Resultados corporativos do terceiro trimestre no Brasil dão fôlego ao Ibovespa, que supera o ritmo das bolsas de Nova York, que seguem indefinidas. Os juros futuros tentam dar uma trégua e cedem, ainda que investidores continuem preocupados com as condições da economia doméstica, diante de um cenário com fiscal incerto, pressão inflacionária, Selic elevada e baixo crescimento econômico em 2022, inclusive com possibilidade de recessão. Já o dólar apresenta instabilidade, com recuo moderado.
Ações com participação relevante na carteira do Ibovespa puxam a alta, com destaque para o setor financeiro, com valorização superior a 2% em alguns papéis, em meio à expectativa de balanços fortes do segmento, após o Santander informar seus números. O lucro do banco no Brasil foi o segundo maior do grupo espanhol entre janeiro e setembro, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
O diretor financeiro do Santander Brasil, Angel Santodomingo, disse que o banco atraiu 1,6 milhão de novos clientes no terceiro trimestre deste ano, recorde histórico. A Unit de Santander subia 1,57% e a ação do Bradesco avançava na casa de 2%, enquanto os demais papéis de bancos ganhavam cerca de 1% perto de 10h40
A valorização do Ibovespa ainda tem como destaque mineradoras e siderúrgicas, também após o balanço forte da Gerdau. Os papéis da companhia subiam 1,78%, mas CSN ON (3,07%) ia além. Já Vale tinha alta de apenas 0,03%. Vale e Petrobras divulgarão seus resultados para o terceiro trimestre na quinta-feira, 28.
De todo modo, ainda continua ecoando nos mercados domésticos o estresse fiscal causado pela proposta de mudança no teto de gastos do governo para viabilizar um auxílio de R$ 400 em 2022. Para completar, o investidor fica de olho no adiamento da votação da PEC dos Precatórios, possivelmente para hoje, sem falar na espera pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Ontem, o índice Bovespa fechou em queda de 2,11%, aos 106.419,53 pontos, após o IPCA-15 reforçar pressão inflacionária persistente e, consequentemente, juros mais altos.
O Copom do Banco Central (BC) define hoje a taxa Selic, que atualmente está em 6,25% ao ano, e a mediana das estimativas na pesquisa Projeções Broadcast indica alta de 1,5 ponto porcentual, para 7,75%. Contudo, já há instituições esperando aumento de dois pontos no juro básico nesta quarta-feira. A despeito disso, o comunicado do Comitê será visto com lupa pelo mercado, à medida que, como indicou o IPCA-15 de outubro, que subiu 1,20%, atingindo o nível mais alto para o mês desde 1995.
No Brasil, apesar de a taxa de desemprego no trimestre ter desacelerado e ter ficado dentro do esperado - ficou no piso das estimativas de 13,2%, depois de 13,7% -, o mercado de trabalho ainda preocupa. Segundo Wanessa Guimarães, CFP e sócia da HCI Invest, ainda há um número elevados de desempregados, em meio a uma inflação elevada, que tende a comprometer ainda mais o poder de compra das famílias.
Conforme Wanessa, a expectativa hoje nos mercados pela votação da PEC dos Precatórios e pela decisão do Copom. "Isso pode penalizar mais a Bolsa", diz, completando que mais do que saber de quanto será o aumento da Selic hoje, será importante ver a sinalização do Banco Central, de como avalia o cenário à frente.
Neste sentido, acredita que será importante ficar de olho no comunicado do Copom hoje à noite. Em sua visão, mais do que a decisão em si - o quanto elevará o juro básico - será importante ver qual é o cenário do BC à frente. Isso mais a expectativa pela votação da PEC dos Precatórios pode impedir alta do Ibovespa, estima Wanessa.
De acordo com o economista-chefe da Necton, André Perfeito, a decisão de adiar a votação da PEC dos Precatórios traz mais dramaticidade à já tumultuada decisão do Copom. Em nota, afirma, que a indefinição sobre a questão fiscal tem criado estragos profundos na estrutura à termo da taxa de juros e deve continuar criando problemas ao mercado de capitais. "Fora a batalha da Câmara, a PEC tem que passar ainda por um Senado que tem dado sinais de resistência às propostas do Planalto", afirma.
Com juros mais altos, a atratividade ficará maior na renda fixa, podendo encarecer custos de empresas que têm capital alto e, com isso, afetar seus balanços, observa em relatório Vitor Miziara, da Criteria Investimentos. "Já vemos fluxo saindo Bolsa", diz, lembrando que já há taxas estimadas em dois dígitos para a Selic a fim de conter a inflação que, conforme o BC tem dito, é temporária.
O cenário externo também requer cuidado, especialmente por causa do noticiário da China. Temores de que Pequim tome medidas para tentar estabilizar os preços do carvão no longo prazo derrubaram os papéis de companhias do setor nas bolsas asiáticas.
O preço do minério de ferro negociado no porto chinês de Qingdao, fechou com queda de 2%, a US$ 119,86 a tonelada. As ações da Vale cediam 0,77% às 10h52, enquanto Gerdau caía 0,78%, após subir reagindo ao forte balanço do terceiro trimestre. Apesar da queda em torno de 1% do petróleo no exterior, com aumento nos estoques nos EUA, as ações da Petrobras subiam em torno de 0,50%.
"Fora isso, algumas incorporadoras China começam a procurar bancos e credores para tentar pagamento de alguns bônus, já prevendo problemas maiores, um efeito dominó por causa da Evergrnade (endividada). Porém, não traz tanto impacto para o mundo todo", diz.
Às 10h54, o Ibovespa subia 1,27%, aos 107.770,79 pontos, após máxima diária aos 107.928,73 pontos. O dólar à vista caía 0,20%, a R$ 5,5621. Na renda fixa, as taxas tinham queda moderada.
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