OPINIÃO

Artigo: "Guedes no boteco"

Uma boa forma de saber como vai a popularidade do governo é observar a opinião do povo em um clássico barzinho da cidade

Adson Boaventura
postado em 22/10/2021 22:07 / atualizado em 01/11/2021 22:46
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Quer saber como anda a popularidade do governo Bolsonaro? Vá a um boteco frequentado por aposentados, um daqueles que bolsonaristas iam antes das últimas eleições e nos primeiros anos de governo. Vá e veja que o jogo virou.

Estava de folga, tomando uma cerveja e assistindo o noticiário esportivo em um desses botecos que mencionei antes. Pelo WhatsApp, fiquei sabendo da coletiva de Paulo Guedes, em meio a rumores sobre a demissão dele. Pedi para o dono do bar colocar na tal coletiva.

Quando apareceram na tela Bolsonaro e o "Posto Ipiranga", o descontentamento dos senhores aposentados, muitos das forças de segurança (o bar fica perto de um prédio de militares) dominou o ambiente.

"Olha aí os dois inúteis". "Não conseguem fazer nada". "Não estão nem aí para o povo". "Ladrão igual ao Lula. Lucrando no exterior com o dólar em alta". Um ou dois ainda mantinham o apoio ao governo e ficaram ouriçados com o nome de Lula. "Vota lá no Lula, e nem vai precisar ir para Cuba. Já será aqui". Um dos descontentes com o governo Bolsonaro emendou: "Cuba, Venezuela? O Brasil já virou esses países, e com o Bolsonaro no poder."

A coletiva já estava longa e desinteressante. Quando Bolsonaro se retirou e apenas Guedes ficou na bancada, o boteco todo comentou: "É agora, ele vai pedir para sair. Não dá conta, fraco demais. Viu quanto que está o dólar? R$ 6,50. E essa greve dos caminhoneiros?". Bolsonaro apareceu na coletiva apenas como figurante, para mostrar que Guedes continuava tendo sua confiança e que permaneceria no cargo.

Na tevê, Guedes seguia falando sobre o furo do teto, as debandadas do ministério e a alta do dólar. Negou ter pedido demissão e falou que nossa economia ainda terá alta neste ano. Mas quem acredita no governo?

Nem os senhores botequeiros da reserva e os tiozões do churrasco acreditam mais nesse povo. Os caminhoneiros, que já estiveram alinhados a Bolsonaro anteriormente, recusaram o auxílio diesel e mantêm a greve para o dia primeiro. Se o movimento vingar, será a pá de cal no governo e o início (ou fortalecimento) de uma convulsão social. Desabastecimento, inflação disparada e democracia ameaçada. Os próximos venezuelanos que os bolsonaristas adoram lembrar podem ser nós, tentando cruzar a fronteira do Uruguai ou da Argentina.

Um motorista de Uber que investe no mercado me falou, há duas semanas, enquanto eu voltava do trabalho para casa: "costumo diversificar muito minhas aplicações e também passei a investir na bolsa. Mas a melhor opção, atualmente, é ter dólar". O conselho foi para mim, mas Paulo Guedes e sua offshore se anteciparam. Ele está sempre atento ao mercado.

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