Sem melhora no horizonte

Na avaliação de analistas, o custo de vida continuará rodando acima de 10% por um período mais prolongado, devido à disseminação elevada da alta dos preços na economia e pelo fato de a herança inflacionária não ter acabado com a indexação. Pelos cálculos de Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, a inflação continuará em dois dígitos no acumulado em 12 meses, pelo menos até abril de 2022. "No intervalo das nossas projeções atuais, a inflação deve ficar entre 9,47% e 9,75% em maio na taxa acumulada", disse. "A economia ainda é muito indexada e, por conta disso, a inflação estrutural do país é muito mais elevada do que a dos países desenvolvidos", acrescentou.

A forte alta dos preços tem feito a empresária Zelma Soares, 41 anos, moradora de Valparaíso (GO), fazer substituições por produtos mais baratos para reduzir os custos de produção a fim de equilibrar o orçamento e pagar as dívidas atrasadas. Ela teve que fechar um dos dois restaurantes durante a pandemia. "Tenho buscado quase sempre matéria-prima em dias de promoção, mas sempre levo em consideração manter a qualidade dos meus produtos", disse.

Em relação ao movimento do restaurante, ela contou que ainda não deu para recuperar o período pré-pandemia. "Não é possível manter a tranquilidade nos pagamentos, temos muita coisa atrasada. Atualmente, a despesa mais pesada que tenho são empréstimos que não estou conseguindo honrar no momento. E isso tem tirado meu sono todos os dias", disse.

O Natal de Zelma será mais modesto neste ano por conta da carestia. "Infelizmente, será preciso abrir mão de algumas coisas. Viajar, nem pensar. A ceia será com os parentes, mas já deixei claro que não poderemos contribuir com nada, apenas ajudaremos a fazer. Colocar as contas em dia é o primordial", afirmou.

Sobrevivência

A desempregada Ivania Souza Santos, 38 anos, contou que ela, o marido e os três filhos estão sobrevivendo com o Bolsa Família e com doações. "Tivemos que vender nosso único bem, um carrinho de reciclagem, para manter a alimentação. Só que a pessoa que comprou não está pagando há cinco meses", reclamou. Segundo ela, está cada vez mais difícil comprar comida e gás de cozinha, porque os preços não param de subir. "Sempre está faltando alguma coisa. Hoje, por exemplo, acabou o pó de café. Quando não falta feijão, falta arroz, quando não falta arroz, falta feijão. E é assim até virar o mês para entrar o Bolsa Família. E, mesmo assim, você faz aquela comprinha que dura 10 dias contados", disse. (RH, com colaboração de Maria Eduarda Angeli)