O presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, confirmou, ontem, um dia após as fortes críticas feitas à companhia pelo presidente Jair Bolsonaro, que a estatal vai manter a política de preços de mercado para calcular o valor dos combustíveis vendidos ao consumidor brasileiro.
Na quinta-feira, a estatal anunciou que teve lucro de R$ 44,65 bilhões no primeiro trimestre, valor 3.718% maior que o do mesmo período de 2021, de R$ 1,16 bilhão. No mesmo dia, em live nas redes sociais, Bolsonaro classificou os ganhos da estatal como "um estupro" e afirmou que a empresa não deveria aumentar mais os preços dos combustíveis para não "quebrar o país".
A Petrobras adota a chamada política de paridade internacional (PPI), que nivela os preços do mercado interno às cotações internacionais do petróleo e dos derivados. Apesar das críticas de Bolsonaro, a defasagem dos valores praticados no país e as cotações no mercado externo já é maior do a registrada na data do último aumento, em 10 de março, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
O diretor de Comercialização de Logística da Petrobras, Cláudio Mastella, afirmou porém, que a empresa espera uma "estabilização" da defasagem de preços dos combustíveis em relação aos preços internacionais para definir novos valores no mercado interno.
Mauro Coelho negou que os resultados da companhia tenham sido determinados apenas pela receita com a venda de combustíveis e defendeu a política de preços da empresa. "Não é só preço do barril. É uma gestão responsável que tem sido feita nos últimos anos, com redução de custos e endividamento. Não podemos nos desviar da prática de preços de mercado. É uma condição necessária para a geração de riqueza não só para a empresa, mas para toda a sociedade brasileira, fundamental para a atração de investimentos ao país e para garantir o suprimento dos derivados que o Brasil precisa importar", disse.
Coelho explicou que 80% dos ganhos do primeiro trimestre vieram da atividade de exploração e produção de petróleo, e 20% dos demais segmentos. Ele frisou ainda que, no período, a Petrobras pagou R$ 70 bilhões em tributos para a União, os estados e municípios — uma vez e meia o valor do lucro líquido. "Um bom resultado da Petrobras repercute também para a sociedade como um todo. Isso gera investimentos em saúde, saneamento, transporte e uma série de outros investimentos importantes", argumentou.
Nessa sexta-feira, completaram-se 57 dias desde o último reajuste da companhia, ocorrido no dia 10 de março. Na ocasião, o aumento de preços foi anunciado também 57 dias após a correção anterior, sob o argumento de que a estatal não podia mais sustentar a defasagem entre preços internos e externos. Segundo a Abicom, a defasagem média é, atualmente, de 21% no óleo diesel e de 17% na gasolina. A entidade indica que o mercado internacional e o dólar pressionam os preços domésticos.
Etanol
Para o pesquisador Tiarajú de Freitas, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a decisão da Petrobras de reajustar ou não os preços está vinculada diretamente à volatilidade do petróleo. Como as cotações do barril do petróleo e do dólar variaram negativamente em abril, a empresa precisará calcular o impacto dessa variação. No entanto, Freitas chama a atenção para outro fator: os preços do etanol, que entra com 27% na composição da gasolina e deve entrar em tendência de baixa.
"Vejo chances de queda pelo lado não volátil que forma o preço da gasolina no Brasil, no caso a redução do preço do álcool anidro em face da colheita da safra de cana-de-açúcar, mais do que pelo lado volátil motivado pela guerra da Rússia com a Ucrânia", avalia o pesquisador.
Assim, o início da colheita da nova safra da cana e a maior oferta da matéria-prima para a produção do etanol poderiam atenuar a alta da gasolina ao consumidor.
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