Quando a pandemia de covid-19 deu uma trégua para o comércio, e os empreendedores puderam reabrir as portas e retomar as vendas presenciais, surgiu um outro vilão: a inflação, que encareceu o custo de matérias primas e insumos. Além disso, a disparada dos preços levou o Banco Central a subir os juros, o que inibiu os negócios, especialmente das micro e pequenas empresas (MPE).
Pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou um índice de continuidade de 85% dos empreendimentos no Brasil, mesmo com o baque gerado pela crise sanitária. No entanto, os empreendedores têm se sentido pressionados com os elevados preços das mercadorias, combustíveis e insumos. Uma parcela de 62% do segmento tem feito malabarismo para manter os negócios diante do cenário atual.
Pedro Ribeiro, 21 anos, proprietário do restaurante Cúrcuma Tempero Brasileiro é um exemplo. Localizado em Vicente Pires, o empreendimento tem dois andares, self service diário, espaço para eventos e, atualmente, aceita encomendas para a ceia de Natal. Pedro abriu o restaurante em fevereiro de 2020, com um investimento inicial de R$ 150 mil. Uma semana depois, teve que fechar devido à pandemia.
"A situação atual não está das melhores. Precisei recorrer a linhas de crédito e vendi uma casa para quitar as dívidas que fiz para iniciar o restaurante. Meu pai também pegou linha de crédito para dar uma guinada no negócio. Tivemos amigos que forneceram uma certa quantia de dinheiro para nos ajudar, o que em muitos momentos foi importante", relembrou o jovem.
Na avaliação de Valdir Oliveira, diretor superintendente do Sebrae no DF, a situação é preocupante, pois os custos diários não abrem espaço para se reinvestir na própria empresa — o que é fundamental para girar o negócio. "Se o crédito não chegar aos mais necessitados, principalmente pelas microempresas, e se não conseguirmos desonerar os pequenos negócios com isenções tributárias e desburocratização para que eles reinvistam em seus negócios, será mais difícil a recuperação", alertou.
Outro motivo de reclamação frequente tem sido as despesas com gás e energia elétrica. Segundo a pesquisa, 77% das MPE sentiram o impacto da alta dos preços. Kendy, como é conhecido, é proprietário do salão Kendy Coiffeur e relata que, a crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus foi a pior que já enfrentou. Mas, no momento, o novo combate é com a conta de luz. Para o dono do salão, embora o resultado do mês seja proporcional ao uso dos instrumentos de trabalho, o preço da energia dobrou. "O salão de beleza consome muita energia. Temos ar-condicionado, secador, lavatório, lavadora, secadora, além da iluminação, que é muita", explicou.
Sobre a alta dos preços de matérias-primas e insumos, o gerente de Análise Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo, avalia que o pior já passou, mas diz que a recuperação ainda deve demorar. "Tanto a CNI como os empresários já se frustraram muito por achar que essa melhora ia ser rápida. Esses problemas vão se espalhando pela economia, então é preciso estar preparado", frisou.
Fim de ano
Normalmente, o fim do ano é a época de maior faturamento para os empreendedores em geral, por isso é tão esperada. Mas, pela análise de Valdir Oliveira, em 2021 o período não será o suficiente para recuperar o fôlego das MPE. "Segundo pesquisas, a pequena empresa não suporta, em média, mais do que 27 dias sem faturar. Ficaram meses. Estão praticamente todos quebrados. A solução encontrada pelo governo foi o crédito. Mas as pequenas empresas que tiveram acesso se endividaram, prejudicando ainda mais a sua capacidade de alavancagem. Infelizmente, estamos chegando ao fim do ano com pouco ou nenhum fôlego para aproveitar o melhor momento de faturamento", diz.
*Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo
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