A confiança do consumidor subiu 0,6 ponto em dezembro ante novembro, na série com ajuste sazonal, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) cresceu a 75,5 pontos.
Viviane Seda Bittencourt, coordenadora das Sondagens, explica que apesar de a confiança do consumidor apresentar um resultado positivo em dezembro, fecha 2021 em queda de 2,6 pontos. Segundo ela, foi um ano difícil para os consumidores, principalmente para aqueles de menor poder aquisitivo. "O descolamento entre a confiança dos consumidores de baixa renda daqueles de alta renda atingiu o maior nível da série dos últimos 17 anos, principalmente em função da dificuldade financeira dos consumidores de menor nível de renda diante do quadro de desemprego, inflação elevada e aumento do endividamento".
Em médias móveis trimestrais, o índice variou 0,1 ponto, para 75,6 pontos, após três meses consecutivos de queda. O recuo em novembro foi de 1,4 ponto. Com o resultado, divulgado ontem, o indicador registrou 74,9 pontos, atingindo, assim, o menor índice desde abril de 2021.
Para a coordenadora, 2022 será um ano desafiador tanto para a melhora da confiança geral quanto para a diminuição da desigualdade na percepção dos desafios econômicos por famílias com diferentes níveis de renda.
Em dezembro, a relativa estabilidade do ICC foi influenciada pela piora na avaliação da situação corrente ao mesmo tempo em que houve melhora das expectativas. O Índice de Situação Atual (ISA) diminuiu 1,3 ponto, para 65,6 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE) subiu 2,0 pontos, para 83,4 pontos.
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Expectativas
Segundo o índice, a piora da avaliação dos consumidores sobre a situação atual foi puxada pela deterioração da situação financeira das famílias. O indicador que mede a satisfação sobre as finanças pessoais caiu 2,9 pontos, para 59,2 pontos, menor valor desde abril deste ano. Por outro lado, o indicador que mede a percepção dos consumidores sobre a situação econômica atual se manteve relativamente estável ao variar 0,3 ponto em dezembro, para 72,8 pontos. Ambos se mantêm em patamar muito baixo em termos históricos.
Com relação às expectativas para os próximos meses, o indicador que mais influenciou o IE foi o que mede as perspectivas sobre a situação financeira familiar, cujo indicador avançou 5,5 pontos, para 85,5 pontos. O indicador que mede as expectativas sobre a situação econômica subiu 3,8 pontos, para 104,1 pontos. Mas, mesmo com melhores perspectivas financeiras familiares, o ímpeto de compras para os próximos meses continuou caindo pelo quarto mês consecutivo, 3,6 pontos para 62,8 pontos.
Para o economista Hugo Passos, há uma desconfiança macroeconômica. "Como é ano de eleição, o Brasil costuma 'parar' sem dar andamento no que seria importante para o país. O descontrole fiscal também segue no radar, visto que o aumento do fundo eleitoral e um possível aumento no auxílio Brasil são indícios de mais desconfianças".
O especialista diz que, "com crescimento menor do PIB para 2022, taxa de juros acima de 2 dígitos, inflação, ano de eleição e a preocupação orçamentária, podendo corroer ainda mais o risco fiscal, serão os drivers de mais um ano desafiador para o Brasil".
Ele disse ainda não ver "otimismo para 2022". "Vejo apenas um ano de extrema importância para o Brasil, com eleições, para pensarmos num futuro melhor para o Brasil, e que as pautas do Congresso devem ficar congeladas", completa o economista.
A Sondagem do Consumidor coletou informações de 1.463 domicílios, com entrevistas entre os dias 1º e 20 de dezembro.
Cai projeção para alta do PIB
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2021, de um avanço de 4,8% para 4,5%. Para 2022, a projeção diminuiu de uma elevação de 1,8% para 1,1%. As estimativas anteriores foram divulgadas em setembro.
"A redução da previsão para este ano levou em conta os indicadores de atividade econômica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do terceiro trimestre e de outubro, que vieram abaixo do esperado", justificou o Ipea em nota de divulgação da Visão Geral da Conjuntura, análise trimestral da economia brasileira publicada ontem.
O Ipea salientou que os fatores para o recuo no crescimento já estavam previstos no último relatório, divulgado em setembro. No entanto, alguns índices tiveram desempenho pior do que o esperado.
"A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 é de 10,0% e, para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de 10,2%. O aumento nas projeções de 2021 decorre da dinâmica recente da inflação nos últimos três meses, com maior pressão no setor de serviços e nos preços monitorados", diz o relatório.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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