O desabafo de Silva e Luna

Victor Correia
postado em 30/03/2022 00:01
 (crédito: ANDRE DUSEK/ESTADAO     )
(crédito: ANDRE DUSEK/ESTADAO )

Demitido do comando da Petrobras pelo presidente Jair Bolonsaro, o general Joaquim Silva e Luna enviou um recado para os agentes públicos que pretendem influenciar na política de preços adotada pela estatal.

"As pessoas estão com excesso de informação, déficit de atenção, de paciência", disse Silva e Luna. "[A Petrobras] está bem cuidada, tem uma governança muito forte. Não tem espaço para um aventureiro", comentou o militar.

Silva e Luna falou sobre a Petrobras durante palestra no 2° Seminário O Brasil em Transformação, realizado ontem nas novas instalações da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados da Justiça Militar da União (Enajum), inauguradas logo antes do seminário. A plateia era composta majoritariamente por militares.

Silva e Luna não comentou a exoneração definida pelo Planalto. Na segunda-feira, Bolsonaro tirou o general do cargo por insatisfação com o aumento de até 33% no preço dos combustíveis anunciado pela estatal, no último dia 10. A gestão da Petrobras foi pesadamente criticada por políticos, como os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Silva e Luna procurou expor um legado positivo da sua gestão e eximiu-se da responsabilidade pelo aumento de preços. "Até 1997 havia um monopólio, mas fazem 25 anos que a empresa compete livremente. Desde então, os preços passaram a ser determinados pelo mercado. Temos passado 25 anos com dificuldade de explicar isso para a população", afirmou o general.

PPI

Ele comentou o Preço de Paridade de Importação e os procedimentos adotados pela petroleira. "A PPI é política de preços para importação e é apenas uma referência, pelo amor de Deus. Nós ficamos 57 dias sem alterar os preços dos combustíveis. Nós informamos ao governo, deu toda essa confusão", lamentou o general.

Silva e Luna descreveu como entende a atuação da Petrobras. "A Petrobras deve atuar como uma empresa privada e deve praticar preço do mercado conforme a legislação vigente", disse. "Tem responsabilidade social? Tem. Pode fazer política pública? Não. Pode fazer política partidária? Menos ainda", completou.

Para o executivo, tais medidas caberiam ao governo, que teria ainda a responsabilidade de arcar com os prejuízos. "Se o acionista majoritário quiser que se faça outro preço, que o faça e, então, que ressarça a empresa. Foi o que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018", lembrou Silva e Luna.

O general alertou que a prática de controlar o preço dos combustíveis causou R$ 40 bilhões em perdas para o país entre 2010 e 2015, principalmente por investidores. "O mercado vai ficar com medo de intervenções nos preços da empresa. Como eu vou investir em um país que não tem estabilidade?", disse.

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