APERTO

Inflação segue em alta e não dará trégua aos brasileiros

Para especialista, é necessário combinar políticas monetária e fiscal, a fim de desinflacionar a economia no ano de 2022

Fernanda Strickland
postado em 07/02/2022 06:00
 (crédito: KLEBER SALES)
(crédito: KLEBER SALES)

Após uma semana marcada por mais uma alta agressiva de juros, com a taxa Selic chegando a 10,75% ao ano, o mercado conhecerá, na próxima quarta-feira (9), a inflação do mês de janeiro medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A perspectiva dos especialistas é de que, independentemente do resultado de janeiro, a inflação ainda será forte em 2022.

O IPCA é um dos principais indicadores a ser divulgado nos próximos dias e pode impactar na postura do Banco Central sobre o ciclo de aperto monetário no país. Segundo o mestre em economia Benito Salomão, a projeção da inflação para 2022 tende a terminar acima da meta do Banco Central. "Na verdade, os comunicados do Banco Central têm mostrado que ele vai agir para tentar fazer a inflação convergir a partir de 2023", afirmou.

"Para este ano não há muito o que fazer. Porém deve haver uma desinflação, que está relacionada com o aperto monetário que já foi feito. Como o pacote de combustíveis, que deve reduzir o indicador a curto prazo, as chuvas podem contribuir para a queda de preço na energia elétrica, porque os reservatórios devem ficar mais cheios", explicou o economista. "Mas tudo isso não deve guiar a inflação de volta para a meta em 2022".

O alvo de inflação perseguido pelo Banco Central é de 3,5% neste ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Para o economista, em 2022, a inflação deve permanecer forte, em torno de 7%. "O que, na minha opinião, ainda é muito elevado. É o dobro do teto da meta do Banco Central", afirmou. "Vai ser um grande desafio para o BC, porque a política fiscal está sendo expansionista".

Impactos

Para o especialista, cada vez mais o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem atrapalhado o processo de desinflação. O Auxilio Brasil - antes Bolsa Família, por exemplo, tem um impacto macroeconômico. Segundo o economista, esse dinheiro que vai para as famílias de baixa renda, se torna consumo e aumenta a demanda. A PEC dos Combustíveis, que visa desonerar os preços, tende a elevar o consumo também.

Salomão apontou que é necessário ter uma combinação de políticas monetária e fiscal. "O BC está fazendo uma grande contração monetária para poder desinflacionar a economia. Mas, por outro lado, a política fiscal, que é comandada pelo Guedes, está soltando benefícios, dando exonerações e aumentando gastos em uma série de questões. Neutralizando, assim, o efeito da política monetária", disse. "É muito difícil para o Banco Central guiar a meta da inflação sozinho".

Na última semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco do Brasil (BC) elevou a Selic, a taxa básica de juros, mais uma vez, para 10,75% ao ano. Com isso, a taxa básica atinge os altos patamares já esperados por especialistas do mercado financeiro. É a primeira vez que os juros vão a dois dígitos, desde 2017. E é o oitavo reajuste consecutivo na taxa Selic que, desde março, tem elevado as taxas em 0,75%. A elevação do indicador foi maior nas três últimas reuniões, de 1,5%.

 

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