Atividade econômica

Guedes parte para a campanha eleitoral e diz que Brasil crescerá 5% neste ano

Para ministro da Economia, as previsões do mercado são pessimistas. "Vamos ver o que vai acontecer", disse em evento do Bradesco

Rosana Hessel
postado em 17/11/2021 22:43 / atualizado em 17/11/2021 22:44
 (crédito: Edu Andrade/Ascom/ME)
(crédito: Edu Andrade/Ascom/ME)

O ministro da Economia, Paulo Guedes, partiu para a campanha eleitoral e voltou a atacar as projeções pessimistas do mercado, que indicam que o Brasil avança menos do que o resto do mundo, contrariando a fala dele para os investidores árabes, durante a recente viagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a Dubai. Para ele, o Brasil poderá crescer mais de 5%, neste ano, e também no ano que vem, porque existe um “pipeline” de investimentos contratados que vão estimular a atividade.

Guedes voltou a discordar das estimativas de queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022 e disse que os pessimistas vão continuar errando. “Eu discordo das previsões dos bancos e digo isso, porque estou falando sobre fatos”, afirmou Guedes, na noite nesta quarta-feira (17/11), em evento virtual do Bradesco BBI. “Eu não comento previsões. Eu falo sobre fatos. O Brasil caiu menos e recuperamos rápido (em 2020). Quero ver a Europa crescendo 6%, os Estados Unidos crescendo 6%, o Japão crescendo 6%... Mas o Brasil vai crescer mais de 5% neste ano. Vamos ver o que vai acontecer. Vai ser uma vergonha”, declarou Guedes, fazendo suas projeções mais otimistas do que o mercado.

Segundo o ministro, no próximo trimestre, quando bares, restaurantes e escolas reabrirem, a economia voltará com mais força. “Tente fazer reserva nas suas férias de fim de ano no Brasil, está tudo reservado", afirmou. Mais cedo, o Ministério da Economia divulgou novas previsões macroeconômicas e reduziu de 5,3% para 5,1%, a estimativa de avanço do PIB brasileiro, neste ano, e de 2,5% para 2,1%, a previsão para o ano que vem. Esses dados estão acima da mediana das previsões do mercado do boletim Focus, do Banco Central, de 4,88% e de 0,93%, respectivamente.

De acordo com o ministro, o problema do Brasil não será o crescimento, mas a "inflação resiliente". “Eu não faço previsões, mas todos os setores estão bombando e temos mais de R$ 500 bilhões (de investimentos) assinados e não vejo como o Brasil não vai crescer no ano que vem. No ano que vem vamos ver que o país vai crescer”, afirmou.

O chefe da equipe econômica reconheceu que a inflação não é um problema apenas do Brasil, mas global e essa alta dos preços "é estrutural". “A inflação está aumentando no mundo inteiro. É um novo inimigo, mas sabemos como lutar”, disse. Ele disse que os bancos centrais globais estão fazendo "um grande trabalho" produzindo bolhas "em vários setores, como o de tecnologia, o imobiliário e o corporativo”.

 

Críticas ao FMI


O chefe da equipe econômica também não poupou críticas à economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath, que anunciou, no mês passado, que deixará o cargo em janeiro de 2022 para retomar o cargo no Departamento de Economia da Universidade de Harvard, quando sua licença para o serviço público chega ao fim.

Para Guedes, a economista indiana, primeira mulher a assumir o cargo no Fundo, acabou sendo trocada porque errou muito as previsões. “O FMI vai trocar a economista-chefe. Era uma garota legal, mas eu disse a ela que discordava das previsões, porque errou muito”, disse, mencionando a previsão do Fundo no auge da pandemia da covid-19 de que o PIB brasileiro iria cair 9,7%, mas o país acabou encolhendo 4,1%, menos do que países desenvolvidos. “Ninguém sabia o que estava acontecendo. Eu disse a ela: você tem que ser humilde, porque os parâmetros estão instáveis”, frisou.

 

Viagem ao Oriente Médio

Ao comentar sobre a viagem que fez com o presidente aos Emirados Árabes, Guedes disse que o Brasil é uma “nova fronteira de investimentos” para atrair os petrodólares e que, nesse sentido, chegou a oferecer até o Flamengo para os investidores comprarem. “Assim eles transformam o time em uma máquina, como fizeram com o Manchester, que contratou o Cristiano Ronaldo”, disse o ministro em referência ao tradicional time de futebol britânico que tem o craque português no elenco.

Guedes acrescentou que queria ver o Messi jogando no time carioca. Ele disse, em tom de brincadeira que, o Bolsonaro, que é palmeirense, também ofereceu o Palmeiras para os árabes.


“Tivemos muitas reuniões e dissemos que há muito ruído negativo, mas não tem problema, porque a democracia é barulhenta. As boas notícias eles entenderam e planejam reciclar os petrodólares. Falamos do Porto de Santos, da Eletrobras e em como eles podem nos ajudar na área de petróleo, porque eles são mestres nessa área”, contou o ministro. "Falamos que temos um pipeline de contratos assinados, de mais de US$ 100 bilhões, em gás natural, petróleo, portos e eletricidade. Todos os dias temos boas notícias", acrescentou. 


Discurso eleitoreiro

Durante o discurso, o ministro adotou um tom eleitoreiro ao criticar os governos anteriores, principalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), afirmando que todos os mandatários interferiram no mercado e nos preços para se reelegerem.

“O Fernando Henrique manipulou o câmbio para aprovar a emenda da reeleição. Foi um grande erro e agora vemos a mesma coisa quando vemos as transições”, disse ele, citando o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e da ex-presidente Dilma Rousseff.

Nesse sentido, Guedes, admitiu que há “muitas pressões” tanto do presidente Bolsonaro quanto de parlamentares, para um controle maior no aumento de preços, mas ele disse que prefere “jogar dinheiro para os pobres”, do que adotar alguma medida de controle de preços.


“A Eletrobras e a Petrobras foram destruídas no controle de preços em anos de eleições”, afirmou o chefe da equipe econômica. “Há muitas pressões do presidente e dos políticos, mas eu gostaria de usar primeiro nosso melhor instrumento que é adotar medidas sustentáveis de erradicação da pobreza”, acrescentou.

O ministro voltou a defender a criação de um fundo para o combate à pobreza com recursos de privatizações para “transferir riqueza” da venda das estatais. “Se temos um governo rico, vamos distribuir”, disse Guedes, que não conseguiu cumprir a promessa de privatizar tudo e arrecadar R$ 1 trilhão. “A única solução é privatizar e transferir os recursos para remover a pobreza nos próximos quatro a cinco anos”, defendeu.

 

Precatórios e reformas

Apesar da deterioração das expectativas em relação à questão fiscal por conta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que tramita no Congresso e prevê pedaladas nas dívidas judiciais e altera o indexador do teto de gastos, o ministro também voltou a defender a medida. Para o ministro, a medida é positiva porque dá mais previsão para as despesas judiciais. Ele ainda criticou os senadores que pretendem tirar os precatórios do teto. "É um erro grave", afirmou.

Em tom eleitoreiro, Guedes também não poupou críticas aos que são contrários às reformas propostas por ele, como a administrativa e, principalmente, a do Imposto de Renda, que prevê a taxação de dividendos em 15% e que está travada no Senado Federal. “Os ricos vêm aqui para paralisar a reforma é um plano errado. Nenhum candidato fará uma reforma tributária tão liberal como o que estamos fazendo. A carga tributária vai continuar alta e isso será muito ruim. Esperamos uma atitude diferente do Senado sobre o assunto e reconsiderem”, afirmou.

 

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