O recrudescimento das tensões entre Ucrânia e Rússia, o clima das bolsas internacionais, que tentavam recuperar as fortes perdas da véspera, azedou, ontem, e o Brasil, que estava descolado do cenário internacional, não conseguiu ficar imune. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fechou com queda de 0,57%, aos 112.880 pontos, ao fim de um dia de muita oscilação. No mês, o Ibovespa, principal indicador da B3 ainda registra alta de 0,65% e, no ano, valorização de 7,68%.
A queda das bolsas estrangeiras foi generalizada, com destaques para a Nasdaq, em Nova York, e a bolsa de Frankfurt, que recuaram 1,23% e 1,47%, respectivamente. O câmbio, por sua vez, oscilou bastante nos campos positivos e negativos, após uma semana de valorização do real frente ao dólar. A moeda norte-americana encerrou o dia cotada a R$ 5,140 para a venda — recuo de 0,52% em relação à véspera. Na semana, a divisa acumula desvalorização de 1,95%, em grande parte devido ao aumento do fluxo de entrada de investidores estrangeiros na B3 que, desde janeiro, soma de R$ 52,3 bilhões.
O petróleo voltou a registrar alta, apesar da expectativa de avanços para o acordo nuclear entre Estados Unidos e Irã. Segundo analistas, esse tratado aumentaria a oferta do petróleo, ajudando na queda no preço da commodity. Contudo, diante do reforço das autoridades norte-americanas de que a Rússia pode invadir a Ucrânia a qualquer momento, o barril do petróleo tipo Brent subiu 0,61%, para US$ 93,54. Na semana, a queda acumulada do preço do barril na bolsa de Londres foi de 0,95%. Vale lembrar que, desde o início de 2021, o petróleo já subiu 85%.
Cenário conturbado
De acordo com o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, o aumento das tensões geopolíticas manteve as bolsas no vermelho, mas, no caso brasileiro, houve também um movimento de realização de lucros antes de uma eventual piora do cenário conturbado no exterior na próxima semana.
"O mercado está recompondo um pouco a distorção dos preços dos ativos da Bolsa, que ainda estão desvalorizados, e os investidores estrangeiros estão aproveitando a oportunidade e migrando o portfólio de risco para os países emergentes. Com isso, hoje, houve alguma realização dos ganhos dos últimos dias na B3 devido ao maior fluxo de capital estrangeiro", explicou.
Para Jennie Li, estrategista da XP Investimentos, o principal fator da queda de ontem na B3 foi o aumento das tensões externas e, por conta disso, o Brasil passou a acompanhar as bolsas internacionais. "O mercado externo permanece no campo negativo, porque há muita incerteza em relação ao que vai acontecer na Ucrânia."
A analista ressaltou que, desde o início do ano, os investidores estrangeiros estão fugindo de empresas que caíram muito lá fora e, diante de novas pressões nos preços das commodities, partem em busca de empresas desse segmento nos mercados emergentes. Ela lembrou que esses aplicadores também estão comprando papéis de bancos no mercado brasileiro, uma vez que, com a perspectiva de que a taxa básica de juros (Selic) fique acima de 12%. "Quando os juros sobem muito, as instituições financeiras são uma das poucas empresas a registrar lucros", destacou.
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