O mercado financeiro viveu ontem mais um dia de forte instabilidade, com os investidores reagindo negativamente aos últimos movimentos do governo para viabilizar o Auxílio Brasil, programa social com que o presidente Jair Bolsonaro conta para alavancar sua candidatura à reeleição no próximo ano. Diante da percepção de aumento do risco fiscal, o dólar fechou em alta de 1,92%, cotado a R$ 5,668 para venda, maior patamar desde 14 de abril. Durante o dia, porém, a moeda norte-americana chegou a bater em R$ 5,69.
Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), teve retração de 2,75%, para 107.735 pontos, menor nível desde 23 de novembro do ano passado. Durante o pregão, o indicador chegou a operar em baixa de 4,5%. Com os investidores fugindo do risco da bolsa e procurando refúgio no dólar, a queda no valor das ações foi generalizada. Entre os papéis que compõem o Ibovespa, apenas Suzano ON (1,65%) e BB Seguridade ON (0,80%) conseguiram terminar o dia em alta.
A percepção negativa contaminou também investidores externos. O spread (diferença entre taxas) dos contratos de cinco anos de Credit Default Swaps (CDS) do Brasil, uma medida de risco-país, operaram, no fim da manhã ontem, em 220 pontos, de acordo com as cotações do IHS Markit. Foi o maior patamar desde 12 de abril, quando o spread chegou a 222 pontos.
O economista Otto Nogami, professor de economia do Insper, explicou que risco Brasil alto significa que os parâmetros macroeconômicos do país estão desequilibrados, agravados pela fragilidade estrutural que a economia brasileira apresenta. “A falta de uma política econômica clara e racional para os próximos meses aumenta a apreensão sobre o futuro da nossa economia. Em linhas gerais, significa que não é recomendável investir no país, seja no setor produtivo seja no setor financeiro”, disse.
O efeito do estresse que tomou conta do mercado pôde ser visto também na curva de juros do mercado. Os contratos de depósitos interfinanceiros (DI), que são operações feitas entre bancos e corretoras, tiveram as taxas elevadas em todos os principais vencimentos: janeiro de 2022 (de 7,74% para 7,89% ao ano); janeiro de 2023 (de 10,16% para 10,58%); janeiro de 2025 (11,14% para 11,50%) e janeiro de 2027 (de 11,48% para 11,78%)
Com a forte oscilação de preços e taxas de juros, as negociações de títulos públicos via Tesouro Direto foram suspensas por suas vezes, ontem. Com isso, os investidores só puderam comprar ou vender papéis Tesouro Selic, cujo rendimento é atrelado à taxa básica de juros definida pelo Banco Cetral.
O economista-chefe da Bluemetrix Asset, Renan Silva, explicou que o teto de gastos é visto pelo mercado como um instrumento importante para garantir a responsabilidade fiscal. Ao não respeitar o teto, acrescentou Silva, o governo abre precedentes para novas despesas que não estão equacionadas no Orçamento “À medida que você não respeita o teto de gastos, abre espaço para pressões para outras despesas vindas de parlamentares para atenderem a interesses eleitorais.”
Renan explicou que o reflexo dessa situação é o aumento da taxa de juros e a piora da inflação “Na medida que temos um aumento do risco de investir no Brasil, os agentes econômicos pedem maior taxa de juros, que já está aumentando em razão da inflação. Então, o financiamento de tudo fica mais caro”, afirmou. Segundo Otto Nogami, tudo isso está acontecendo por uma atuação irresponsável do governo na política fiscal, levando a um clima grande de incerteza. “Podemos dizer que estamos indo ao porão do buraco”, resumiu.
*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
“A falta de uma política econômica clara e racional para os próximos meses aumenta a apreensão sobre o futuro da nossa economia. Em linhas gerais, significa que não é recomendável investir no país, seja no setor produtivo, seja no setor financeiro”
Otto Nogami, professor de economia do Insper
R$ 5,67
Cotação de fechamento do dólar comercial, ontem
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