ATIVIDADE ECONÔMICA

Para Guedes, quem prevê queda no PIB em 2022 está usando variáveis 'fictícias'

"Este é um país que vai voltar a crescer com a vacinação em massa. Está tudo voltando. Por que eu vou concluir que o país não vai crescer? Tem que usar uma variável dummy (fictícia)", diz Paulo Guedes em evento do Itaú Unibanco, que prevê queda de 0,5% do PIB em 2022

O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou minimizar o aumento dos riscos fiscais que tem levado analistas do mercado a revisarem para baixo as perspectivas para a economia brasileira em 2022. Segundo Guedes, quem não enxerga a retomada em V do Produto Interno Bruto (PIB) como ele vê, está maquiando os números com variáveis “fictícias”.

“Há muitas críticas de não haver investimento e crescimento baixo. Eu olho para isso e lembro dos economistas que falam que o V era de virtual. Eu estava vendo os sinais de vitalidade ativados”, disse ele, na última quinta-feira (10/11), no evento Macrovision 2021, organizado pelo Itaú Unibanco, ao relembrar os dados pessimistas durante a pandemia em 2020. 

Mas o próprio ministro inflou as projeções de investimento no país, principalmente, os quase R$ 50 bilhões previstos no leilão de concessão do 5G realizado na semana passada. “E, agora, quando falam que o PIB não vai crescer, temos R$ 540 bilhões de contratos de investimentos e, com mais R$ 150 bilhões do 5G, o país está com R$ 700 bilhões de investimentos contratados. Este é um país que vai voltar a crescer com a vacinação em massa. Está tudo voltando. Por que eu vou concluir que o país não vai crescer? Tem que usar uma variável dummy (fictícia)”, acrescentou, em tom de ironia no evento do banco que prevê queda do PIB em 2022.

Logo em seguida, ao ser questionado pelo economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, sobre a desaceleração mundial que deverá ser encabeçada pela China, maior parceiro comercial do Brasil, o ministro reconheceu que o ano de 2022 será desafiador. “Vejo complexidade e esse é um problema sério. O covid é um complicador adicional ao problema”, afirmou Guedes, admitindo piora no cenário externo. “A notícia é ruim no ambiente internacional e não vai melhorar. Vai ter inflação e desaceleração. E o V deles não é como o nosso, não pode ser engatado em uma recuperação cíclica”, disse.

De acordo com com o ministro, devido à inflação global, os bancos centrais precisarão elevar os juros no ano que vem. "Todo mundo vai ter que recuar, só que acho que Brasil tem dinâmica de investimentos, como se fosse a curva em S, investimento real disparando, então os juros vão subir, porque nós estamos freando, estamos desacelerando um pouco o crescimento", afirmou.

Pelas estimativas do ministro, o Brasil tem potencial de crescer de 3,5% a 4% ao ano “em velocidade de cruzeiro”, se destravar a agenda de reformas e de consolidação fiscal que ele prometeu e não está conseguindo deslanchar.

Acompanhando a piora das previsões do mercado, o Itaú Unibanco, que tinha uma das previsões mais otimistas para o país no início deste ano, revisou a previsão do PIB de 2022 de alta de 0,5% para queda de 0,5%, em grande parte, devido à deterioração do cenário fiscal. Na época, Guedes chegou a chamar o pessimismo das projeções do mercado de "conversinha", em um evento no Palácio do Planalto

 

 Negativa de calote

 

O ministro Paulo Guedes minimizou as preocupações do mercado com o fiscal por conta das mudanças na regra do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior — incluída na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, a PEC 23/2021, que dá um calote nas dívidas judiciais e é chamada de PEC das Pedaladas, que procura abrir um espaço fiscal de, pelo menos, R$ 91,6 bilhões no limite do teto, quase o dobro dos R$ 50 bilhões previstos adicionais ao Bolsa Família para pagar o Auxílio Brasil de R$ 400 para 17 milhões de famílias.

Ao tentar defender a imposição de um subteto para as dívidas judiciais, que não cabem recurso, prevista pela PEC, o ministro disse que as críticas à proposta são feitas com "muita paixão". “Essa ferramenta é importante e torna o orçamento exequível. Não vai haver mais susto nos precatórios. Não é calote, porque paga o que está dentro do teto”, afirmou.

Apesar de vários senadores demonstrarem resistência à PEC e exigirem uma análise mais profunda da proposta e uma tramitação sem afogadilho como ocorreu na Câmara, Guedes demonstrou confiança para que o Senado apoie a proposta, principalmente presidente da Casa, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). "Oitenta porcento da PEC do Precatório foi feita na casa dele. Nós gostaríamos de andar com isso, para garantir a renda básica para as famílias. Mas temos que achar uma fonte permanente”, disse.


Pressões políticas 

Aprovada pela Câmara dos Deputados nesta semana, a ainda precisa ser votada pelo Senado Federal em dois turnos e ser aprovada por três quintos do quórum. Além de afirmar que a proposta de mexer na regra do teto —antecipando a mudança do indexador para ampliar a folga para o governo gastar mais e, assim, custear de forma temporária o novo Bolsa Família de R$ 400 até dezembro de 2022 — não é dele, Guedes garantiu que os recursos para o benefício são temporários. Ele admitiu que houve muita “pressão política” para aprovar o Auxílio Brasil. 

“A pressão política foi imensa em cima da Economia. A ala política queria R$ 600, mas o presidente falou em R$ 400 para o programa transitório”, afirmou o ministro. Ele reforçou que, para o valor do benefício ser definitivo, seria preciso aprovar a reforma do Imposto de Renda, que está parada no Senado. “Mas não fomos bem sucedidos no Senado. Não conseguimos avançar. Estamos com o nosso second best”, disse, em referência à PEC dos Precatórios.

“Tínhamos uma proposta para um benefício de R$ 300 e que a fonte seria a reforma do Imposto de Renda. Sem essa fonte, isso não permite a criação de um programa permanente. Fomos empurrados para um programa transitório”, disse Guedes. Ele contou que pediu apoio a empresários para a reforma administrativa, porque ela garantiria R$ 30 bilhões por ano de economia para os cofres públicos que poderia, inclusive, ajudar a custear a manutenção da desoneração da folha para 17 setores que o presidente Jair Bolsonaro garantiu prorrogar.

Para o ministro, o novo benefício social do governo, o Auxílio Brasil, que entrará em vigor no próximo dia 17, é “politicamente interessante”, porque virou um programa de renda básica que pode ser efetivado, e, por isso “forçou essa mudança e a sincronização de ajuste do teto”. No entanto, logo em seguida, ele sugeriu a proposta do imposto de renda negativo, em referência ao pai do liberalismo, o economista Milton Friedman, e voltou a defender uma proposta focada em dar ajuda diretamente a quem precisa, sem intermediários, nos moldes do auxílio emergencial.

Falta de plano

O chefe da equipe econômica também criticou quem fala que ele não tem plano, pois ter um plano centralizado é “patético”. “O nosso plano é não ter um planejamento central”, afirmou.

Guedes também minimizou os problemas atuais na economia, que mostram queda nas vendas do varejo pelo segundo mês seguido e aumento da desconfiança no governo e na sua capacidade de manter a promessa de respeitar as regras fiscais que estão ajudando a elevar o dólar e a inflação, que retomou o patamar de dois dígitos e deve encerrar o ano em 10%. Logo, a expectativa do mercado é de uma escalada nos juros que deverá travar o crescimento do país no ano que vem.

Em relação à inflação, o ministro reclamou que ela estava levando o espaço das despesas discricionárias e elevando o piso do teto. “Deram reajuste para os servidores e fizeram um teto sem paredes e o piso, que é o maior problema, não parava de subir”, disse ele, criticando os autores da regra.

Ao ser questionado sobre prioridades, Guedes voltou a citar a PEC dos Precatórios e reforçou o interesse de privatizar os Correios e a Eletrobras no ano que vem. Em relação à Petrobras, um desejo externado por Bolsonaro por conta da forte alta no preços dos combustíveis, ele disse que as conversas sobre o assunto foram "informais".

 

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