conjuntura

Brasileiro vai pagar a conta pela alta da taxa de juros

Ao encarecer ainda mais o custo do crédito, elevação continuada da taxa Selic, que deve chegar hoje a 12,75% ao ano, vai conter o consumo das famílias e anular o efeito da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados, dizem analistas

Rosana Hessel
postado em 04/05/2022 06:00 / atualizado em 04/05/2022 14:19
 (crédito: Editoria de ilustração)
(crédito: Editoria de ilustração)

Na terceira reunião deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai decidir, hoje, a nova taxa básica de juros da economia (Selic), atualmente em 11,75% ao ano. O consenso do mercado é de que a taxa passará para 12,75%, o patamar mais elevado desde abril de 2017. Será o 10º aumento consecutivo na Selic, num ciclo de aperto monetário iniciado em março de 2021, quando ela estava no piso histórico de 2%. E são crescentes as apostas de que a freada nesse ciclo só deverá ocorrer em agosto, com a Selic podendo chegar a 14%, diante das sucessivas surpresas na inflação oficial, que já passou de 12% na prévia de abril.

Com isso, não há dúvidas de que o consumidor é quem vai pagar a conta, pois a alta da Selic impacta diretamente no custo do crédito — e também no bolso do contribuinte, já que, com juros maiores, o custo da dívida pública ficará mais caro.

As perspectivas macroeconômicas não são animadoras, pois o Produto Interno Bruto (PIB) não deve crescer mais do que 1% neste ano. A mediana das estimativas dos analistas consultados no boletim Focus, do Banco Central, prevê avanço do PIB de 0,70%, com a taxa Selic encerrando dezembro em 13,25%. Com taxas de juros nesse patamar, o consumo das famílias, principal motor do PIB, não vai decolar.

Conforme dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o endividamento das famílias atingiu novo pico histórico em abril, de 77,7%. E, segundo dados do Banco Central, o comprometimento da renda das famílias com dívidas chegou a 52,6% — maior patamar desde o início da série, em janeiro de 2005.

economia selic
economia selic (foto: pacifico)

Por conta disso, analistas destacam que o brasileiro dificilmente vai querer contrair mais dívidas para comprar um carro ou trocar o eletrodoméstico, mesmo com a ampliação de 25% para 35% do corte no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), recém anunciado pelo governo.

"Essa redução no IPI não vai refrescar, basicamente, nada, porque a inflação está comendo a renda, o desemprego continua elevado e os juros estão altos e vão continuar subindo", afirmou Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Na avaliação de Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), apesar de a redução do IPI ser positiva, tanto para o consumidor quanto para a indústria, o efeito da medida pode ser neutralizado pelo crédito mais caro. "Infelizmente, a queda do imposto não propicia o crescimento do consumo, mesmo baixando o preço dos produtos. A redução do IPI não deve compensar a alta dos juros. Sem falar que os bancos estão cada vez mais restritivos para a concessão de crédito", destacou.

Fabio Bentes, economista sênior da CNC, prevê mais uma ou duas altas da Selic, o que será ruim para um cenário de PIB fraco. "E ainda temos a deterioração das condições econômicas. Um ano eleitoral sempre cria distúrbios nos principais indicadores. O emprego tem recuado lentamente e o rendimento do trabalhador está caindo. Isso significa um estímulo a menos para a ampliação do consumo, que também se retrai diante de um cenário com juros cada vez mais mais altos", explicou Bentes. Pelas estimativas dele, o consumo praticamente não deve aumentar neste ano, pois a taxa prevista pela CNC, de 0,9%, é, basicamente, o crescimento vegetativo.

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