Economia

Mercado monitora o risco de Selic acima de 14% como na crise de 2015

Essa perspectiva, considerada impensável até antes da disparada de commodities (matérias-primas em dólar) deflagrada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, já é um risco acompanhado pelo mercado.

Agência Estado
postado em 19/03/2022 09:50

A marcha das expectativas de inflação para níveis cada vez mais distantes das metas perseguidas pelo Banco Central (BC) acendeu um alerta para o risco de a taxa Selic renovar o seu último pico nominal, de 14,25% ao ano, ainda este ano. Essa perspectiva, considerada impensável até antes da disparada de commodities (matérias-primas em dólar) deflagrada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, já é um risco acompanhado pelo mercado.

Economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, são unânimes ao dizer que um novo pico de juros exigiria piora adicional do quadro de inflação. Para acomodar um novo choque, a política monetária poderia ter de avançar novamente em direção ao último pico, considerando que a mediana do mercado para o fim do ciclo já se encontra em 13,25%, a apenas 1 ponto porcentual da marca.

Nas contas do ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC Alexandre Schwartsman, seria necessária uma Selic terminal entre 13,5% e 14,0% - praticamente encostada no último pico - para levar a inflação ao centro da meta no ano que vem. O economista ressalva que há dúvidas sobre se a autarquia estaria disposta a sancionar juros neste nível, considerando a sinalização do último comunicado de que 12,75% seria um nível suficiente para promover a convergência.

"Fica minha dúvida sobre se o BC vai estar disposto a dar mais juros do que isso. Se não der, não vamos convergir no ano que vem", resume Schwartsman. Com juros de 12,75%, o economista estima que o IPCA de 2023 deveria ficar em torno de 3,70%, em linha com o mais recente relatório Focus, mesmo que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha estimado, neste cenário, uma inflação de 3,10% em 2023, se houver desaceleração do petróleo.

Na mesma linha, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, calcula que a taxa Selic precisaria ficar acima de 13,5% no fim do ciclo para promover a convergência da inflação para o centro da meta no ano que vem e ancorar as expectativas em horizontes mais longos. Mas o analista observa que o BC parece estar disposto a promover um ciclo de aperto mais suave e tolerar um IPCA pouco acima do alvo no ano que vem.

Contra uma disparada da Selic acima de 14,0%, pesa o nível já elevado dos juros reais, acima do observado quando a taxa atingiu o último pico. Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal, essa dinâmica torna improvável uma volta dos juros aos níveis de 2015 e 2016.

Para João Savignon, economista da Kínitro, uma retomada do último pico histórico é um risco cada vez mais improvável dado o avanço do horizonte relevante da política monetária, que já deve começar a mirar também o ano de 2024 a partir do segundo semestre. Como o BC só tem mais duas reuniões até junho, elevar a Selic de 11,75% para um nível acima de 14,0% exigiria acelerar o ritmo de aperto monetário.

"Teria de ter algo a mais, uma nova rodada de pressão, ou a escalada de preços de commodities se mantendo por mais tempo", avalia. "Eu tenderia a acreditar que, se em março, no olho do furacão, o BC optou por desacelerar o ciclo para 1,0 ponto, é muito difícil voltar a acelerar."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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