Trabalhar em um ambiente completamente masculinizado, como o transporte aéreo, não é problema para Izabel Reis, diretora da Azul Cargo Express. Com passagens pela Varig e pela Avianca, a executiva considera que ser mulher é uma vantagem no ramo da logística.
"Neste momento da carreira, o fato de ser mulher me ajuda bastante, pois, nós mulheres, temos um outro olhar sobre as relações interpessoais. A empatia é uma das nossas principais características", destaca a executiva, que sonhava em ser piloto.
Na avaliação de Izabel Reis, "o perfil feminino traz muita coisa que agrega ou que melhora bastante o ambiente corporativo". "De que o futuro será das mulheres, eu não tenho dúvida, mas ainda acredito que a diversidade no ambiente de trabalho, com mix de pessoas e culturas distintas, é benéfico para a empresa e para o próprio colaborador", frisa.
Formada em administração e com MBA em Gestão Estratégica de Negócios na tradicional Fundação Dom Cabral, a executiva está na Azul desde setembro de 2009. Atualmente, é diretora da unidade de logística da companhia, a Azul Cargo Express, e, em sua gestão, a empresa vem apresentando recordes de crescimento de receita.
Durante a pandemia, conduziu uma equipe de mais de 500 tripulantes que promoveu o transporte de itens essenciais como respiradores, medicamentos, kits de intubação e milhões de doses de vacinas contra a covid-19. De perfil tranquilo e moderado, Izabel Reis se destaca na liderança e na gestão de pessoas com foco em resultados.
"O negócio de logística ainda é muito masculinizado e, por isso, precisamos estar sempre provando ser capazes, mostrar que temos boas idéias, e que elas trazem resultados positivos", afirma.
Como mulher, em uma área tão masculina, que é o transporte aéreo de cargas, foi muito difícil conseguir chegar aonde chegou? Que lições tirou desse processo?
Foi muito desafiador, afinal, esse sempre foi um ambiente muito masculinizado. Quando ingressei na Azul, precisei realizar uma reestruturação e tive a oportunidade de trazer novas pessoas para trabalharem comigo, e também trouxe mulheres de várias outras empresas. O fato de ser mulher me ajuda bastante, pois nós, mulheres, temos um outro olhar sobre as relações interpessoais. A empatia é uma das nossas principais características. Quando cheguei à Azul, observei e acompanhei todos os processos antes de qualquer tomada de decisão. Essa também é característica que predomina em mulheres: nós somos mais observadoras.
O negócio de logística ainda é muito masculinizado e, por isso, precisamos estar sempre provando ser capazes, mostrar que temos boas idéias, e que elas trazem resultados positivos. Muita coisa já mudou, mas ainda há muito o que melhorar. Hoje, já vemos muito mais colegas de mercado em posições de diretoria e de vice-presidência.
Quais foram os maiores desafios na sua trajetória para alcançar a posição atual?
Peguei a Azul Cargo em um momento de reestruturação e com algumas operações que ainda não eram tão rentáveis, então, precisei fazer muita transformação neste ponto. E trouxe muitas mulheres capacitadas para trabalharem comigo, com o objetivo de fazer uma "grande mistura" de homens e mulheres no ambiente corporativo. Um ambiente diverso traz visões completamente diferentes e ajuda a montar o quebra-cabeça que é tornar uma empresa sustentável em operação e convivência.
Toda minha carreira foi marcada por desafios, alguns maiores, outros menores. Várias vezes, me vi em reuniões com mais de 30 homens em uma sala, por horas, para decidir trocar de sistema. Esse aprendizado é muito bom e engrandecedor, e assumo que, em alguns momentos, ele traz alguma insegurança pessoal, mas nada que atrapalhe nossa evolução.
O mundo é das mulheres?
As mulheres estão assumindo lugares importantes na logística, e o perfil feminino traz muita coisa que agrega ou melhora bastante o ambiente corporativo. No passado, meu sonho era ser piloto de aeronave, mas não pude, justamente porque, na época, era uma profissão 100% de homens, além de o curso ser muito caro. Minha trajetória sempre foi de muita luta e dedicação, de brigar pelo que eu queria. Sempre precisei provar que era boa nas coisas que fazia. Cheguei aonde cheguei por mérito e não por indicações. Não tenho formação no exterior e sempre precisei pagar meus estudos. Investir em mim sempre foi uma prioridade.
A trajetória nunca é fácil. Sempre estive em cargos de liderança. Sou uma pessoa voltada para as pessoas e relações, e isso me trouxe muita percepção do negócio, das pessoas e de como dirigir ambientes diversos. O fato de ser mulher contribuiu para chegar aonde cheguei.
Com o empoderamento feminino cada vez mais forte na sociedade, estamos vendo a mulher brigando para que sua capacidade seja levada em consideração. Estamos em pé de igualdade com os homens para assumir qualquer posição. Que o futuro será das mulheres, não tenho dúvida, mas acredito que a diversidade no ambiente de trabalho, com mix de pessoas e culturas distintas, é benéfico para a empresa e para o próprio colaborador.
A Azul vem fazendo o transporte de cargas das vacinas contra a covid-19. Como foi participar da operação tão importante que vem salvando vidas e ajudando a economia a se recuperar? Tem muitas mulheres envolvidas nessa operação?
Pessoal a profissionalmente, foi um momento enriquecedor para todos os envolvidos nessa operação. A Azul fez e faz parte desse momento de união no combate à pandemia, tanto para transportes de vacinas quanto de insumos para abastecimento das redes hospitalares. Tivemos muitas mulheres envolvidas em todas as etapas.
Como a senhora avalia a atual conjuntura, em meio à crise global por conta da guerra na Ucrânia? E os impactos para o Brasil e para o setor aéreo desse conflito? É possível ser otimista com o Brasil?
Não entra na minha cabeça como não se consegue resolver as coisas de outra forma. Estamos ainda em uma pandemia e, agora, vivenciando uma guerra. Isso impacta muito no setor aéreo, porque as pessoas ficam receosas de viajar, sem falar no alto custo do combustível e do dólar. Porém, a Azul tem uma capacidade muito importante de reação, e isso faz total diferença na crise.
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