Enquanto a inflação não dá trégua, o Banco Central deverá levar a taxa básica de juros (Selic) para mais 12% anuais, como espera grande parte do mercado financeiro para o fim do ciclo. Com isso, o aperto monetário acumulado desde março de 2021, quando a Selic estava no piso histórico de 2% ao ano, será de 10 pontos percentuais, pelo menos, o maior de todos desde o início do regime de metas de inflação, em 1999.
Entre 2002 e 2003, a Selic subiu 8,5 pontos percentuais. De 2013 a 2015, foram sete pontos. Na semana passada, na primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central elevou a Selic de 9,25% para 10,75%, acumulando alta de 8,75 pontos percentuais, já superando os dois grandes ajustes anteriores.
A mediana das estimativas para a Selic em dezembro, coletadas no boletim Focus, do Banco Central, está em 11,75%, mas as previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltaram a subir, passando de 5,38% para 5,44% nesta semana, acima do teto da meta para 2022, de 5%. A MB Associados prevê a Selic encerrando o ano em 12,25%. Enquanto isso, a previsão para o IPCA é de 5,8%.
Contudo, a economista e professora do Insper Juliana Inhasz destacou que o BC não conseguirá trazer a inflação para baixo do teto pelo segundo ano consecutivo, mesmo se a Selic subit para 14%. "O grande problema é que os juros caíram para um patamar muito baixo (em 2022) e isso não gerou o potencial de crescimento para a economia. Além disso, a Selic ficou no piso de 2% ao ano por um período muito longo e, agora, o BC não tem ajuda da política fiscal para poder fazer um ajuste monetário mais suave", alertou.
Ela lembrou que, além da PEC dos Precatórios, que deteriorou as perspectivas para as contas públicas de longo prazo, o debate de uma PEC dos Combustíveis no Congresso deve agravar ainda mais o quadro. "O grande risco é a Selic chegar a 14% e ter uma efetividade muito pequena no controle da inflação."
Apesar de prever 6,5% de alta no IPCA deste ano, o ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, reforçou que, se a Selic chegar a 12%, o país vai entrar em recessão, porque o endividamento das famílias e das empresas está elevado.
"O Banco Central errou ao reduzir muito a taxa de juros e deixá-la muito baixa por muito tempo. Depois, foi obrigado a subir muito rápido, porque subestimou as projeções do IPCA. Hoje, perdem todos os brasileiros, o comércio, a indústria e o próprio governo, que terá um custo cada vez mais elevado da dívida pública, devido aos juros de dois dígitos." (RH)
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