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Caixa paga R$ 3 bi em dívidas de clientes em 2021

Programa lançado em abril para reduzir número de contratos em atraso permite cortar até 90% dos débitos de clientes

A Caixa Econômica Federal registrou, até a última terça-feira, R$ 3 bilhões em dívidas de clientes liquidadas em 2021. O número faz parte da campanha "Você no Azul", na qual o banco oferece, até 30 de dezembro, descontos que chegam a 90% para pagamentos de dívidas em atraso.

Iniciada em abril deste ano, o programa beneficiou mais de 400 mil contratos de cerca de 300 mil clientes, entre pessoas físicas e empresas. O banco informa que disponibiliza canais digitais, via WhatsApp, central de atendimento, lotéricas e agências para regularizar as dívidas e contratos em atraso.

Nas redes sociais, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, destacou que a Caixa oferece "condições especiais para renegociação" e que, com a iniciativas, "a Caixa apoia a reorganização financeira de milhares de famílias e empresas".

O número de pessoas que não conseguem quitar dívidas vem crescendo por conta da inflação elevada e do desemprego. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o endividamento de brasileiros alcançou 12,3 milhões de famílias em novembro — o maior nível para o mês desde 2010.

A alta dos juros também tem contribuído para a indimplência. José Roberto Tadros, presidente da CNC, avaliou que o Banco Central apertou o ritmo de elevação dos juros na tentativa de reduzir as expectativas inflacionárias futuras. "Até o momento, isso não foi suficiente para abrandar a dinâmica do endividamento, e o crédito segue sendo a saída do brasileiro para recompor a renda", analisou.

Mauro Rochlin, economista e professor da FGV, avalia que há dois fatores para o quadro de endividamento das famílias. "O primeiro é a taxa de desemprego no país, onde cerca de 12,5 milhões de brasileiros procuram emprego há mais de dois anos", afirmou. O segundo fator, diz Rochlin, está relacionado à queda na renda da população.

Uma pesquisa do portal de serviços financeiros Foregon revelou que, entre 2020 e 2021, aumentou em 53,2% o número de pessoas com o "'nome sujo" na praça. Agora, 44,3% dos entrevistados afirmam estar negativados. É a primeira vez que isso acontece para 24,4% deles. Em média, as pessoas estão com nome sujo há 2 anos e 2 meses e possuem mais de uma dívida.

O levantamento procurou também traçar um perfil dos endividados. A faixa etária com maior taxa de negativados é a de 35 a 44 anos. Nesse grupo, 47,5% estão com o nome sujo. Jovens entre 18 e 24 anos são os que menos ficaram negativos: 46,8% das pessoas nessa faixa afirmam nunca terem ficado endividados.

Ainda dentro do grupo de jovens, 74,7% estão negativados pela primeira vez; 37,1%, há menos de um ano; e 41,8% possuem apenas uma dívida. No entanto, enquanto 46% dos entrevistados de 18 a 24 anos afirmam não ter condições de pagar as dívidas, a taxa é ainda maior no grupo de 65 anos ou mais, em que 62,5% afirmam não conseguir limpar o nome.

O economista e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ecio Costa explica que, em muitos casos, há uma grande diferença na taxa de inadimplência entre as faixas etárias porque os pais acabam acumulando dívidas de filhos. "Os jovens, tradicionalmente, no Brasil, acabam morando com os pais por muito tempo e, na maioria dos casos, são dependentes deles", destacou.

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O grande vilão

Visto muitas vezes como uma "ajudinha" para as compras, o cartão de crédito se mostrou o vilão para os endividados. O levantamento apontou que, dos 44,3% dos entrevistados que responderam estar negativados, 46,1% se atrapalharam com contas de cartão de crédito e crediários.

Costa explica que esse tipo de crédito acaba sendo o mais procurado pelos brasileiros devido à facilidade de acesso. "São as fontes mais disponíveis e mais simples, que fazem menos análise de crédito dos tomadores de empréstimos", disse.

Além do cartão de crédito, as contas que mais resultaram na negativação das pessoas foram as de aluguel e as de água e luz.

*Estagiários sob a supervisão de Odail Figueiredo