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'Governo é ameaça ao biodiesel'

O diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, afirmou ontem que "o governo é, hoje, a maior ameaça ao setor" — uma cadeia produtiva que, no ano passado, movimentou R$ 10,5 bilhões, o equivalente a 2% da atividade agroindustrial.

Em entrevista ao CB Agro, programa feito em parceria pelo Correio e pela TV Brasília, Tokarski lembrou que, em novembro, o presidente Jair Bolsonaro aprovou uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que estabelece o teor de mistura obrigatória do biodiesel no óleo diesel em 10% para o ano de 2022, frustrando integrantes da indústria, que esperavam uma reversão da medida.

O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel previa o uso de 13% do biocombustível no diesel na maior parte de 2021, o que não aconteceu também por decisão do governo, e a elevação da mistura para 14% em 2022.

Para assegurar a implementação do chamado B14, produtores de biodiesel fizeram altos investimentos na capacidade instalada da indústria. No entanto, como o aumento na mistura não aconteceu, as empresas estão hoje com 52% de ociosidade.

"Quando o governo sinalizou lá atrás que ia ter uma mistura crescente, os empresários acreditaram no governo e investiram. Nós aguardamos imediatamente um retorno que a gente possa retomar imediatamente a 11% da mistura, passar para 12%, 13%, e chegar em março do ano que vem com 15%," afirmou Tokarski.

Tokarski criticou também a intenção do governo de importar biodiesel de outros países na tentativa de reduzir o preço dos combustíveis no mercado interno, enquanto as indústrias brasileiras estão paradas e com pessoas desempregadas no país.

"Hoje nós temos 74 mil famílias da agricultura familiar que fornecem matéria-prima para essa cadeia, favorecendo o desenvolvimento regional", afirmou.

"Nós deveríamos imediatamente aumentar a produção de biodiesel, porque ele não é só um combustível, ele é segurança alimentar, segurança energética, e desenvolvimento regional. Nós temos em todas as regiões do Brasil, no interior, as indústrias do biodiesel, então, estamos diversificando a matriz energética", assinalou. No Brasil, há diversas matérias-primas potenciais para produção de biodiesel: soja, girassol, algodão, mamona e óleos residuais, entre outras.

"Mas não podemos olhar para o futuro sem valorizar o presente. Que industrial vai querer colocar outras indústrias de aqui, vendo um processo de estagnação e desconstrução da política pública do biodiesel?", questionou o diretor.

Meio ambiente

O uso do biodiesel traz ainda benefícios ambientais, observou Tokarski. Segundo ele, estudos mostram que o produto pode reduzir em até 90% as emissões de gases de efeito estufa, comparado com o diesel fóssil, derivado do petróleo.

O diretor da Ubrabio citou uma pesquisa da OMS apontando que, a cada ano, cerca de 51 mil brasileiros morrem em razão de doenças decorrentes ou intensificadas pela exposição a altos níveis de poluentes. Os impactos da poluição do ar na saúde estão conectados com a incidência de mortes prematuras, doenças pulmonares e cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais.

"Um grande erro nessa história é a falta de uma contabilidade socioeconômica ambiental e de saúde pública. Quando se olha apenas para o preço do biodiesel na bomba, deixa-se de olhar o que está por trás disso, por exemplo, a poluição", disse Tokarski.

* Estagiária sob a supervisão
de Odail Figueiredo