João Doria, governador do estado de São Paulo

Correio Braziliense
postado em 10/12/2021 00:01
 (crédito: Nando Oliveira/Esp. EM/D.A Press)
(crédito: Nando Oliveira/Esp. EM/D.A Press)

"Previsões para 2022? Minha bola de cristal anda um pouco embaçada e ela, normalmente, enxerga melhor para trás. Mas nós vamos ter, certamente, um ano eleitoral. Penso que nós conseguimos — não sem algum esforço — preservar a integridade e a credibilidade do sistema que vigora desde 1996, sem nenhum evento que registrasse qualquer tipo de fraude, de modo que vamos ter, em 2022, eleições livres, limpas e seguras.

A grande preocupação do Tribunal Superior Eleitoral vem sendo o enfrentamento à desinformação, ao uso das mídias sociais para difundir ódio, mentiras e ataques à democracia. Todos nós sabemos que há uma grande polarização no mundo em geral, não é um privilégio brasileiro.

Eu sempre gosto de lembrar, no entanto, que a polarização sempre existiu, desde o início da democracia. Nas eleições americanas, logo no início, já havia uma divisão entre os federalistas do John Adam e os republicanos do Thomas Jefferson. Depois da Revolução Francesa, a Assembleia Nacional Francesa já era dividida em esquerda e direita. A minha geração e a de muitos que estão aqui foi marcada pela dualidade entre socialismo e economias planificadas, e capitalismo e economias de mercado, de modo que a diversidade de pontos de vista e de pontos de observação da vida faz parte do mundo, faz parte da democracia. O que é importante é que a divergência seja absorvida de maneira institucional e civilizada.

A democracia não é o regime político do consenso, mas, sim, aquele em que pessoas têm respeito e consideração pelas outras mesmo na divergência e, portanto, nós esperamos uma campanha eleitoral em que as pessoas coloquem suas ideias na mesa, os seus projetos de país, em lugar de se atacar umas às outras. Eu sempre gosto de lembrar que uma causa que precise de ódio, que precise de mentira, que precise de agressões, não pode ser uma causa boa.

Agenda comum

Mas, apesar de todas essas polarizações, o país precisa de uma agenda comum. O país precisa de pontos de consenso, uma agenda suprapartidária, uma agenda patriótica. Eu proponho três pactos para essa agenda. O primeiro, um pacto de integridade, com apenas duas regras: no espaço público, não desviar dinheiro; no espaço privado, não passar as pessoas para trás — essa vai ser a grande revolução brasileira.

O segundo pacto é um pacto de responsabilidade. Responsabilidade, em primeiro lugar, fiscal, porque foi o descontrole nas contas públicas que nos trouxe a este quadro que nós estamos vivendo, de inflação, desemprego, desinvestimento e juros altos. O segundo pacto também é um pacto de responsabilidade econômica. O país precisa voltar a crescer para ter renda para distribuir, o PIB brasileiro vem caindo nos últimos anos, um país que ainda tem tanto o que fazer, e para esse pacto de responsabilidade econômica nós temos de diminuir o estado econômico e o estado administrativo brasileiro com seus milhares de cargos em comissão, com as suas desonerações equivocadas e os financiamentos, as causas que não são as maiores de interesse público.

Por fim, um pacto de responsabilidade social. Nós precisamos enfrentar a pobreza extrema, a fome voltou a rondar o país, a desigualdade é uma mácula na história brasileira e, portanto, nós precisamos de um sistema tributário mais justo, precisamos de serviços públicos de mais qualidade, precisamos de redes de proteção social.

E o terceiro e último pacto, que eu acho indispensável no Brasil, é um pacto pela educação básica, porque é a deficiência na educação básica que nos atrasou na história, além de fazer vidas menos iluminadas, trabalhadores menos produtivos, elites menos preparadas. Educação básica deve estar na agenda, no topo da agenda prioritária do país. O ministro da Educação tem de estar todos os dias na televisão dizendo o que ele está fazendo, premiando as melhores escolas, exaltando os bons professores. Para virarmos o jogo no Brasil precisamos da educação básica.

O que eu tenho certeza para 2022 é que a democracia brasileira resistiu a todos os vendavais. Nós já superamos os ciclos do atraso. Temos uma democracia sólida e robusta e, no dia 1º de janeiro de 2023, tomará posse um presidente eleito democraticamente, que eu desejo que empurre a história na direção certa."

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