Desmatamento entra na agenda

Correio Braziliense
postado em 03/01/2022 00:01
 (crédito: Getty Images)
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Cada vez mais focada no combate às mudanças climáticas, a pauta ambiental tem dominado a agenda de fóruns internacionais e pode afetar a produção agropecuária brasileira. Grandes cadeias de varejo na Europa e nos Estados Unidos começam a promover um boicote contra produtos que não respeitem regras de sustentabilidade. No caso brasileiro, o desmatamento da Amazônia é o principal sinal de alerta.

Para o engenheiro de alimentos Nelson Roberto Furquim, professor da Universidade Mackenzie, o Brasil pode sofrer retaliações se o desmatamento não for contido. Ele ressalta, ainda, que a derrubada da floresta prejudica diretamente o produtor brasileiro. "Se o desmatamento continuar, muito provavelmente haverá alteração nos padrões de temperatura, que se tornarão mais extremos, com secas e chuvas intensas e oscilantes, prejudicando a economia do país. Essa situação aumentará os riscos para o produtor rural", diz.

"Além disso, investidores podem aumentar a pressão sobre o governo na intenção de se rever medidas que permitam o aumento do desmatamento. Ou pressionar as empresas que investem no Brasil", acrescenta.

Para o CEO e fundador do Databoi, Floriano Varejão, a pecuária brasileira, há muitos anos, vem sofrendo com a deterioração da sua imagem internacional por associação da produção de proteína bovina a práticas de desmatamento do bioma amazônico e do cerrado. "Apesar de haver desmatamento ilegal na produção pecuária, é preciso separar o joio do trigo. Segundo publicação recente na revista Science, 2% das propriedades são responsáveis por 62% de todo o desmatamento ilegal. Uma pequena parcela mancha o nome de todo um segmento, que, em sua maioria, é produtivo e sustentável."

"Portanto, o primeiro passo para a transformação da imagem da pecuária brasileira é identificar os produtores que estão à margem das leis ambientais e impedir a comercialização de seus produtos. Para isso, é necessário um esforço coordenado de toda a cadeia em direção à adoção de tecnologias de rastreabilidade que permitam a transparência da produção e a garantia de sua qualidade", complementa Varejão.

O ambientalista Charles Dayler observa que, apesar de ser uma bandeira justa, a preservação do meio ambiente pode se tornar uma desculpa para países colocarem barreiras contra o Brasil e protegerem seus próprios produtores. "Se o meio ambiente for bem cuidado, as desculpas caem por terra. E aí qualquer medida para restringir a entrada de produto brasileiro vai ser meramente uma política protecionista, que pode ser contestada na Organização Mundial do Comércio (OMC). Então, se cuidar bem do meio ambiente, o Brasil só tem a ganhar", afirma. (FS)

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