Ficção na Petrobras

Rosana Hessel
postado em 14/05/2022 00:01

Para tentar conter a insatisfação popular com os constantes reajustes dos combustíveis, o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciaram o encaminhamento de estudos para a privatização da Petrobras. Mas especialistas não veem qualquer possibilidade de redução dos preços na bomba com essa estratégia.

Sachsida foi escolhido para substituir Bento Albuquerque na quarta-feira, um dia após a Petrobras autorizar o reajuste no preço do diesel, de 8,87%. Ao tomar posse, o novo ministro disse que sua prioridade será a privatização da Petrobras e da Pré-Sal Petróleo SA (PPSA).

A privatização da Petrobras não está sendo levada a sério pelo mercado, especialmente pelo atropelo do anúncio em ano eleitoral. Analistas ainda lembram que o processo pode levar anos, em razão da complexidade. No caso da Petrobras, a privatização precisa ser aprovada pelo Conselho de Administração, pelos funcionários da estatal e pelo Congresso Nacional. Há um consenso de que o governo não conseguirá avançar com essa ideia neste ano.

"É uma cortina de fumaça. Não tem como fazer essa privatização no curto prazo, muito menos, nos meses que sobram neste governo", destacou a economista e advogada Elena Landau, responsável pelo processo de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). "Esse estudo do ministro novo é um ato político. Não dá para levar a sério em um ano eleitoral. É muito mais para desviar o foco do reajuste do diesel e, possivelmente, da gasolina que está para acontecer", acrescentou Julio Hegedus, economista-chefe da coreana Mirae.

Especialistas alertam sobre os riscos de a medida elevar ainda mais os preços na bomba, uma vez que o custo do barril do petróleo tem subido, em grande parte, devido à guerra na Ucrânia. Além disso, o mercado de petróleo é cartelizado e, portanto, pouco competitivo. A Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) controla os preços globais, aumentando ou reduzindo a produção de acordo com os próprios interesses.

"Pensar que a privatização da Petrobras vai baixar os preços dos combustíveis é ideia de jerico. A empresa privatizada certamente se associaria ao cartel do petróleo, a Opep, e iria transferir os choque de preços integralmente para dentro da economia. O petróleo não é mexerica, mas, sim, um insumo universal que afeta todas as cadeias produtivas e afeta diretamente os consumidores", explicou o economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O deputado federal Paulo Ramos (PDT-RJ) protocolou, ontem, um pedido para que o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, explique na Câmara as razões de sua exoneração da pasta. Ramos lembrou que o governo federal exerce o controle da Petrobras, portanto, tem responsabilidade sobre a alta dos preços dos combustíveis.

"O governo não pode continuar mentindo ao povo brasileiro. Se quisesse reduzir o enorme lucro da Petrobras, que superou R$ 44 bilhões, como tem a maioria da diretoria e do Conselho de Administração, poderia adotar uma política para retomar a produção de refinarias com capacidade ociosa, substituindo as importações de derivados", afirmou.

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