Campos Neto: "Reduzir imposto não contém inflação"

Fernanda Strickland

postado em 23/02/2022 06:00

(crédito: Raphael Ribeiro/BCB)

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que abrir mão de arrecadação não ajuda a reduzir a inflação de forma duradoura. A avaliação foi feita no mesmo evento em que o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que o governo pretende reduzir em 25% as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o que segundo ele, terá o impacto de R$ 20 bilhões por ano para o Tesouro.

"Tanto no caso global como no nosso caso, abrir mão de receita não ajuda a inflação estrutural", disse Campos Neto. Quando questionado sobre os impactos que a redução do IPI poderá causar, o presidente do BC disse achar curioso alguns países atacarem a inflação persistente com medidas fiscais. Porém completou: "Não estou falando do Brasil, estou falando de outros países que baixaram impostos".

O governo tem usado o corte do IPI como forma de pressão sobre os governadores para que aceitem reduzir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado nos combustíveis.

Na avaliação do presidente do BC, a alta da inflação em todo o mundo se deve, em grande parte, as medidas de estímulo à economia adotadas durante a pandemia de covid-19, como a concessão de empréstimos e auxílios. Essa expansão de gastos pressionou os preços. "Diante da persistência desse efeito inflacionário, em parte gerada pelo grande plano fiscal, é com alguma curiosidade que a gente vê que alguns países sugerem que a solução é fazer mais fiscal", afirmou.

Campos Neto disse, ainda, que a estrutura de consumo dos brasileiros foi alterada com a pandemia, seja pelo isolamento social, seja pelas condições econômicas. Ele observou que o consumo de serviços ainda não voltou ao patamar pré-pandemia. Ele pontuou que "se imaginava que pessoas voltariam a consumir serviços e a inflação iria se reequilibrar".

Na avaliação de Campos Neto, a pandemia promoveu um aumento na demanda de bens, em detrimento de serviços — que sofreram com as medidas restritivas contra o novo coronavírus. Ele voltou a prever que a inflação deve começar a recuar entre abril e maio.

O presidente do BC disse ainda que a demanda por energia também foi muito maior que a esperada, e há gargalos para atendê-la, com preços altos. "É difícil fazer uma transição verde rápida de energia sem aceitar preços maiores", afirmou. "Mesmo que o preço da energia se estabilize no curto prazo, o patamar seguirá alto."