Mudança na estatal é vista com ceticismo

Correio Braziliense
postado em 29/03/2022 00:01

Indicado para assumir a presidência da Petrobras, Adriano Pires é doutor em Economia Industrial pela Universidade Paris XIII (1987), mestre em Planejamento Energético pela COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (1983) e economista formado pela UFRJ (1980).

O atual diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura atua há mais de 30 anos na área de energia. Sua última experiência no governo foi na Agência Nacional de Petróleo (ANP), onde atuou como assessor do diretor-geral, superintendente de Importação e Exportação de petróleo, seus derivados e gás natural e superintendente de Abastecimento.

Para a presidência do conselho de administração da estatal, o governo Bolsonaro indicou Rodolfo Landim, presidente do Flamengo. Ele ocupará o lugar do almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que pediu para sair alegando razões pessoais. Landim é ex-funcionário da Petrobras, onde trabalhou por 26 anos antes de se juntar ao antigo grupo empresarial de Eike Batista.

Entre os parlamentares que reagiram à troca de comando da Petrobras, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), disse que o presidente demorou para substituir tanto Silva e Luna quanto Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação.

"Tanto na Educação quanto na Petrobras, o governo reage de forma lenta, tardia, reativa e nunca de forma estratégica, com algum plano exposto à sociedade", disse, ressaltando que o presidente aposta suas cartas na mudança de política de preços dos combustíveis para tentar reverter sua popularidade.

Equação difícil

André César, cientista político, sócio da Hold Assessoria, observou que a estratégia de Bolsonaro é similar à do começo de 2021, quando trocou Roberto Castello Branco, também demitido pela insatisfação do presidente com a política de preços da estatal.

"A pressão sobre Luna era grande desde a eclosão na Ucrânia com o preço do brent. Mas é um movimento muito parecido com o que ele fez no começo de 2021, com Castello Branco. Há um impacto imediato no mercado, uma turbulência", analisou.

"Nessa política populista, de olho nas eleições, Bolsonaro vai pressionar o novo presidente seja quem for, a adequar os preços para jogar o jogo dele. Aí sim, se ele fizer isso, a empresa perde valor no mercado. Esse é um problema", alertou. Antes do fechamento pós-mercado, a Petrobras perdeu mais de 2,63% nas ações mais negociadas e, com isso, era a principal responsável pela baixa do Ibovespa após oito pregões no azul.

Sobre Adriano Pires, o analista ressaltou que o indicado é um dos maiores conhecedores de petróleo no país. "Conhece como ninguém o mercado, tem experiência mas acredito que ele também peça autonomia para trabalhar como tem que ser feito. É uma proposta interessante. Seria ótimo para a empresa, desde que ele tenha autonomia. Vai ser uma equação difícil de fechar", ponderou.

O diretor geral da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco, também reconheceu a qualificação de Pires, mas apontou que Bolsonaro procura alguém que o obedeça. "O presidente desejava que a Petrobras baixasse os preços dos combustíveis imediatamente após a queda do valor do barril do petróleo no mercado internacional, o que não ocorreu. Adriano tem um ótimo currículo e competência para presidir a Petrobras. Mas isso pouco importa. Se ele não fizer o que o presidente quer, será o próximo demitido. Estamos no vale tudo eleitoral. Quem não seguir a cartilha de Bolsonaro e do Centrão será defenestrado. Simples assim", concluiu. (IS , MP e CN)

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