. De acordo com estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a alta dos preços foi mais acentuada para as famílias de renda muito baixa (1,30%), comparativamente à apurada no grupo de renda mais elevada (1,09%).

De acordo com o estudo, o grupo de habitação foi o que mais contribuiu para a alta inflacionária das famílias mais carentes, em setembro. “Para as famílias de renda muito baixa, os reajustes de 6,5% das tarifas de energia elétrica, de 3,9% do gás de botijão e de 1,1% dos artigos de limpeza, foram os principais responsáveis pela alta do grupo habitação. Esse aumento responde por mais da metade da inflação para o segmento”, aponta o estudo.

A pesquisa observa que o segundo segmento que mais influenciou a inflação das famílias de menor renda foi o de alimentos em domicílio, puxados especialmente pelo aumento das frutas (5,4%), das aves e ovos (4,0%) e dos leites e derivados (1,6%).

“Já para as faixas de renda mais alta, assim como ocorreu em agosto, o maior impacto partiu do grupo de transportes. A alta inflacionária desse segmento foi influenciada pelos reajustes de 2,3% da gasolina, de 28,2% das passagens aéreas e de 9,2% dos transportes por aplicativo”, detalha o estudo.

Acumulado
A diferença dos efeitos da inflação entre as faixas de renda se mantém quando se consideram períodos mais longos. Os dados acumulados nos últimos 12 meses revelam que, embora a pressão inflacionária tenha acelerado para todas as classes, a inflação acumulada nas famílias de renda mais baixa (11%) foi 2,1 pontos percentuais maior que a registrada na classe de renda mais alta (8,9%).

Para as famílias de renda muito baixa, os dados revelam que, além dos aumentos nos preços dos alimentos no domicílio, como carnes (24,9%), aves e ovos (26,3%) e leite e derivados (9,0%), os reajustes de 28,8% da energia e de 34,7% do gás de botijão explicam grande parte da alta inflacionária nos últimos 12 meses.

“Já para as famílias com maiores rendimentos, a inflação acumulada no período é impactada, sobretudo, pelas variações de 42,0% dos combustíveis, de 56,8% das passagens aéreas, de 14,1% dos transportes por aplicativo e de 11,5% dos aparelhos eletroeletrônicos”, afirma o estudo.

O economista André Braz, da FGV, explica que os alimentos pesam muito mais para o orçamento dos menos favorecidos. “A alta da alimentação acumulada em 12 meses está acima da inflação média. Há, também, despesas relacionadas a energia e gás de cozinha, que também subiram muito. Então, exatamente as despesas mais básicas do orçamento familiar, como colocar comida na mesa e levar energia e gás para casa foram os vilões da inflação neste período”, explicou.

Segundo o economista, como esses orçamentos são de baixa renda, são despesas que subiram mais durante a inflação é natural perceber 20% a mais da inflação para os menos favorecidos. “É por isso que a gente decompõe a inflação por faixas de renda, exatamente para enxergar como o fenômeno vem se manifestando entre os grupos sociais. E como ele está no orçamento dos menos favorecidos percebe uma pressão inflacionária maior”, afirmou. (FS)

11%

Inflação acumulada nos últimos 12 meses para as famílias de renda mais baixa

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