Alimentos devem continuar caros

Maria Eduarda Angeli*
postado em 22/01/2022 00:01
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A alta nos preços dos alimentos nos últimos dois anos tem pesado no bolso dos brasileiros. Dados do IBGE apontam que 60% da renda das famílias que recebem até cinco salários mínimos vão para a comida. "Com uma inflação de 10% e seu poder de compra reduzido, onde você mais coloca recurso é na alimentação", diz o diretor-técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi. Segundo ele, a previsão para 2022 também não é animadora: os valores devem continuar salgados. O especialista foi o entrevistado de ontem no CB.Agro, parceria do Correio com a TV Brasília.

Lucchi explicou que a alta de preço não afeta só o consumidor final. "Por mais que o setor agropecuário seja um grande exportador, nosso maior mercado é o Brasil, então, temos interesse de que a população brasileira consuma cada vez mais produtos melhores e de qualidade superior. A inflação de alimentos é prejudicial, inclusive, para o produtor", disse.

No ano passado, o preço médio dos alimentos subiu 8%, pouco abaixo da inflação, que alcançou 10,06%, o maior número em seis anos. Entre os fatores que contribuíram para que comer ficasse mais caro estão o câmbio e os fertilizantes, que aumentaram o custo da produção — além do aspecto climático.

"O clima surpreendeu de forma negativa. Além do La Niña, tivemos enchentes", conta Lucchi. O La Niña é um fenômeno que causa estiagem na região Sul do país e, caso aconteça novamente, provocará seca pelo terceiro ano seguido. "Mudanças climáticas têm um efeito drástico", afirmou o convidado. A cadeia da soja foi uma das que sofreram as maiores perdas, com queda de quase 10 sacas por hectare, mas a maior preocupação é com o milho, por ser uma cultura mais sensível.

Apesar das dificuldades enfrentadas no setor, estima-se que a safra deste ano superará a anterior. De acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), devem ser colhidos 284 milhões de toneladas de grãos, cerca de 12% a mais do que no ano passado. "Eu acredito que vai ter uma redução nesse número, mas vai ser melhor do que em 2021", avaliou o especialista. "No ano passado, plantamos muito tarde, o que prejudicou a segunda safra. Agora, conseguimos plantar mais cedo. Isso sinaliza que vamos ter uma safra muito robusta", explicou.

Fertilizantes

Embora seja uma das maiores potências mundiais do agronegócio, 80% dos fertilizantes e defensivos usados pelo Brasil vêm de fora. Com crises energéticas, tensões geopolíticas, alta do dólar e gargalos logísticos pelo mundo, os produtores acabam sofrendo com a importação. "Nós temos que tentar reverter essa dependência", ressaltou Lucchi. Uma opção, segundo o especialista, é firmar parcerias com outros países. "Se não tenho condições de produzir algo por falta de potencial natural, posso fechar acordo com um parceiro comercial, para ser um fornecedor fiel do Brasil. Com isso, as oscilações (nos preços) seriam menores", disse.

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