Custo de vida

Reajuste nos combustíveis eleva pressão inflacionária

Superaumento nos combustíveis anunciado pela Petrobras leva analistas a estimarem as projeções para acima de 7% em 2022. Apesar da péssima notícia para os brasileiros, governo comemora votação no Congresso que altera arrecadação do ICMS

A Petrobras anunciou novo aumento nos combustíveis, de até 24,93%, após 57 dias sem mexer no preço cobrado nas refinarias. Os novos valores valem a partir de hoje. O gás de cozinha também vai sofrer correção, depois de 152 dias sem reajuste.

Este é o segundo aumento do ano e o 13º da gasolina desde janeiro de 2021. O tamanho do reajuste não era esperado pelo mercado, que previa aumento gradual, começando com, no máximo, 15%, de acordo com analistas.

O preço médio do diesel nas refinarias terá reajuste de 24,93%, para R$ 4,51 o litro. O botijão do gás de cozinha, de 13kg, foi corrigido em 16,06% por quilo, passando para R$ 58,21. Enquanto isso, o preço médio da gasolina será corrigido em 18,77%, para R$ 3,86 o litro. Pelas estimativas de analistas, o impacto desse reajuste no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), varia de 0,55 ponto percentual até 1,0 ponto percentual.

O tarifaço tem tamanho parecido com o que ocorreu em maio de 2018, período em que os caminhoneiros decretaram uma greve nacional, que abalou o país. Nos 12 meses terminados no quinto mês daquele ano, o diesel acumulava elevação de 25,5%, conforme estimativas do economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. Ou seja, em apenas um dia, a Petrobras reajustou o valor do diesel quase na mesma proporção do aumento reclamado pelos caminhoneiros, que, ontem, pisaram mansinho e ficaram restritos às redes sociais.

Antes do reajuste de ontem, o litro do diesel tinha acumulado alta de 32,5% em 12 meses. Perfeito acredita que nem todo o aumento de 24,9% divulgado pela Petrobras será repassado para os postos. O aumento final deve ser de 18,34%. Se confirmada essa previsão, a alta acumulada do diesel saltará para 56,7%. Mas se os os postos repassarem aos caminhoneiros todo o aumento promovido pela Petrobras, o reajuste acumulado em 12 meses passará para 65,8%, quase o triplo da elevação que empurrou os motoristas de caminhão a desligarem os motores durante o governo de Michel Temer.

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Choques de preço

Desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, as cotações do petróleo dispararam. O preço do barril do petróleo chegou a ser negociado acima de US$ 130, um salto de mais de 100% dos valores praticados há um ano. A boa notícia é que o outro componente dos preços dos combustíveis, o dólar, está com as cotações em baixa, próximas de R$ 5, o que tem amenizado o impacto desse choque de preços.

Não à toa, diante do choque de preços das commodities o mercado não para de elevar as projeções de inflação — que já estão acima do teto da meta, de 5% — e da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,75%, que passou a ter um piso de 13%, em dezembro deste ano. Não por acaso, após o aumento da Petrobras, as novas estimativas para o IPCA deste ano superam 7% e caminham para 8%.

Após o reajuste da Petrobras, Marco Antonio Caruso, economista-chefe do Banco Original, elevou de 6,20% para 6,55% a previsão para o IPCA deste ano. "A revisão não é maior porque uma parte desse reajuste já estava na conta", explicou. O maior impacto é da gasolina, cujo reajuste de 18,7% implicará em 0,42 ponto percentual a mais no indicador do custo de vida. Para o diesel, esse impacto é de 0,03 ponto; para o gás de cozinha, de 0,10 ponto.

Caruso descreveu um possível cenário futuro. "A tendência é que a inflação continue elevada e no patamar de dois dígitos até maio, se a guerra não se prolongar", alertou. "Quando o preço dispara desse jeito, o que ocorre depois é uma recessão, porque nenhuma economia, mesmo as desenvolvidas suportam um reajuste dessa magnitude por muito tempo", acrescentou.