BC projeta mais inflação

Fernanda Strickland Michelle Portela
postado em 25/03/2022 00:01
 (crédito:  Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O Banco Central promoveu ajustes em suas projeções para o mercado de crédito em 2022 e reduziu as previsões de crescimento, diante de um temor de juros cada vez mais elevados. A instituição alterou, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), a estimativa de inflação para o ano de 2022, calculada com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 4,7% para 7,1%. A projeção para o saldo total de crédito este ano foi alterada de 9,4% para 8,9%.

O relatório deixou a janela aberta para novas previsões caso o cenário de pressão inflacionária permaneça. De acordo com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, entre os principais fatores para possíveis novas altas estão o preço das commodities em dólar e os recursos energéticos.

"O Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques. Caso esses se provem mais persistentes ou maiores que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário", explicou Campos Neto.

Entre os fatores que influenciam a alta da inflação e estimulam as incertezas num cenário futuro estão a pressão sob a inflação do "custo" da guerra entre Rússia e Ucrânia, que completou 30 dias ontem.

Energia elétrica

Nesse contexto, o Banco Central destacou a bandeira de energia elétrica como fator decisivo para a inflação nos próximos meses. "O ambiente se deteriorou substancialmente", reconheceu o presidente da autoridade monetária. "Em particular, o choque de oferta decorrente do conflito tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias, que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas. A maioria das commodities teve avanços relevantes em seus preços, em particular as energéticas", avaliou Campos Neto.

Desde o ano passado, a conta de luz tem castigado o bolso do brasileiro, com a cobrança da "supertarifa" em razão da crise hídrica. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o valor da taxa extra é de R$ 14,20 pelo consumo de 100 kWh, válido desde 1º de setembro de 2021 até 30 de abril de 2022. Antes dela, o valor cobrado era de R$ 9,492.

Entre especialistas, há dúvidas sobre o impacto positivo do fim da medida. Segundo Renato Queiroz, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e conselheiro do Instituto Ilumina, a retirada da bandeira de escassez hídrica deve ter efeito limitado no orçamento do consumidor.

"No ano que passou, houve uma seca maior. Aí, eles notaram que a bandeira vermelha — o último patamar — não ia ser suficiente. Criaram então uma bandeira de escassez, que encareceu a conta", relembrou o especialista. "Já se sabia que as distribuidoras teriam mais deficit, tanto é que já há outros aumentos. Vamos deixar uma bandeira tarifária de escassez hídrica para ter um aumento maior", comparou. Atualmente, o governo justifica a taxa pela falta de água nos reservatórios. Na quarta-feira, o Subsistema Sudeste e Centro-Oeste operava em 62,39% da capacidade e o Subsistema Sul, com 36,43%.

Crédito

O Banco Central (BC) também promoveu ajustes em suas projeções para o mercado de crédito em 2022, de acordo com o RTI. A instituição alterou sua projeção para o saldo total de crédito este ano de 9,4% para 8,9%. Dentro do crédito total, a projeção do saldo de operações com pessoas físicas passou de 11,7% para 11,2%. No caso das empresas, a expectativa foi de 6,3% para 5,7%.

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