MERCADO DE TRABALHO

Com fartura de empregos, agronegócio criou mais de 150 mil vagas em 2021

No total, são cerca de 9 milhões de pessoas empregadas em atividades ligadas ao setor, sendo a região Sudeste a que mais gerou novos postos

Gabriela Chabalgoity*
Maria Eduarda Angeli*
postado em 06/02/2022 06:00 / atualizado em 06/02/2022 08:15
Empresários avaliam que o perfil dos funcionários tem mudado ao longo dos últimos anos, com a capacitação de tempos em tempos -  (crédito:  Ed Alves/CB)
Empresários avaliam que o perfil dos funcionários tem mudado ao longo dos últimos anos, com a capacitação de tempos em tempos - (crédito: Ed Alves/CB)

O agro é um dos setores que mais crescem no Brasil. Representa cerca de 30% do PIB. Com mais produção, também aumenta a demanda por profissionais da área. Em 2021, foram abertas mais de 150 mil vagas ligadas ao setor, segundo os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

No total, são cerca de 9 milhões de pessoas empregadas em atividades ligadas ao agronegócio, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 574 mil a mais que o registrado em 2019, no último levantamento pré-pandêmico. A população ocupada, que não necessariamente tem carteira assinada, ultrapassa os 18 milhões.

À medida que o setor cresce, porém, os produtores passam a buscar mão de obra cada vez mais qualificada. A tecnologia, responsável por grande parte do bom desempenho brasileiro na agropecuária, fica mais expressiva no campo a cada ano, e os trabalhadores precisam acompanhar. "O desempenho do agronegócio brasileiro se deve ao avanço da tecnologia. Sabemos que hoje quando estamos comendo um produto, muitas vezes tem mais tecnologia embarcada nesse produto do que em um equipamento eletrônico, porque é um conjunto de tecnologias que vai desde a biologia do solo até a questão do clima", explica Argileu Martins, ex-secretário de Agricultura do DF.

Na opinião de Martins, a tendência é que o mercado de trabalho ligado à atividade se estabilize. José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro, esclarece: "Você está crescendo em tecnologia, usando cada vez mais maquinário sofisticado. Você está substituindo aquele trabalhador braçal — o chamado boia fria — pelo operador de máquina, e acaba tendo cada vez mais uma mão de obra mais qualificada e mais bem remunerada".

O quadro tender a tornar o setor mais competitivo, já que um menor uso do trabalho braçal leva a uma otimização das tarefas e, portanto, a um menor custo de produção, além de resultar em uma redução do impacto ambiental, visto que é possível operar com menos recursos como água e terra.

Rodrigo Coutinho, da fazenda Minelis, é produtor de café e conta que a família toca o negócio no Lago Oeste desde 1987. O local tem 10 funcionários fixos trabalhando diretamente com a plantação, mas, na época de colheita, são contratados pelo menos mais 15.

O empresário relata que o perfil dos funcionários mudou muito ao longo dos anos. "Tem maquinários que vão evoluindo ao longo do tempo e tudo isso vai mudando muito. Aqui no DF, a gente tinha muita dificuldade de encontrar profissionais que conhecessem a cultura do café, então, isso é muito complicado. Ainda hoje não é tão fácil — porque nós não temos tantos produtores assim —, mas a situação melhorou um pouco, com certeza", diz.

Segundo Coutinho, é preciso promover a capacitação dos trabalhadores de tempos em tempos, em especial quando chegam novos equipamentos: "A gente sempre acaba tendo que investir um pouco para ganhar em produtividade, em velocidade, principalmente, na hora da colheita". Para ele, a chegada da tecnologia no campo "está só começando". "A gente tem muito o que investir nisso ainda, em termos de outras tecnologias, principalmente para acompanhar condições climáticas em tempo real", avalia.

Vagner Rizzatti é um dos trabalhadores da fazenda Minelis e diz que, com o passar dos anos, sentiu a necessidade de se atualizar. Empregado no setor agrícola há 17 anos, ele começou a se dedicar com mais afinco após o curso superior de administração de empresas. "Sempre trabalhei no campo, depois dos estudos de ensino médio, foi o período em que trabalhei mais frequente. Iniciei como técnico agrícola, mas já era coordenador de campo", conta Rizzatti, gerente da Minelis.

"Como já estava na minha rotina de trabalhar no campo, onde gosto, e suas extensões, comecei a me capacitar e fazer cursos e práticas voltadas (para isso). E com o passar do tempo, nível superior", relata o profissional.

O produtor Franscisco de Souza, 52 anos, planta desde criança, mas, foi após o inicio da pandemia que sentiu a necessidade de conduzir seu próprio negócio. Em uma chácara no Lago Oeste, ele produz milho, abóbora, feijão, tomate, entre outros alimentos. De acordo com ele, desde que começou a plantar, até hoje, o trabalho no campo mudou muito por conta das novas tecnologias. "Hoje, a gente colhe o dobro do que colhia no passado", garantiu. "É a vida que eu pedi a Deus. Sempre gostei de plantar, mas agora, com meu próprio negócio, eu posso encher uma cesta de alimentos para cada um dos meus seis filhos levar para casa aos finais de semana. É gratificante."

Mudanças tecnológicas

Não só a produção é importante, mas, com as evoluções tecnológicas, se tornou necessário também o estudo de áreas como o marketing do produto, por exemplo. A produtora rural há 7 anos, Gleisy Cristina Coité, da CSA da Florestta, explica que, mesmo não sendo produtora de longa data, ela sente a necessidade de ter, cada vez mais, capacitação profissional, seja para cuidar cada vez melhor do plantio das hortaliças, manejo, colheita, na logística da entrega, quanto na gestão de pessoas, gestão de marketing para garantir a melhor entrega para o cliente.

Ela afirma, ainda, que, com a pandemia, o cuidado com os produtos mudou, bem como a procura por orgânicos e o cuidado com a saúde. "Isso exigiu de nós um aumento da área de cultivo, aquisição de carro para aumentar a entrega, bem como contratação de pessoal para cuidar dos novos clientes", declarou.

O agricultor orgânico Paulino Alves da Silva afirma que precisou procurar por cursos para aprimorar a produção, visto que o campo está recebendo inovações. Além disso, ele conta que, com a pandemia, o cuidado com os produtos foi redobrado. "O cuidado é em dobro, principalmente no momento de embalagem, para que esse produto chegasse ao consumidor final com melhor qualidade, limpo ao máximo impurezas que por ventura pudessem conter. Sempre nos preocupamos com o uso de álcool, mesmo nos ambientes do sítio e seguimos os protocolos e decretos", disse.

Alguns produtores optam por tentar capacitar seus funcionários já contratados, em vez de buscar nova mão de obra. É o caso de Joe Valle, da Fazenda Malunga, que trabalha com uma variedade de hortaliças orgânicas, laticínios e grãos. O empreendimento tem um ciclo completo: produção, industrialização e venda, empregando 199 pessoas.

"Sentimos muita necessidade porque temos um problema que é a baixa qualificação profissional das pessoas que estão à disposição para o trabalho no campo. Então o que nós temos feito hoje é realmente a formação de pessoas, buscando o modelo de gestão baseado na Toyota", explica Valle. "Todo o trabalho hoje da agricultura 4.0 na questão tecnológica dos meios está baseado também na formação das pessoas", afirma. "Muitas vezes o problema é o sistema, você quer que ele (trabalhador) entregue o que ele não está preparado para entregar", completa.

Isabel Mendes, assessora técnica da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), acredita que este ano deve fazer jus ao anterior, com mais vagas sendo ofertadas. "O mercado de trabalho está relacionado à atividade econômica. Claro que a gente tem algumas medidas que podem impulsionar, mas, no fim das contas, o que gera emprego é atividade econômica. Em 2021, a atividade econômica de forma geral foi melhor para todos os setores da economia, inclusive para o agro", avalia. A especialista aponta que a expectativa é de um 2022 ainda melhor, levando em consideração os resultados do ano passado.

* Estagiárias sob supervisão de Vicente Nunes

 

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Pelo Brasil

A região Sudeste foi a que mais gerou postos de trabalho na agropecuária no ano passado, com um saldo de 79 mil empregos, seguido pelo Nordeste (20,7 mil) e Centro-Oeste (17,8 mil). As regiões Sul e Norte totalizaram 8,8 mil e 8,1 mil novas vagas em 2021, respectivamente.

Sudeste 79 mil empregos

Nordeste 20,7 mil empregos

Centro Oeste 17,8 mil empregos

Sul 8,8 mil empregos

Norte 8,1 mil empregos

Por área

Entre as atividades agropecuárias, as que mais contribuíram para a criação de vagas ao longo de 2021 foram o cultivo de soja (22,2 mil), bovinos para corte (21,6 mil) e cultivo de cana-de-açúcar (8,9 mil).

Soja 22,2 mil vagas

Bovinos para corte 21,6 mil vagas

Cana de açúcar 8,9 mil vagas

Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

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