Inflação

Preços dos alimentos devem continuar salgados em 2022, avalia CNA

Fator cambial, clima e dificuldade na importação de fertilizantes estão entre as razões da manutenção da alta, diz diretor-técnico Bruno Lucchi, em entrevista ao CB.Agro desta sexta-feira (21/1)

A alta nos preços dos alimentos nos últimos dois anos tem deixado muitos brasileiros apertados financeiramente. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 60% da renda das famílias que recebem até cinco salários mínimos são gastos em comida. “Uma inflação de 10%, com seu poder de compra está reduzido, você coloca mais recurso na alimentação”, diz o diretor-técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi.

Segundo ele, a previsão para 2022 tampouco é animadora: os valores devem continuar salgados. O especialista é o entrevistado desta sexta-feira (21/1) no CB.Agro, parceria do Correio com a TV Brasília.

Lucchi explica que a alta nos preços não afeta somente o consumidor final. “Por mais que o setor agro seja um grande exportador no Brasil, nosso maior mercado é o Brasil. Então, nós temos interesse em que a população brasileira consuma cada vez mais produtos, melhores e de qualidade superior. A inflação de alimentos é prejudicial inclusive para o produtor”, pontua.

Soja

No ano passado, o preço dos alimentos fechou com elevação de aproximadamente 8%, um pouco abaixo da inflação — 10,6%, o maior número em seis anos. Dentre os fatores que contribuíram para que comer ficasse mais caro estão o câmbio e os fertilizantes, que aumentaram o custo da produção — além do aspecto climático.

“O clima esse ano (2021) realmente surpreendeu de forma negativa. Havia uma previsão de La niña e, para piorar, nós tivemos enchentes”, conta Lucchi. O fenômeno climático La niña causa estiagem na região Sul do país e, caso volte a castigar em 2022, provocará seca pelo terceiro ano seguido.

“Mudanças climáticas têm um efeito drástico”, afirma o convidado. A cadeia da soja foi uma das que sofreram as maiores perdas, com queda de quase 10 sacas por hectare, mas a maior preocupação é com o milho, por ser uma cultura mais sensível.

Apesar das dificuldades enfrentadas no setor, estima-se que a safra de soja deste ano irá superar a anterior. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), devem ser colhidos 284 milhões de toneladas de grãos, cerca de 12% a mais do que no ano passado. Na opinião de Bruno Lucchi, o número ainda deve passar por ajustes. “Eu acredito que vai ter uma redução nesse valor, mas acredito que vai ser melhor do que no ano passado”, avalia o especialista.

“Ano passado, nós plantamos muito tarde, e isso prejudicou a segunda safra. Este ano, a gente conseguiu plantar mais cedo, apesar dos problemas que estamos tendo agora. Isso sinaliza que vamos ter uma safra muito robusta”, justifica.

Fertilizantes

Embora seja uma das maiores potências mundiais do agronegócio, a maior parte dos fertilizantes e defensivos usados pelo Brasil vem de fora. Com crises energéticas, tensões geopolíticas, alta do dólar e crises logísticas pelo globo, o mercado acaba sofrendo com a importação.

“O fertilizante é complicado, porque mais de 70% são importados. No Brasil, a gente tem uma dependência muito grande, e as causas dos problemas que geraram esse aumento de preço — não só no Brasil, mas no mundo — são vários, não tem um fator específico”, explica o especialista da CNA. “Nós temos que tentar reverter esse cenário, e um dos pontos é essa dependência”, ressalta.

Uma opção, segundo ele, é firmar parcerias com outros países. “Se eu não tenho condições de produzir um produto porque eu não tenho esse produto no meu potencial natural, eu posso fechar um grande parceiro, um parceiro comercial, para ser um fornecedor fiel do Brasil. Com isso, a gente ia amenizar essas oscilações [nos preços]”, diz.

Sobre a má imagem do setor agro brasileiro frente à comunidade internacional, o diretor-técnico da CNA avalia que se deva, em grande parte, ao desconhecimento. “Não quero dizer que o setor não tem problemas — é um setor que tem problemas, assim como todos os setores da economia brasileira tem algum tipo de problema. Agora, nós temos um potencial muito maior de coisas positivas a ser demonstrado lá fora do que problemas pontuais ligados à questão ambiental”, conclui.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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